A conversa de ônibus que transformou a vida de Águeda
O bi-articulado Santa Cândida-Pinheirinho estava apinhado de gente. O abre-e-fecha das portas nas estações-tubo quebrava a sonolência do ambiente e volta e meia ouvia-se algumas conversas aqui e ali. Quem empresta ouvidos a conversas de ônibus às 6:40 da manhã? As duas mulheres falavam com tal entusiasmo sobre um determinado assunto que Maria Águeda Staichok se viu obrigada a prestar atenção. E foi ao encontro delas. O que se deu desse encontro casual mudaria a vida dela e do marido, Osvaldo Staichok.
Enquanto o bi-articulado seguia o curso entre os terminais do Boa Vista e do Cabral, Olga passou a explicar em minúcias sobre as bolsas de estudo que o Instituto Wilson Picler estava oferecendo para o curso de Pedagogia. Maria Águeda era auxiliar de professora em uma escola de Curitiba e sonhava com uma formação superior para melhorar o salário. Correu fazer o vestibular no mesmo dia. Passou, conseguiu a bolsa e entrou na faculdade aos 49 anos de idade. E uma surpresa viria de parte do marido.
Osvaldo tentou dissuadi-la do sonho. Achava uma bobagem àquela altura da vida. Tinha dois filhos para criar e uma casa para cuidar, além do trabalho na escola. Qual a razão para entrar na faculdade aos 49 anos? Maria Águeda via todas as razões, e seguiu adiante. Matriculou-se no curso de Pedagogia, na modalidade de educação a distância da então Facinter, que mais tarde viria a se tornar o Centro Universitário Internacional Uninter. Foi nesse ponto que Osvaldo preparou uma grande surpresa.
Vendo o esforço da esposa, Osvaldo também encontrou uma razão para voltar a estudar. Prestou o vestibular e não contou para ninguém. Só revelou a novidade quando pôde exibir o recibo da matrícula no curso de Direito da mesma instituição. Ambos conseguiram bolsa do Prouni. O bate-papo no ônibus se deu em fevereiro de 2006, e no dia 19 de março de 2010 Maria Águeda recebia o seu canudo de pedagoga. Da mesma festa de formatura participaram outros 200 formandos de diversos cursos, todos bolsistas da instituição que viria a se chamar Uninter. Oswaldo se formou no início do ano seguinte.
Ao iniciar o curso, porém, Maria Águeda tinha dúvidas se conseguiria. Era um desafio tremendo a compreensão de textos e leituras dos livros da faculdade. Sempre com um dicionário do lado para auxiliar os estudos, muitas vezes ela voltava chorando para casa, sem saber se conseguiria voltar para a sala de aula no dia seguinte. Mas a persistência e o entusiasmo derrotaram o medo que por vezes a fazia sentir-se incapaz de vencer mais este obstáculo. Apesar do pouco estudo na infância, não faltaram bons conselhos e incentivo dos pais no tempo em que morava com eles em um sítio no município de Santo Antonio da Platina, interior do Paraná.
A vontade de fazer um curso superior sempre a perseguiu desde que desembarcou em Curitiba, aos 18 anos. Mas o sonho sempre tinha de ser adiado. Casou-se, teve dois filhos e tornou-se avó. Com os filhos criados, o sonho voltou com mais intensidade. Estudar e ensinar era o que mais desejava, mas não tinha dinheiro para bancar uma faculdade. De repente, um diálogo entre desconhecidas dentro de um ônibus lotado pôs a realidade em primeiro plano.
Sempre participando de projetos sociais da faculdade, Maria Águeda conheceu muitas pessoas que a ajudaram a crescer. Logo após se formar em Pedagogia, iniciou uma pós-graduação e recebeu uma surpresa. “Fui convidada para participar do time de tutores da Uninter”, conta. Na mesma época, aceitou um convite para trabalhar na rede estadual de ensino. Indagada certo dia sobre o porquê de não ter aceitado a proposta para ser tutora da Uninter, concluiu tratar-se de receio de assumir uma função de grande responsabilidade.
O questionamento partiu de Adenir Fonseca dos Santos, gerente de projetos do Instituto IBGPEX, braço socioambiental do Grupo Uninter. Maria Águeda lembra com precisão da resposta que recebeu de Adenir e que a fez mudar de opinião. “Ela me disse que nunca apostava suas fichas onde sabia que iria perder”. Há cinco anos Maria Águeda é tutora do polo de apoio presencial Carlos Gomes, em Curitiba. Sobre obstáculos e superação, ela afirma: “É isso que acredito ser empoderamento feminino”.
Autor: Camila Toledo – Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal