A paixão falou mais alto e Viviane volta a estudar aos 44. Filhos seguem o exemplo
Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de JornalismoRetomar os estudos depois de uma certa idade não é uma escolha fácil. São inúmeros os motivos que fazem uma pessoa parar de estudar: o trabalho, a falta de tempo, a família ou as condições financeiras. São fatores que pesam na balança e muitas vezes o sonho de fazer uma faculdade acaba ficando para depois. O tempo passa, e quem já está na casa dos 40 ou 50 anos pode até achar que nem vale mais a pena voltar a estudar.
Foi o que ocorreu com a Viviane Bis Oliveira, de Curitiba (PR), que em 1993 trancou o ensino médio técnico em patologia clínica. Primeiro vieram as complicações financeiras, e depois um casamento que deu início a uma nova família. Acontecimentos que transformam a vida de qualquer mulher.
A retomada aos estudos apareceu como uma oportunidade repentina. Em 2013, Viviane decidiu que queria ao menos terminar o ensino médio. Ela começou a estudar em casa, por conta própria, lendo resumos de livros e se inteirando sobre atualidades com os jornais. Inicialmente, seu objetivo era apenas fazer a prova do Enem para concluir o ensino médio, mas uma indicação fez Viviane ir adiante.
O primo do esposo da Viviane, Rafael Ferreira, que trabalha na Uninter, lhe contou que havia bolsas remanescentes do Programa Universidade para Todos (Prouni). “Fiz o Enem apenas com a intenção de concluir o ensino médio. Mas aquela vontade que eu tinha de fazer um curso superior ficou batendo na minha cabeça, e então resolvi voltar”, conta ela.
Viviane diz que a decisão de retomar os estudos recebeu o apoio do esposo, Orlando, e dos filhos. Ela é mãe de 3 meninos. Giuliano, o mais velho, que tem 24 anos, Luiz Eduardo, de 14, e João Vítor, de 10 anos. “Antes de fazer a matrícula, eu conversei bastante com eles, e eles me apoiaram aqui em casa. O restante da família, como primos e tios, dizia ‘Ah, você não vai conseguir, você está muito velha’, aquilo de sempre, sabe? Toda família tem as pessoas negativas. Mas eu falei: eu vou entrar com a cara e a coragem, se eu não conseguir, eu não posso chegar lá na frente e dizer que não tentei. Não procuro perder as oportunidades que aparecem, então agarrei com tudo”, ressalta Viviane.
Então, depois de 26 anos longe das salas de aula, aos 44 Viviane ingressou no curso de Administração na Uninter, em de 2019, no polo Garcez (PR), na modalidade presencial. Ela sempre quis trabalhar em áreas relacionadas à saúde. Por isso, no passado, optou pelo o curso de patologia clínica. Ela conta que escolheu o curso de Administração porque é uma área que oferece um leque de possibilidades de atuação. “Continuo com interesse na área da saúde. Minha expectativa é conseguir concluir o curso e fazer uma pós em logística ou administração hospitalar. São duas áreas em que gostaria de trabalhar”, destaca.
De mãe para filhos
A atitude da Viviane em retomar os estudos serviu de exemplo para os filhos. Giuliano, o mais velho, se interessou pelo curso por causa da mãe. Ela conta que até o filho do meio, Luiz Eduardo, também pretende fazer um curso técnico em administração.
“Eu estava meio perdido no que eu iria fazer, fiz cursos no Senai quando estava no ensino médio, mas não encontrava a área que eu queria. Quando ela começou a fazer a faculdade, comentou comigo que na administração existe um leque de opções. Então, comecei a observar o conteúdo que ela estudava e me interessei”, afirma Giuliano, que também ingressou no curso de Administração da Uninter, no início de 2021, na modalidade EAD.
Viviane afirma que o principal desafio de fazer faculdade depois dos 40 é a falta de oportunidades de emprego. Ela trabalhou durante 15 anos na área da indústria e agora tenta vagas na área de administração hospitalar. Ela já mandou currículos para vários hospitais da cidade de Curitiba, mas sem retorno. “Em uma entrevista que fiz, inclusive, a entrevistadora disse assim: ‘Infelizmente, não vou poder te contratar por causa da tua idade’. Essa á a parte que pesa mais”, revela.
Apesar disso, Viviane afirma que os contratempos não a desanimam e que está motivada com o curso. Ela ainda ressalta que se dá muito bem com os jovens da sua turma. “Eu me adaptei à turma! A convivência com eles [os jovens] não tem muita diferença, porque a minha cabeça é de 18 anos. Eu sou uma pessoa brincalhona, dou risada junto e brinco junto. A gente se diverte fazendo os trabalhos juntos. Eu acho que eu sou a mais velha da turma. Tanto é que em sala de aula [antes da pandemia] eu sempre costumava dizer: ‘ah, vocês têm tudo a idade do meu filho’ [risos]”, conta a estudante.
Viviane é exemplo de que parar de estudar não é uma opção. A busca pelo conhecimento é constante, independentemente da idade. “A gente tem que correr atrás do que a gente quer e não pensar no que os outros vão dizer, pois sei que muitas pessoas às vezes deixam de correr atrás de seus sonhos por causa do que os outros pensam”, salienta. A estudante destaca que vai continuar a procurar oportunidades na área da saúde, mesmo sabendo dos riscos da profissão em meio à pandemia. “A paixão fala mais alto”, finaliza.
Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal