A filosofia da esperança
A palavra esperança vem do latim spes, que significa confiança em algo positivo. É um conceito, uma crença emocional, que se manifesta em maneiras de ser, estar e agir no mundo. Dito de outra maneira, ela se traduz em modos de vida.
Viver é também esperar, mas esperar com disposição para realizar todos os esforços possíveis a fim de que o esperado se concretize. A esperança ativa não é simples espera. É uma “paciência inquieta”, um silêncio eloquente, pensamento e ação consciente.
Já o avesso da esperança é o desespero. No entanto, mesmo situações desesperadoras podem conduzir a um novo esperar.
É possível falar de uma esperança puramente passiva, mas essa maneira de compreendê-la, bem como o modo de vida que dela decorre, é contraditório. Por que esperar por algo que nunca se concretizará? Estar cheio de esperança implica também em agir para o que é esperado se efetive.
Embora não seja um tema comumente abordado na história da filosofia, a esperança é essencialmente filosófica. Não por acaso, entre as famosas perguntas kantianas está presente a questão: o que me é permitido esperar?
Nas edições da “Crítica da razão pura” de 1781 e 1787, Immanuel Kant escreveu: “Todo o interesse da minha razão (tanto especulativa quanto prática) concentra-se nas seguintes três perguntas: O que posso eu saber? O que devo eu fazer? O que está me permitido esperar?”.
Desta maneira é possível notar como a questão da esperança é inerente ao ser humano, ainda que para alguns ela possa ser vista como uma crença vaga que impede a humanidade de buscar sua realização de maneira concreta. Nesse sentido, ela induziria a um estado de esperar um futuro improvável. Sobretudo se essa espera estiver ancorada em bases religiosas e relacionada com uma nova vida além-mundo.
Não por acaso a esperança é vista como um tema teológico, pois ela é uma das três virtudes teologais, junto com a fé e a caridade. No entanto, isso não impossibilita a abordagem filosófica do tema.
Em sua principal obra, “O princípio da esperança”, Ernst Bloch propôs uma ontologia do não ser. O autor defende que a ausência de algo não significa a sua inexistência, mas sim uma possibilidade do que pode vir a ser.
Trata-se então de passar do “não” para o “ainda não”, que se faz pela esperança. Nesta perspectiva, sua abordagem sobre a esperança fundamenta-se em razões históricas e antropológicas. Não precisa recorrer aos fundamentos religiosos de uma determinada tradição ou ainda a argumentos individuais de ordem puramente psicológica.
As perspectivas religiosa e histórica da esperança não precisam ser vistas como polos opostos, mas complementares. Afirmar um fundamento antropológico e histórico para a esperança não significa descartar o fundamento religioso. Nesse sentido, o próprio texto bíblico atesta a superioridade do amor em relação à fé e à esperança: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”. (1 Cor 13:13).
* Luís Fernando Lopes é filósofo, teólogo e coordenador do curso de licenciatura em Filosofia da Uninter.
Autor: Luís Fernando Lopes*
Algum filosofo se debruçou sobre a Espera?
Lindo! Adorei o texto! Muito interessante. Geralmente a Filosofia nega a existência de Deus veementemente, entretanto, como demonstra sua reflexão é possível refletir sobre ambas concomitantemente.
Penso que não é verdade que “geralmente a filosofia nega a existência de Deus”. Entre os filósofos que se posicionam a favor da hipótese teísta ou da hipótese deísta estão alguns dos mais destacados da história da filosofia, como Aristóteles, Platão, Agostinho, Aquino, Duns Scotus, Descartes, Leibniz, Kant, Jaspers, Marcel, Alston, Plantinga, Swinburne e W. L. Craig.