A cidade precisa ser uma estrutura integrada de vida
Autor: Valéria Alves – Assistente MultimídiaO planejamento é peça fundamental para nossas vidas, para as organizações, e todos os mais diversos segmentos, inclusive as cidades. Nelas, é preciso traçar caminhos para que o que se planeja se concretize no futuro, analisando forças, potencialidades, ambiente, entre muitas outras considerações que envolvem o chamado Planejamento Estratégico de Cidades.
O assunto foi tema de webinar que aconteceu no último dia 25.fev.2021, tendo participação da professora Ariadne dos Santos Daher, sócia da Jaime Lerder Arquitetos Associados, e mediação da professora Giselle Dziura, arquiteta e coordenadora da pós-graduação em Arquitetura e Design na Uninter.
Nesta conversa online, Ariadne trouxe algumas questões essenciais para um bom planejamento de uma cidade e que não podem deixar de ser levadas em conta. Na introdução de sua apresentação, por exemplo, falou sobre a personagem de um livro que Jaime Lerner escreveu, uma tartaruga. Com ela, há muito o que aprender sobre o assunto e integração de diferentes áreas, algo essencial para esse bom desenvolvimento.
“Ela procura fazer uma representação, uma metáfora de que a cidade precisa ser uma estrutura integrada de vida, trabalho e mobilidade. A tartaruga tem sua casa, sua vida, e onde ela vai, ela leva a casa dela. Existe uma associação intrínseca das funções da vida da tartaruga, assim como deveria haver essa associação intrínseca das funções da cidade”, diz Ariadne.
Ariadne também falou sobe o perigo de separar as funções urbanas dentro de uma cidade, pois a interação, proximidade e sinergia entre elas é muito importante. Por isso, há temas essenciais que nos ajudam a falar sobre essa questão, que foram pontuados por ela:
1 – Desenho da cidade;
2 – Mobilidade;
3 – Sustentabilidade;
4 – Identidade e coexistência;
5 – Referências na paisagem e acupunturas urbanas;
Para o bom planejamento, é preciso pensar em diferentes fatores, sendo ele cultural, social, econômico, entre muitos outros tópicos que integram uma cidade. Como explica Giselle Dziura, algo que precisa ser entendido é o conceito de patrimônio, que nem sempre é físico. Dentro do planejamento estratégico de cidades não se trabalha apenas com que é concreto, pois o espaço será construído e ocupado por pessoas.
“O patrimônio não é somente um edifício construído, ele é também o cultural, o que ele representa, o que está nas memórias das pessoas, que pode ser uma árvore, uma praça, uma comida, um artesanato, um modo de comportamento, de vida, enfim, tanta coisa pode ser um patrimônio. Tudo isso o planejador ou o urbanista precisa se preocupar porque faz parte da essência daquela localidade, daquele povo, daquele bairro. Tudo deve ser levado em consideração”, afirma.
No webinar foram discutidos vários pontos complementares ao assunto, como o urbanismo tático, o urbanismo participativo e suas diferenças, as áreas de encostas localizadas à margem de rios que são ocupadas, mas poderiam ser transformadas em parques, por exemplo, a cultura e identidade local, entre outros.
Sociedade e governo
Dentre a conversa, Ariadne contou um pouco sobre a história da Rua das Flores, em Curitiba (PR), que foi se expandindo com o tempo. Quando ela foi proposta, a ideia não foi bem aceita pelos cidadãos, pois os comerciantes achavam que iriam perder dinheiro se as pessoas deixassem de estacionar na frente das lojas, mas não foi o que aconteceu. Segundo ela, o fato de você criar um ambiente convidativo para as pessoas faz com que a presença delas floresça.
A Rua das Flores é uma das mais importantes da cidade, e Ariadne conta que em determinado momento quando a mesma já havia recebido floreiros, por exemplo, muitas pessoas passaram a levar as flores que lá continham para suas casas. Porém, após um tempo, eles passaram a entender que elas eram parte de um espaço coletivo, e por isso pode ser um exemplo da importância de além do planejamento, desenvolver na sociedade essa consciência. Esse também é um exemplo de como uma ação constrói uma imagem positiva para os cidadãos em relação à cidade.
“A gente precisa desenvolver esse entendimento da sociedade de que o espaço público não é só responsabilidade do governo. É espaço público é nosso, de cada um dos cidadãos, então cuidado com ele. A conservação, a beleza, e as atividades que são desenvolvidas ali fazem parte da nossa cidade enquanto cidadãos urbanos”, afirma.
Muitas coisas que são planejadas acontecem a longo prazo, mas os gestores municipais e os prefeitos, por exemplo, têm a necessidade de dar uma resposta “imediata” para seus eleitores e cidadãos. Por isso, são necessárias ações associadas às diretrizes de longo prazo, que possam trazem pro presente uma visão do que acontecerá no futuro.
“Essas referências que a gente constrói dentro da cidade, seja memória, seja um programa, seja uma atividade esportiva ou uma obra de arquitetura, estão no coração do planejamento estratégico entendido de uma forma mais ampla, são um conjunto de ações que vão reverter no final em maior qualidade de vida, e é o que importa. A qualidade de vida depois se reflete em uma cidade boa para morar, se tornando uma cidade boa para investir, boa para atividade turística. É uma sociedade que tende a ser mais junta, equilibrada”, diz.
Para saber mais sobre o tema, acesse o AVA Univirtus na aba AO VIVO > Anteriores > O Planejamento Estratégico de Cidades, no dia 25.fev.2021.
Autor: Valéria Alves – Assistente MultimídiaEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Luiz Costa/SMCS Curitiba