A cidade que educa depende da colaboração da sociedade

Autor: Evandro Tosin – Assistente de Comunicação Acadêmica

A educação é um papel do Estado, mas não somente dele, depende da colaboração da sociedade, família e das empresas. Uma cidade educadora busca o desenvolvimento dos indivíduos, o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Ou seja, vários agentes podem exercer um papel pedagógico. A perspectiva da cidade educadora contempla todas as idades.

A proposta da cidade educadora está alinhada à Constituição Federal, relacionada aos direitos sociais que estão no artigo 6º da carta magna, são eles: a educação, a saúde, alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e a infância. Desse modo, é competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios proporcionar os meios de acesso à cultura e educação.

Os municípios tem a função de legislar sobre assuntos de interesse local, suplementar a legislação federal e a estadual no que couber, o que é considerada como uma “competência residual”. Um exemplo no contexto pandêmico são os decretos municipais de retorno das aulas presenciais.

Alceli Ribeiro Alves é coordenador de cursos de pós-graduação da Uninter, doutor em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e mestre em Geografia pela Universidade Queen Mary (de Londres). É membro do conselho de pesquisa da instituição, participante do grupo de pesquisa CEIS (Cidades Educadoras, Inteligentes e Sustentáveis). E é um dos autores do livro Cidades educadoras um olhar acerca da cidade que educa, da Editora Intersaberes.

Uma cidade educadora é aquela que está vinculada à Associação Internacional de Cidades Educadoras (AICE). O Projeto SuperBlock, que nasceu em 2006 em Barcelona (Espanha), fechou uma rua para o trânsito de veículos, criando um espaço de convivência para que as crianças façam atividades, jogos de tabuleiro, assim como o plantio de árvores e revitalização do local.

Em 1972, em Curitiba, na gestão de Jaime Lerner, é construído o Calçadão da Rua XV Novembro, na região central – antes era uma avenida para carros.  Em 2010, o projeto “SePaRe” em Rosário, na Argentina com a colaboração da sociedade, estimula a gestão de resíduos sólidos nas escolas, disponibilizando contêineres para o destino correto do lixo. Na capital paranaense em 1989, também foi lançado o projeto “SE-PA-RE o lixo que não é lixo”.

De acordo com o palestrante, ao assumir o compromisso de ser uma cidade educadora ela não assume somente uma proposta pedagógica, mas também um ponto de vista político realizado por determinado governo ou gestão municipal. Ele lembra de uma entrevista concedida por Paulo Freire ao jornal Psicologia, do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, em março de 1989, em que ele afirmou: “Não há administração ou projetos pedagógicos neutros”.

Desde o início da pandemia, em março de 2020, foram necessárias mudanças, e como alternativa foi escolhido o modo remoto de aulas pela rede municipal de ensino em Curitiba. O que aumentou as desigualdades sociais, principalmente de acesso à tecnologia, e a educação integral procura minimizar esse impacto no processo educacional.

“A pandemia acentuou as desigualdades, se lá no passado elas existiam, continuam existindo. O acesso à tecnologia, como alguns alunos sentiram essa dificuldade. A formação integral tenta minimizar e reduzir essas diferenças. A tecnologia veio para suprir de certa forma essa separação espaço-temporal, a distância. Esse desafio para os professores também trouxe a relevância do papel do professor. Ganha mais força porque vai depender muito da criatividade, das suas competências, habilidades, para fazer a diferença na vida das pessoas. O papel do profissional de educação é de protagonista”, afirma Alves.

O educador Anísio Teixeira (1900-1971) foi um dos pioneiros na idealização da escola pública no Brasil, democratizando o ensino, com o acesso gratuito em todos os níveis de educação.  Entre as suas principais contribuições foi a obra lançada em 1957, “Educação não é privilégio”, em que era proporcionado um debate que deveria prover a educação: por meio da Igreja ou do papel do Estado.

Na década de 1950, Anísio Teixeira idealizou o conceito de jornada ampliada contribuindo com a idealização do Escola-Parque, espaços próprios para a formação curricular, permitindo novas oportunidades de aprendizagem, trabalhando com valores e formação de cidadania, que vão além das competências técnicas. É a formação do indivíduo como sujeito participativo da comunidade e da sociedade.

A concepção de educação em tempo integral “é aquela que considera o sujeito em sua condição multidimensional, não apenas na sua dimensão cognitiva, como também na compreensão de um sujeito que é corpóreo (corpo e mente), tem afetos e está inserido em uma série de contextos e relações”.

O evento 2ª Expoeducação Internacional Digital 2021 contou com transmissão ao vivo canal da Secretaria Municipal de Curitiba no YouTube (acesse aqui). Alceli Ribeiro Alves ministrou a palestra “Educação Integral em tempo ampliado e a cidade educadora: um olhar acerca da cidade que educa”, no dia 01.jul2021. A abertura do encontro foi prefeito de Curitiba, Rafael Greca. A mediação foi da secretária de Educação de Curitiba, Maria Silvia Bacila, e da professora Simone Zampier.

Foram mais de 78 mil inscrições no evento. Palestrantes renomados nacionais e internacionais participaram do encontro que contou com cursos e palestras ofertadas gratuitamente aos professores da rede e comunidade. São 17 mil profissionais na rede de ensino do município de Curitiba.

Uninter possui o curso de pós-graduação em Cidades Educadoras, sob coordenação da docente Sueli Pereira Donato.

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Autor: Evandro Tosin – Assistente de Comunicação Acadêmica
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Joel Rodrigues/Agência Brasília e reprodução


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