“A cultura indígena é a garantia do bem viver do planeta”

Autor: Natália Schultz Jucoski - Assistente de Comunicação

Discutir a educação indígena e a sustentabilidade foi o principal assunto da palestra que aconteceu no dia 06 de maio no auditório no Campus Garcez, em Curitiba. A ação faz parte do Collaborative Field Experience, uma iniciativa da Uninter junto com a First Nations University of Canada (FNUniv), universidade que pertence aos povos originários canadenses.

Com mediação de Karina da Costa, professora de relações étnico-raciais da Uninter, a palestra teve participação de Tim Isnana, professor de negócios indígenas e administração pública da FNUniv, e do coordenador geral de Promoção à Cidadania dos Povos Indígenas no Ministério dos Povos Indígenas, André Fernando Baniwa, que é formado em Tecnologia em Gestão Ambiental pela Uninter e é mestrando em sustentabilidade.

Tim veio ao Brasil acompanhado de nove alunos, “Tem sido uma viagem maravilhosa, com essa oportunidade de ver as culturas indígenas do Brasil”, conta o professor, que também destacou as semelhanças encontradas entre as vivências dos povos originários dos dois países. No caso canadense, a Universidade se tornou um centro de reunião e valorização dessa cultura, onde os mais velhos fortalecem a educação para os mais jovens.

O conceito de um conhecimento integrado e verticalizado vem como uma ferramenta para que seja possível plantar a semente do conhecimento em diversos níveis dos aspectos da educação indígena. “Nós temos o conhecimento das pessoas indígenas se mesclando com as pessoas do ocidente, podendo então ensinar os alunos, tanto indígenas como não indígenas a importância do meio ambiente”, explica.

O partilhar dos saberes é algo fundamental para a integração entre as comunidades indígenas e as universidades. “Eu trouxe os meus alunos do Canadá para mostrar a eles um mundo diferente, para que eles possam levar esse conhecimento de volta para suas comunidades e falem com os mais velhos, falem com os mais jovens, famílias e amigos, com toda a comunidade para mostrar que somos os mesmos”.

Visão de mundo Baniwa

A segunda palestra da tarde ficou por conta do professor e egresso da Uninter André Fernando Baniwa, que contou um pouco da sua experiência como membro do povo Baniwa, do Amazonas. O incentivo para aprender a língua portuguesa e estudar surgiu da vontade de dar uma voz aos seus. “Aprender esse mundo de não indígena como funciona, como que se estrutura, como que se organiza, para poder falar isso para o meu povo e talvez assim a gente seria menos explorado”, comenta.

Entender a sua cultura e resgatar os valores culturais são o foco dos estudos do professor. Ao longo de sua palestra, ele mencionou alguns itens que fazem parte da cultura Baniwa, como os petróglifos, que são desenhos em pedras que simbolizam a linguagem. Existem mais de 124 registros feitos pelos antropólogos, alguns deles estão reunidos em um livro onde é contada a história depois da Constituição de 1988, pós-demarcação de terras.

“Eu digo que nós sempre tivemos escrita também, porque cada símbolo desse conta uma história. Meus parentes falam assim ‘esse papel fala comigo e eu falo com esse papel’”, explica. É através da arte que as coisas são explicadas e por isso devem ser valorizadas. Para além da linguagem, a natureza e a religião também fazem parte da cultura Baniwa, as plantas, por exemplo, são usadas na medicina natural.

Outra parte do sistema alimentar dos povos indígenas, além da agricultura tradicional, é o empreendedorismo. A pimenta é um dos produtos produzidos e distribuídos pelos Baniwa, André explica que essa atividade é feita pelas mulheres nas roças e que existem 78 tipos diferentes de pimentas. A vontade de comercialização do alimento veio das mulheres. “As mulheres falaram para nós que queriam ganhar seu próprio dinheiro e que não queriam depender dos homens”, conta.

Também muito importante para o povo Baniwa é a escola, pois a comunidade precisa da formação. A curiosidade de um aluno faz com que ele tenha interesse em descobrir muitas outras coisas do que apenas o comum. Por conta dessa vontade de ensinar e aprender, em 2023, foi criado o primeiro curso agroecológico Baniwa na Universidade Federal do Amazonas para os alunos da comunidade indígena. O professor finaliza falando da importância do conhecimento e da disseminação das culturas originárias. “A cultura indígena é garantia do bem viver do planeta”, afirma.

Além das palestras, no início e no final do evento aconteceu o momento cultural, que contou com apresentações do grupo Indígena Towe Fulni-ô, de Pernambuco. Após, três alunos participantes do programa Collaborative Field Experience compartilharam suas experiências, em seguida uma rodada de perguntas e respostas com os convidados. Antes do encerramento, a intercambista Nancy Greyeyes foi convidada para performar uma dança que representa a sua cultura.

O reitor da Uninter, Benhur Gaio;  o pró-reitor de graduação Rodrigo Berté; o vice-presidente e co-fundador da Uninter Global Hub, Jason Dyett, e a diretora da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas, Dinamara Machado,  estiveram presentes no evento.

O Collaborative Field Experience está em sua segunda edição e reúne 20 participantes da FNUnive e da Uninter. O principal objetivo é o de promover conexões entre as comunidades indígenas nas Américas. O programa aconteceu nos estados do Paraná e São Paulo com participantes Indígenas e estudantes de diversos estados do Brasil, entre os dias 3 e 11 de maio.

Confira a palestra completa:

 

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Autor: Natália Schultz Jucoski - Assistente de Comunicação
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Natália Schultz Jucoski


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