A economia circular é uma saída para a conservação da água

Até pouco tempo, pensava-se que a água seria uma fonte inesgotável e que a distribuição acontecia igualmente para todo o planeta. No entanto, isso não é o que a realidade mostra.

De acordo com a professora Priscila Souza, tutora dos cursos de pós-graduação da área de saúde Uninter, mais de um bilhão de pessoas não possui acesso à água potável no mundo e, em um curto prazo, mais de 40% da população viverá em constantes crises hídricas, como já acontece no Brasil atualmente.

Alguns pesquisadores dizem que a última crise dessa magnitude aconteceu há mais de 100 anos, já outros apontam que esta seria a maior da história. O agravante é que, além da carência de água, há a poluição de águas que poderiam ser utilizadas, por isso chamada de escassez quantitativa hoje.

Há muitas discussões sobre para qual fim seria mais importante o uso da água (abastecimento público, produção de alimentos, geração de energia, navegação, área industrial). A própria Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), sob a lei nº 9.433/97, diz que o uso prioritário “é o consumo humano e a dessedentação de animais”. Mas sendo essencial à vida humana, é importante pensar nos diversos usos e a forma como são realizados.

“Foi por não ter um processo de conservação que talvez nós tenhamos chegado a essa situação”, afirma a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Selma Cubas, doutora em Hidráulica e Saneamento e presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES).

A PNRH pontua também que “a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico”. E justamente por ter esse valor, a professora Selma acredita que é preciso avaliar o reuso da água como alternativa da economia circular.

“Trabalhando com o uso racional, não estou poluindo. Não vou gastar com tratamento, com despoluição. Vou ter água de excelente qualidade e, se estou agora buscando alternativas, tecnologia, dimensionando sistemas que utilizem menos água, também estou economizando”, explica.

O primeiro passo para a economia circular, segundo a profissional, é refletir se é realmente necessário utilizar água potável para determinado fim ou se é possível utilizar água não potável ou com qualidade inferior. Ou ainda, recusar o uso de qualquer água, em casos não essenciais.

 

Realidade brasileira

Cerca de 12% da água do mundo está no Brasil. Com a diversidade de bacias hidrográficas presentes, Selma diz que a gestão deve ser integrada e não pensada em regiões isoladas, já que a água pode pertencer a diversas cidades, estados e até países.

A cada segundo, mais de 2 milhões de metros cúbicos de água são utilizados no Brasil. Desse total, 52% vai para irrigação, 23,8% para abastecimento urbano, 9,1% para a indústria, 8% para uso animal, 3,8% para termoelétrica, 1,7% para o abastecimento rural e 1,6% para mineração.

“Dessa quantidade de água que é captada, tratada e distribuída, 40% são perdidas durante a distribuição ou no processo de captação”, salienta a professora.

Mas isso é uma realidade do Brasil, sendo um país em desenvolvimento. Já em nações como a Alemanha, são perdidos 8%, por exemplo. Ainda em solo brasileiro, há regiões do norte e nordeste em que esta perda chega a cerca de 60% da água captada. Isso devido à falta de saneamento básico e infraestrutura precária, que não conta com investimento.

“Precisa realmente de investimento em tecnologia. Hoje, a gente já está falando muito em utilização dos bigdates, em inteligência artificial, tecnologia voltada realmente às cidades inteligentes para trabalhar, avaliar e identificar essa perda de água”, complementa Selma.

A precipitação em solo brasileiro ocorre em torno de 3,4 trilhões de metros cúbicos por ano. E ainda acontece a entrada de 3,1 trilhões de metros cúbicos de águas de outros países anualmente. Sabendo que 900 bilhões de metros cúbicos saem no mesmo período, a vasão gerada é de 6,2 trilhões de metros cúbicos. Os diferentes setores utilizam cerca de 124 bilhões de metros cúbicos anualmente.

Da água não utilizada ou que continua nos rios, 8,4 trilhões de metros cúbicos voltam para os mares e uma parcela de 1,1 trilhão é infiltrada. O que mostra que as chuvas em grande quantidade não necessariamente significam a redução de crises e da escassez, já que o processo do ciclo hidrográfico acontece de forma muito rápida, com a evaporação.

 

Conservação

Pensando nisso, a especialista diz que a conservação da água pode acontecer por meio de qualquer ação que reduza a captação de água dos mananciais para os diferentes usos. Através da redução dos usos consuntivos, como o abastecimento de água, por exemplo.

Ações que previnam a poluição das águas, como o tratamento e coleta eficientes do esgoto sanitário, dentro de sistemas eficientes. Buscando assim o aumento da eficiência do uso da água e da reciclagem e reuso.

Os objetivos aqui são: assegurar a oferta de água potável; evitar o desperdício e racionalizar o uso; resultar em conservação de energia, menor produção de esgoto sanitário e proteção de mananciais de água; além de atuar de maneira sistêmica sobre a demanda e a oferta de água.

Estas ações, de acordo com Selma, podem acontecer a nível macro, atingindo a escala de bacias hidrográficas. A nível meso, que atingem os sistemas urbanos de abastecimento de água e de esgotamento sanitário. E a nível micro, que chegam às edificações de uma maneira geral.

“Cada ação que você faz na sua edificação, na sua casa, tem um impacto muito grande no nível meso e no nível macro”, garante.

Sendo assim, a professora Giselle Dziura, coordenadora de cursos da pós-graduação da Uninter, lembra que muitos edifícios são projetados com o uso da água em seu invólucro. Dessa forma, a água chega, passa e sai de maneira consciente.

“Grande parte da nossa energia se deve pelo uso da água eficiente. Existem inúmeras estratégias, seja no subsolo dos mares ou nos ares”, afirma.

Giselle cita algumas soluções inteligentes que estão sendo pensadas, como o concave roof, em telhados, utilizados em “sistema côncavo para captar a maior quantidade de água para que seja reutilizada no próprio edifício”.

Ou ainda, um exemplo de irrigação, no qual as faixadas do prédio com tubulações, utilizadas para aspergir essa água. Mais um caminho para se pensar na reutilização inteligente, por meio de uma economia cada vez mais circular e não linear.

“Todos deveremos fazer o nosso papel enquanto cidadão, morador desse planeta Terra, que é ocupado em grande parte pela água”, conclui a coordenadora.

 

Supermaratona Uninter

A economia circular da água foi tema apresentado durante a palestra Água e arquitetura: uso inteligente nos edifícios e nas cidades, parte da Supermaratona Uninter, intitulada Terra: Planeta água, realizada entre os dias 18 e 19 de março.

“São 24 horas para debater o assunto, entender o papel de cada cidadão diante do problema e, é claro, promover o consumo consciente desse recurso tão precioso que é a água”, salienta a professora Priscila, que apresentou o bate-papo entre as professoras Selma e Giselle.

Todas as lives da Supermaratona seguem disponíveis para livre acesso, no canal do Grupo Uninter e na página de Maratonas para desenvolvimento sustentável Uninter.

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Autor: Nayara Rosolen
Edição: Larissa Drabeski