A indicação de Kamala Harris e o papel do vice-presidente dos EUA
Autor: André Frota*A escolha do vice-presidente nos regimes republicanos é uma decisão que envolve: a capacidade de atrair um perfil de eleitores complementar ao eleitor tradicional do presidente; a característica da coalização partidária, que a chapa presidencial está inserida; o potencial de sucessão presidencial.
A primeira variável que condiciona a escolha do vice é a força eleitoral que essa indicação estabelece para a chapa presidencial. É a primeira, porque tudo depende da vitória da dupla na disputa. No caso de Harris, o perfil que essa candidata incorpora para a campanha de Biden é notória. Mulher. Primeira possível vice-presidente. Negra. Procuradora. A dupla Biden-Harris dialoga com o eleitor branco e o eleitor negro. Com homens e mulheres. Com a versão moderada dos democratas e a versão mais progressista desse mesmo partido.
A segunda característica que influencia a escolha do vice-presidente é a característica da coalizão partidária. Em sistemas multipartidários, essa relação é percebida com mais nitidez, dado que presidente e vice pertencem a siglas partidárias distintas. No caso de sistemas bipartidários, como é o caso do norte-americano, o peso dessa escolha implica uma relação intrapartidária.
A disputa estabelecida ao longo das primárias, e que já estabelece os candidatos com maior potencial eleitoral, é um indicador que condiciona o capital eleitoral que pode ser incorporado na composição entre presidente e vice. No caso de Harris, apesar das divergências criadas com Biden durante as primárias, o capital eleitoral adquirido por essa candidata democrata, após a onda de protestos antirracistas, que convulsionaram a sociedade americana, impulsionou seu nome para a vice presidência. Senadora, negra, procuradora, democrata, mulher.
O terceiro motivo que impulsiona a escolha do vice, o potencial de sucessão presidencial, é diretamente percebido pela histórica relação entre antigos vice-presidentes, como futuros presidentes. Alguns números demonstram isso nos últimos anos. Do presente ao passado, o atual candidato Joe Biden, foi o vice do presidente Barack Obama.
O vice-presidente Al Gore, perdeu por pouco, em uma disputa eleitoral acirrada com o presidente republicano George W. Bush. O pai de George W. Bush, vice de Ronald Reagan, ocupou a presidência no início dos anos 1990. Essa lista continua nos anos 1980 com Gerald Ford, antigo vice presidente de Richard Nixon, ao longo dos anos 1970. Ou seja, a vice presidência é uma porta de entrada eleitoral para a presidência.
Em suma, a escolha de Kamala Harris para o cargo de vice-presidente dos EUA na candidatura democrata, ilustra um conjunto de elementos que influenciam o processo de escolha de vice-presidentes em regimes republicanos: a capacidade de atrair eleitores, a coesão partidária, e o potencial sucessório.
* André Frota é mestre em Ciência Política. Professor de Relações Internacionais e de Geociências, vinculado à Escola de Gestão Pública, Jurídica, Política e de Segurança, bem como à Escola Superior de Educação da Uninter.
Autor: André Frota*Créditos do Fotógrafo: The United States Senate