A inteligência artificial está no nosso dia a dia e nem sempre percebemos

Autor: Matheus Pferl - Estagiário de Jornalismo

A inteligência artificial (IA) está cada vez mais inserida na nossa realidade. Se antes o termo parecia futurístico, presente em filmes de ficção científica e na imaginação das pessoas, hoje faz parte do cotidiano. A inteligência artificial está no nosso dia a dia, e muitas vezes está tão inserida que acaba passando despercebida. Muitas pessoas têm dúvidas e receio sobre o tema, acreditando que as coisas podem sair do controle. Será que esse medo se justifica?

O programa Nas Ondas da Politécnica do dia 16.jul.2021 falou sobre o tema, e contou com  a presença do professor Gian Carlo Brustolin e da engenheira da computação Leila Fabiola Ferreira. A apresentação foi da professora Jéssika Alvares Coppi Arruda Gayer.

A IA é uma tecnologia bastante recente do ponto de vista da ciência. Ela surge na época da segunda guerra mundial e, para quem gosta de cinema, existe um filme que retrata bem esse momento, “O jogo da imitação”. O filme conta a história de como foi descoberto o segredo da máquina de criptografia alemã chamada enigma.

O início da computação também foi o início da inteligência artificial. “A ideia era tentar simular o processo de raciocínio humano, e criou-se então o primeiro computador, que era a primeira máquina pensante, isso por volta de 1940. Esses foram os primeiros esforços na área de computação que tinham já um viés de IA. Porém, depois se entendeu que a IA não era algo tão simples, não basta criar uma máquina que respeite comandos para que ela possa ser considerada uma máquina inteligente. Até hoje não se tem uma boa definição do que é inteligência”, afirma Gian.

Depois disso, em 1949, houve a primeira simulação computacional de um neurônio, que é usada até hoje. A partir daí vieram tentativas de se fazer sistemas de IA com a capacidade de tomar decisões predefinidas. Essa técnica de IA foi a primeira e seguiu até mais ou menos 1980, quando voltou a ideia da rede neural, o que deu origem às redes neurais que estão disponíveis hoje, como as da Microsoft e da Google. As redes neurais são sistemas de inteligência artificial que têm a capacidade de simular neurônios do cérebro humano, funcionando como redes que buscam reconhecer padrões através de algoritmos.

Segundo Gian, no ano 2000 iniciou-se um novo processo tentando encontrar um algoritmo genérico capaz de resolver todos os problemas da humanidade. “Parece absurdo, mas não é, está em estudo desde então. O ser humano é capaz de pensar sobre qualquer assunto, não é dedicado a algo, porém as redes neurais hoje são sempre dedicadas, você escolhe uma dedicação pra ela. Mas existe uma possibilidade teórica, hipotética, de você criar um algoritmo capaz de tratar qualquer problema, como nós humanos. Só que nós temos algumas limitações, por conta do nosso estresse biológico, o que uma máquina não tem”, conta.

A inteligência artificial no dia a dia

A IA está presente na nossa rotina e nós nem percebemos. ”Hoje temos os processos de reconhecimento facial nos aeroportos, onde você apresenta o seu passaporte para uma máquina e a máquina faz a leitura e comparação, sem que seja necessário que você seja identificado por um ser humano”, diz Gian.

São situações em que a inteligência artificial é inserida visando otimizar processos e diminuir falhas. Outra área em que a IA está presente é a medicina. “Temos os diagnósticos de imagem para medicina, as leituras de alguns sistemas de ultrassom, alguns sistemas de diagnósticos que já são feitos por inteligência artificial”, completa Gian.

Porém, certamente o mais comum do nosso dia a dia são as redes sociais. “Não sei se vocês já observaram, mas nas redes sociais, pelos seus gostos, pelo seu histórico de interesse, a inteligência artificial define suas redes naquela direção. Esse é um fenômeno gerido pela IA”.

Para quem gosta de cinema, há diversos filmes bem interessantes que abordam o tema. Um deles é  “Rede Social”, que fala sobre esse processo de seleção de informação, principalmente no Facebook e no Instagram. O outro é “O dilema das redes”, que fala sobre o vício das redes sociais e levanta questões éticas a respeito do tema, destacando a falta de privacidade quando se está altamente conectado. São filmes que nos fazem refletir.

Inteligência artificial na Polícia Militar

Atualmente, está em desenvolvimento uma aplicação que utiliza os conceitos de IA na Polícia Militar do Paraná. É uma parceria com vários órgãos, e o objetivo é criar um sistema completo para o atendimento tanto do cidadão comum quanto do policial militar. “Hoje já contamos com um aplicativo, o 190, então já existe a possibilidade de acionar o serviço policial sem a necessidade de um contato telefônico. Porém, a ideia é integrar vários serviços dentro de uma aplicação só, o que vai auxiliar tanto o cidadão quanto o trabalho do policial”, ressalta a engenheira da computação Leila Fabiola Ferreira.

Dentro dessa aplicação haverá outros recursos de reconhecimento facial, para quando ocorrer uma abordagem a identificação ser bem mais rápida, sem o policial precisar pedir o documento e fazer todo o processo. A ideia é fazer tudo de maneira rápida e prática, é ter nesse banco de dados todas as informações necessárias. Além de abordagens, o aplicativo também vai facilitar na parte do reconhecimento de placas veiculares. Tudo isso está sendo desenvolvido para otimizar o processo.

Outra área que está tendo um impacto muito positivo é a área agrícola, com a agricultura de precisão e a zootecnia de precisão. Estas são aplicações de IA que permitem uma leitura particularizada do terreno ou do animal. “É algo que tem sido muito benéfico, pois quando não há a inteligência nesse processo e você quer irrigar uma fazenda, você tem que irrigar tudo, pois não se sabe onde está seco e onde não está, e aí é gasto uma quantidade de água, talvez desnecessária. Quando há sensores distribuídos dentro do campo plantado, você consegue decidir onde precisa e onde não, e aí há uma produtividade muito maior. Você consegue fazer uma análise pontual”, afirma Gian.

Entretanto, também existem aspectos negativos. Com toda essa conexão, facilita-se a invasão de privacidade. Por um lado temos uma maior segurança, por outro lado torna-se mais fácil violar a intimidade das pessoas. Segundo Gian, é preciso ter cuidado para saber se esses recursos estão nas mãos certas: “Esse poder nas mãos erradas é perigoso. Hoje temos uma lei específica sobre isso, que é a LGPD (Lei geral de proteção de dados) que tenta coibir algumas ações nesse sentido. Essa lei existe pois há um risco elevado de perda de privacidade, e esse é talvez o pior aspecto de uso da IA”, conta.

Ética na IA

É normal que existam erros e acertos quando algo está em desenvolvimento, e com a IA não é diferente. Naturalmente, questões éticas estão surgindo. “Estamos no começo da IA. Toda ciência, na sua fase inicial, comete exageros, pois não se sabe exatamente o potencial daquilo com o que se está mexendo, e com a IA não é diferente. Estamos descobrindo o potencial dessa nova maneira de se entender a realidade computacional. A questão ética em relação à IA ainda está engatinhando, mas está andando, é algo natural”, diz Gian.

Você pode conferir a gravação completa da conversa na página oficial da Rádio Uninter no Facebook.

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Autor: Matheus Pferl - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Tara Winstead/Pexels


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