O filho de pescador se tornou auditor

Autor: Daniela Mascarenhos - estagiária de jornalismo

Esta não é mais uma história de superação, mas sobre a determinação de um menino que percorreu milhares de quilômetros atrás de seus objetivos e não descasou até que alcançasse seu grau de excelência. Nunca foi sobre o emprego ou sobre o dinheiro, mas sobre mudar de vida e olhar para trás sentindo orgulho.

No município de São Nicolau, interior do Rio Grande do Sul, vivia uma família humilde. O pai, Ramão Batista Fernandes, era pescador; a mãe, Joana Florentina da Silva Fernandes, era dona de casa. Viviam em uma casa sem energia elétrica ou água encanada, precisavam utilizar a fonte de água natural que ficava a uma distância de 200 metros de sua residência.

Em 1976, Dane Fernandes nasceu para completar a família. Foi ali, entre as quatro paredes da casinha de madeira, com poucas divisões internas (muitas feitas pelos próprios móveis), que ele cresceu até certa idade. Já grandinho, mudou-se com os pais, a irmã e o irmão para outra casa semelhante no interior do município.

Dane iniciou seus estudos em uma escola rural a três quilômetros da nova moradia. “Na época, não havia transporte escolar e, com isso, deslocava-me a pé, percorrendo trechos de seis quilômetros diários [entre ida e volta]”, conta. Ele fez a primeira e a segunda série nesta escola e, durante esses dois anos, percorria longas distâncias diárias. A caminhada de Dane para sua formação totalizou 2.400 km, o equivalente a ir andando de Pelotas, no Rio Grande do Sul, até a cidade de São Mateus, no Espírito Santo.

“A escola, lembro até hoje, era construída de paredes de madeira e uma sala abrigava duas turmas [primeira e segunda série]”. Dane relembra que a professora dividia o quadro negro em duas partes distintas e, em cada uma, escrevia o conteúdo relacionado a sua respectiva turma.

Passou alguns anos com essa rotina, até que começou a estudar na Escola Estadual de 1º Grau Achilino de Santis, no interior de Santo Antônio das Missões (RS). “Meu primeiro caderno grande, dividido em matérias distintas, meu pai conseguiu comprar quando eu já estava prestes a cursar o ensino médio. Nos demais anos o meu caderno era no formato pequeno, pois os maiores não eram acessíveis naquele momento”, conta.

Da farda para o terno e gravata

O Exército sempre serviu como um divisor de águas para todos que ingressam no serviço militar. É uma nova rotina, novo formato de conduta e com muita ênfase na hierarquia e disciplina. “No começo, a adaptação foi meio difícil. Mas, com o passar do tempo, aquilo que era diferente foi se tornando motivador”, relembra.

E a experiência contribuiu para o seu desenvolvimento. “Fui designado para algumas funções dentro da instituição e realizei alguns treinamentos, onde pude comprovar minha capacidade de fazer algumas atividades com excelência”, comenta. Foi através disso que adquiriu confiança e reconheceu sua própria capacidade de crescer cada vez mais, superando os obstáculos.

Dane serviu em São Luiz Gonzaga (RS), no 4º Regimento de Cavalaria Blindada. Lá, participou do Programa de Qualidade Total, desde sua formatação até a implantação na Unidade Militar em que estava vinculado. Também, esteve presente no processo de migração do modelo físico para o modelo digital que foi implantado nos pelotões. Segundo ele, “mais especificamente, nos Grupos de Combate (GCs) para os fins de treinamento na unidade militar”.

Na época, características como resiliência, trabalho em equipe e ética estavam sendo testados ao extremo. Embora Dane não tivesse essa percepção, hoje, reconhece que permanece carregando consigo tudo o que aprendeu durante esse tempo. “Para alguns, foi um período difícil; para outros, de aprendizagem”, diz.

“Se eu fosse dar um conselho sobre o tempo em que estive vinculado ao Exército, diria que, se o treinamento é difícil, a batalha é fácil. Ou seja, se você pagar o preço da preparação, você conseguirá atingir suas metas”, complementa.

Em 2000, houve um concurso para o Banco do Brasil que há tempos não era realizado. A instituição financeira, naquele tempo, chamava muita atenção pela posição social que seus colaboradores ocupavam e pelos rendimentos que recebiam. “Eu lembro que ser um funcionário do Banco do Brasil era status e que somente pessoas inteligentes conseguiam aprovação neste certame”, conta.

Com esse pensamento fixo em mente e confiando em seu potencial, Dane realizou o concurso e foi convocado para a vaga logo depois, em São Borja (RS). Aos 23 anos, assumiu o cargo de escriturário e, passado algum tempo, subiu para gerente de expediente, integrando a gerência média da instituição. “Para quem veio de uma família do interior, aquilo representava a conquista da minha vida”, diz ele.

Quando aprovado no Banco do Brasil, procurou dedicar-se ao máximo para aprender como o mercado de investimentos funcionava na prática. “Comecei a estudar fortemente renda fixa, renda variável, mercado de opções, mercado futuro, tudo aquilo o que poderia ser útil na minha trajetória. Inicialmente, não estava preocupado com o salário, mas sim em aprender como a métrica de uma instituição financeira funcionava”, explica.

E ele não poderia estar mais certo! O ganho não foi apenas financeiro, os conhecimentos aprendidos dentro da instituição financeira proporcionaram que ele pudesse analisar outros empreendimentos de maneira mais racional. Conhecimentos que foram de grande valia, já que, naquela época, ainda não possuía curso superior. Tendo concluído somente até o ensino médio.

Em 2004, sua vida deu uma nova guinada. “O meu objetivo era conseguir acumular um monte de dinheiro razoável, em que pudesse viver de rendimentos. Só que eu conseguia acumular muito pouco em um ano. Assim, surgiu a necessidade de procurar alguma atividade que rendesse mais e reduzisse o meu tempo de investimento”, explica.

Junto com sua família, começaram a investir em uma atividade ainda desconhecida por muitos naquela época: a silvicultura, ou mais comumente conhecido, o plantio comercial de florestas de eucalipto. “O preço do hectare de terras no município onde nasci era considerado baixo e, com isso, conseguimos crescer de maneira exponencial”, conta.

Após cortadas, as árvores eram vendidas para um frigorífico que atuava no processamento de carnes e derivados. “Esta empresa necessitava de energia [calor] para processamento dos produtos, havendo a necessidade de consumo de madeira para geração da referida energia”, explica.

Começaram com apenas cinco hectares, depois, puderam subir para vinte e cinco. Em um ciclo de sete anos entre o plantio e a colheita, depois mais um ciclo de sete anos de condução da rebrota da árvore plantada, conseguiram conquistar cifras até então inimagináveis. “Tínhamos aprendido a acumular riqueza, e não somente dinheiro”, diz.

No entanto, ele queria mais. Dane foi aprovado em um segundo concurso em 2018, desta vez no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, incialmente para atuar como oficial escrevente. Após um tempo, foi designado para a função gratificada da direção do foro.

Foram essas experiências que proporcionaram ao jovem rapaz, conhecer o sistema. Dedicou-se ao máximo para aprender “como a roda girava”, e com isso “fui aumentando meu capital intelectual, tornando-me cada vez mais competitivo em outras áreas que eu desconhecia e que proporcionavam oportunidades de ganho”.

O investidor se torna auditor

Dane sempre foi alguém que seguia as regras. Além disso, sem muitos amigos na infância, tanto por morar no interior quanto pelo regramento de sua casa. Esses dois fatores o tornaram uma pessoa com muita responsabilidade desde criança.

Somando suas experiências no Exército, com o tempo no Banco do Brasil, valorizando seus acertos e aprendendo com os erros, ele decidiu trocar a estabilidade de um concurso público pela sua independência. Para isso, investiu na carreira de auditor. “A minha preocupação em poder dar uma vida melhor às pessoas com quem eu convivia trouxe um senso de responsabilidade que fica difícil descrever em palavras”, comenta Dane.

A auditoria independente é uma atividade que agrega valor à instituição auditada. O mercado utiliza as informações relatadas pelo auditor independente para tomar suas decisões e, quando estas informações são enviesadas, podem confundir os investidores nesta tarefa. Por isso, a importância de buscar excelência nesta profissão.

Dane acrescenta que “hoje um auditor baseia-se em regras e deve ser independente em relação aos outros e, por isso, acredito fortemente que eu estou encontrando meus princípios nesta função”.

“Hoje, minha rotina é de visitas às empresas auditadas para que eu possa verificar in loco a realização de procedimentos por parte dos empresários”, explica. Diante da avaliação destes procedimentos, o profissional realiza recomendações à administração da entidade auditada para que sejam feitas alterações em atividades que estão em desacordo com a legislação, tanto nacional quanto internacional.

Além de auditor independente, também integra a equipe de professores e coach do Estratégia Concursos, empresa que prepara candidatos para concursos públicos. Entre as atividades desenvolvidas estão acompanhamento especializado, foco em aprendizagem ativa, desenvolvimento de sistema de questões, entre outros.

O acompanhamento é pessoal, por meio do qual cada aluno aponta suas fraquezas e fortalezas e é orientado a obter o melhor desempenho. “No tocante à preparação de material para concurso público, trabalhamos em equipe devido à complexidade dos temas abordados. Por exemplo, a disciplina de contabilidade divide-se em contabilidade geral, contabilidade de custos, contabilidade pública, entre outras”, explica.

“O Estratégia Concursos, assim como qualquer empresa do ramo, busca pessoas que tiveram um desempenho fora da curva”. Dane relembra que, em 2019, recebeu o convite de uma pessoa para integrar a equipe, e como qualquer um que estava nesta atividade de concurseiro, ficou muito agradecido. “Eu nunca acreditei em sorte, azar ou destino. Costumo substituir essas palavras por: foco, estratégia e trabalho. Isso não tem nada a ver com sorte ou jeito, mas sim com busca pela excelência”, pontua.

No meio do caminho, sombra e água fresca na Uninter

Dane manteve seu grau de excelência também na escolha da faculdade para sua graduação. Ele conta que tudo começou em sua visita ao polo da Uninter em São Luiz Gonzaga (RS), onde encontrou o professor João Luiz Gonçalves do Nascimento, gestor do polo. “Eu vi naquele professor a identidade da empresa Uninter: compromisso, respeito ao aluno, excelência no atendimento e outras tantas bandeiras da instituição”, comenta.

“Daquele momento em diante, eu não tive dúvidas que este era o caminho para a conquista dos meus objetivos”, diz. Dane viu no gestor do polo também foi uma fonte inspiração termos de experiência profissional, pois tem uma bela história de vida e sempre se mantém aberto a novos aprendizados e desafios.

A educação a distância traz algumas transformações se comparado ao modelo tradicional. “É exatamente isso o que chama atenção nos dias de hoje. O uso de novas ferramentas, alinhadas com o conhecimento transmitido a uma velocidade semelhante à da luz, faz com que se consiga atingir objetivos inimagináveis em um curto espaço de tempo”, destaca Dane.

O aluno conta que costuma dividir sua trajetória entre antes e depois da Uninter. “Não estou usando uma metáfora ou algo parecido, mas explicitando aquilo que funciona em termos reais. Se funciona pra mim, funciona para qualquer pessoa”, diz. “Em apertada síntese, a minha experiência no Polo São Luiz Gonzaga foi a mais positiva possível e incentivo a todos que, se não participaram desta experiência, a faça. Pois os resultados são incríveis”.

“Quero deixar meu agradecimento público ao professor João Luiz e toda a sua equipe do polo, que, utilizando uma metáfora para simbolizar a grandiosidade do momento, souberam ensinar o caminho do mar ao rio quando este insistia em transbordar para suas margens”, enfatiza.

O espelho para o passado na estrada do futuro

No lastro dessa odisseia, Dane revela sua estratégia. Se perguntam sobre seus planos para o futuro, ele responde: “eu costumo trabalhar em silêncio. Muitas vezes para evitar uma concorrência desleal e, em uma outra vertical, por frustrar a expectativa de alguém que espera por resultados”.

Para ele, o segredo da trajetória de sucesso está na dedicação e no foco no objetivo. “Quando você quer conquistar destinos extraordinários, você precisa nadar contra a corrente que te leva ao lugar comum. Você precisa batalhar em dobro, se fortalecer, construir dentro de sua mente uma verdadeira fortaleza. Foi isso que eu fiz”, encoraja o aluno.

De acordo com Dane, é preciso persistir. Não basta querer, é preciso buscar e fazer acontecer. “Não paro de caminhar apenas por ter recebido um não. Também não me deixo levar pelo que os outros falam, o caminho dos outros me levaria ao destino que todo mundo conquista. E eu queria mais”, diz.

“A porta que me levou para uma nova vida foi a busca incessante do conhecimento, mas a chave que me permitiu abrir esta porta foi a determinação. Eu sei que, algumas pessoas ficam curiosas para saber como eu consegui. Eu recomendo o seguinte: olhe você no espelho, eu sou você no futuro. Talvez essa pessoa seja determinada, obstinada, focada em mudar de vida. E se for assim, ela também consegue ir além”, finaliza.

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Autor: Daniela Mascarenhos - estagiária de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski


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