A importância dos animais silvestres nas grandes cidades
Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de JornalismoCom a expansão das grandes cidades, cada vez mais as espécies de animais silvestres se aproximam da vida humana. Na pandemia de Covid-19, esse fenômeno ficou mais evidente quando animais selvagens foram avistados explorando espaços das cidades em situações de quarentena pelo mundo. No entanto, algumas espécies silvestres podem conviver em harmonia nas metrópoles.
A importância da fauna nos espaços urbanos foi tema de palestra na 2ª Maratona Ecos do Brasil – Biodiversidade, a vida em ação, promovida pelo Grupo Uninter nos canais oficiais do Facebook e Youtube, no dia 24.set.2021. A live que abriu a série de debates, “A importância das espécies da fauna encontrada nos centros urbanos”, foi mediada pelo professor Andrew Alfaro e apresentada pelo professor André Maciel Pelanda.
Atualmente, o Brasil possui mais de 210 milhões de habitantes, sendo que grande parte da densidade demográfica fica na região sudeste. Diante desse cenário, há uma supressão de ambientes naturais, e os poucos espaços verdes da Mata Atlântica presentes nas grandes cidades contribuem para a habitação de algumas espécies da fauna, que acabam se adaptando ao ambiente urbano.
Segundo os professores, a presença de alguns animais silvestres nas cidades traz benefícios para a biodiversidade, auxiliando no controle de pragas e contribuindo para a dispersão de sementes que facilitam a polinização da flora. André ressalta que conseguimos visualizar diferentes espécies por causa dos parques urbanos.
Andrew lembra o caso curioso das andorinhas de asa curta que se adaptaram ao longo do tempo, pois eram constantemente atropeladas em rodovias. Hoje, essa espécie tem asas curtas e arredondadas que possibilitam que façam manobras para desviar de veículos, permitindo decolar com mais facilidade nas estradas.
André comenta que as espécies que se adaptam podem conviver harmonicamente e dividir espaços com seres humanos, e que os fragmentos de vegetação nas áreas urbanas funcionam como um meio de abrigo e alimento.
O papel dos parques urbanos
Segundo o Ministério do Meio ambiente, “consideram-se áreas verdes urbanas o conjunto de áreas dentro das cidades que apresentam cobertura vegetal, arbórea (nativa ou introduzida), arbustiva ou rasteira (gramíneas)”. André aponta o exemplo da cidade de Curitiba, considerada uma das cidades mais sustentáveis do Brasil, e que apresenta vários espaços dedicados às áreas verdes, como o Parque Barigui (foto) e o Passeio Público.
O professor ainda ressalta a presença frequente de capivaras, um mamífero aquático considerado o maior roedor herbívoro do mundo, que habita os lagos da cidade e até se tornou comum nos parques de Curitiba após a proibição da caça. “No passado, era raro encontrar capivaras por causa da caça. Com a proibição, podemos observar um aumento populacional dessa espécie, mesmo nos centros urbanos. É um exemplo de animal que se adaptou”, explica.
Outros mamíferos que podem ser encontrados nas grandes cidades são o macaco bugio, os morcegos e a cuíca, também conhecida como gambá ou raposa. “As cuícas muitas vezes são confundidas com ratazanas, um animal que pode causar prejuízos. No entanto, as cuícas [ou gambás] não trazem nenhum tipo de prejuízo. É uma espécie de hábitos onívoros e tem um papel importante no processo de dispersão de sementes nas áreas urbanas”, enfatiza André.
A dispersão de sementes é o movimento ou transporte de sementes para longe da planta-mãe. Vale ressaltar que o grupo mais importante de animais dispersores são as aves, visto que grande parte são frugívoras (animais que se alimentam de frutos sem danificar a semente), e pela capacidade de deslocamento, frequência da alimentação e pela quantidade de espécies.
Dentre as espécies de aves mais comuns encontradas nos centros urbanos, destacam-se o sabiá-laranjeira, o joão-de-barro, o pardal, o papagaio-verdadeiro, o beija-flor e a gralha-azul.
André salienta outras aves que são importantes para o equilíbrio ambiental urbano, como as aves carnívoras, também chamadas de aves de rapina. As espécies mais presentes são: o gavião-carijó (também conhecido como gavião-pega-pinto); o falcão-peregrino; a coruja-da-igreja (ou coruja-das-torres). “Essas espécies são importantes para o controle de pragas, pois se alimentam de ratos e pombos, como no caso do falcão-peregrino”, diz.
O que fazer ao se encontrar um animal silvestre?
Ao se encontrar um animal selvagem perdido ou ferido, é importante acionar a Secretaria do Meio Ambiente de sua cidade. Caso não encontre o número, você pode ligar no 190 e contatar a Polícia Militar Ambiental. Tentar alimentar ou capturar o animal pode ser perigoso e causar acidente. Vale lembrar que não é permitido colocar o animal em cativeiro, visto que a apropriação ilegal de animais silvestres sem o devido registro é um crime previsto por lei, podendo gerar multa e reclusão.
O professor Andrew relembra o problema das fortes enchentes nas grandes cidades que podem destruir ninhos de répteis. “Os répteis têm aparecido com mais frequência devido às fortes chuvas que destroem seus ninhos”, diz. André alerta que algumas espécies de serpentes podem ser atraídas em terrenos baldios e entulhos, por causa da presença de roedores.
“É necessário ter cuidado para não causar acidentes com seres humanos e animais domésticos, como cachorros e gatos. Se forem avistadas, é preciso comunicar a Secretaria do Meio Ambiente da cidade para que o espécime seja recolhido e solto numa área preservada”, salienta.
Por fim, os professores ressaltam que o uso de áreas verdes no ambiente urbano é uma alternativa para a conservação e manutenção de diversas espécies da fauna e da flora. “O manejo nos parques deve ser feito de modo que plantas nativas da região sejam plantadas nos mesmos, já que, além de importantes para a alimentação das aves, podem ser dispersas pelas mesmas, ter a polinização facilitada e recompor a flora da região”, finaliza André.
Os professores destacaram outras espécies importantes para a manutenção das áreas verdes nas cidades. Você pode conferir a conversa completa, aqui.
Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Bill Machado/Creative Commons