A força da literatura da mulher negra brasileira
Autor: Mauricio Geronasso - Estagiário de Jornalismo“A escrevivência surge de uma prática literária cuja autoria é negra, feminina e pobre.
Em que o agente, o sujeito da ação, assume o seu fazer, o seu pensamento, a sua reflexão,
não somente como um exercício isolado, mas atravessado por uma coletividade”.
Conceição Evaristo – Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade, 1996
Conceição Evaristo nos apresenta no trecho acima o conceito de escrevivência, descrito em sua dissertação de mestrado em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro em 1996 . Mulher negra, escritora e doutora em literatura, traz em seus livros uma visão de mundo que ainda é novidade para muitos, e celebra a escrita e a literatura da ancestralidade da cultura negra. Para a autora, a escrita é uma forma de posicionamento político e de trabalho da memória do que foi vivenciado pela ancestralidade negra, uma forma de cuidado com o outro.
“Muitos cometem um erro básico ao conceituar escrevivência, sendo muito comum interpretar o conceito como se fosse a escrita daquilo que se vive, sem ter uma noção política daquilo que foi pensado pela Conceição quando criou o termo. A escrevivência diz respeito exclusivamente à escrita das mulheres negras”, explica Thays Carvalho Cesar, professora do curso de Letras da área de Linguagem e Sociedade da Uninter.
“Usar a literatura como elemento de resistência para que outras pessoas não passem pelos mesmos problemas, enfim ter coragem de falar, sentir e se emocionar, se apropriar dessa ferramenta da escrita, foi fundamental para que teóricas negras começassem a pensar que o saber que elas produzem é um conhecimento”, explica Thays.
“A vivência da mulher negra deve ser usada como um conhecimento maior para se posicionar e não se esconder. Trata-se de um tema importante, contemporâneo e urgente”, complementa a professora e psicanalista Thayz Athayde.
Além da vivência, o conhecimento das mulheres negras transformado em escrita dá a oportunidade de registar as injustiças e problemas que permeiam suas vidas, criando uma possibilidade de libertação e de ser ouvida. O Brasil ainda nega o racismo e também por isso é necessário falar e escrever sobre a estética da “escrevivência”, estética da vivência da mulher negra, promovendo a escrita de si como forma de resistir ao racismo e mostrando ao mundo que essa mulher existe.
A mulher negra permanece ocupando um lugar de desvalorização na sociedade. Nesse sentido, o enfrentamento desse racismo é um longo processo de lutas e reivindicações. A busca pela liberdade e valorização da mulher negra é uma das marcas da escrita de autoras como Luisa Mahin, Conceição Evaristo, Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, dentre outras, que através de um conhecimento sobre sua própria condição sociocultural, se posicionam contra os sistemas que as aprisionam.
“Cabe a nós lutar para a construção de uma sociedade mais igualitária, sem desigualdade social, de sexo e de gênero”, reforça Thayz Athayde.
O programa Chave Interdisciplinar, transmitido pela Rádio Uninter no dia 05.ago.2021, abordou as relações entre literatura, mulher negra e direitos humanos, problematizando como a literatura é capaz de nos colocar diante do outro, despertando o sentimento de pertencimento e de alteridade. Além de Thays Carvalho Cesar e Thayz Conceição Cunha de Athayde, a transmissão contou com a presença da coordenadora do curso de Letras da Uninter, Deisily de Quadros.
Você pode assistir ao programa completo por meio da página do Facebook e do canal do Youtube da Rádio Uninter.
Autor: Mauricio Geronasso - Estagiário de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: EBC