A alfabetização efetiva precisa atender às diferentes realidades das pessoas
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoQuando se fala em educação infantil e alfabetização, há questões muito importantes que rondam o processo de ensino-aprendizagem. Isso porque cada pessoa chega ao ambiente da educação com percursos muito individuais e passam por questões próprias, que podem tanto acelerar quanto dificultar o avanço. É importante perceber quem são as crianças com as quais os profissionais trabalham, em qual realidade vivem e em que condições são dadas essas aulas.
A pandemia foi decretada pela OMS em março de 2020 e naquele momento, apesar de a tecnologia já estar inserida como auxílio nas escolas, os professores precisaram readaptar os planejamentos para os diferentes tipos de interação e de alunos que acompanham. Sem esquecer de que muitos não têm acesso a aparelhos eletrônicos ou à internet em casa, e mesmo aqueles que têm muitas vezes não possuem o ambiente adequado ou um adulto que possa acompanhá-los na mediação das aulas.
“Eu não posso ser muito otimista em dizer que as coisas estão dando certo. É um percurso diferente, é uma maneira ainda de a criança ter viva a escola. Porque a gente tem de ter em mente que o que a criança não pode perder é o vínculo com a educação, isso é primordial. Nós temos que levar em consideração algumas pesquisas que indicam que 40% estão fora da escola, em termos de Brasil”, afirma a professora-doutora Cristina Rolim Chyczy, que atua no ensino público de Curitiba (PR).
Além disso, os pequenos também têm saudade da convivência e relação com os colegas e professores, questão revelada em reportagens, artigos ou mesmo em conversas de WhatsApp. Para Cristina, isso é o que também motivou os profissionais para que encontrassem diferentes formas de se conectar aos alunos. Mas garante que tentar transportar o que existia no real para o virtual é um equívoco e não funciona. A realidade atual funciona em outra lógica, com foco no vínculo que a criança não pode perder.
Com os novos modelos de ensino, veio também uma confusão entre o que é educação à distância e o ensino remoto. A professora Luciana Rodrigues, que atua na Uninter, explica que, para a primeira, existe um planejamento e estrutura pensados para o uso das tecnologias. Já o segundo caso se deu de forma emergencial para atender às demandas de um período que os profissionais pensavam ser curto, mas que se estende há mais de um ano. No entanto, essas mudanças trouxeram alguns benefícios para a prática profissional, pensando no avanço tecnológico.
“Esse profissional da educação infantil, quando começar a elaborar o planejamento anual, semestral, vai ter uma visão ampliada do que pode estar trazendo para dentro de sala de aula. Acho que a crise forçou esse desenvolvimento”, pontua Luciana.
Sobre o método mais indicado para a alfabetização, Cristina acredita ser importante mudar a lógica do pensamento e, ao invés de refletir sobre como o profissional ensina, pensar como a criança aprende melhor. Por isso, a importância de os educadores serem pesquisadores contínuos, e observar a forma como a criança chega à escola, os erros, acertos, as hipóteses. Estudar cada criança de acordo com as lógicas de leitura e escrita que possuem, além de, claro, entender os métodos existentes e as limitações de cada um. Sem perder de vista o “alfaletrar”, termo conceituado por Magda Soares, que visa alfabetizar na perspectiva do letramento.
“Uma professora, com a qual eu trabalhei muitos anos, fazia mão de diários para alfabetizar as crianças. Começava lá nas primeiras páginas com ‘quais as coisas que eu mais gosto na escola?’. A criança vai tentando fazer a hipótese de escrita e vai errando, aprendendo. A professora faz a mediação disso, ampliando a prática dentro de cada criança. Era muito interessante quando a gente lançava mão daqueles diários para ver como estavam. Algumas já escrevendo, outras lançavam mão do desenho, de letras aleatórias. O método é pesquisar como esses alunos estão em relação à escrita. E lançar mão de metodologias diferentes para fazer com que cada grupo de crianças avançasse a partir de que fase estavam”, conta Cristina.
A doutora em educação ainda diz que não se pode desassociar a teoria da prática, e que só será possível avançar quando esses discursos forem superados. “A teoria é primordial para que eu tenha uma prática efetiva, crítica, que faça a diferença no dia a dia da escola”, complementa.
No Brasil, também há um índice muito grande de adultos que não foram alfabetizados, um tema bastante marginalizado, mas que se faz muito necessário para pensar em formas efetivas de ensino. Nesse sentido, Cristina afirma que “não se pode deixar de falar sobre Paulo Freire, que deixou um legado importante para todo educador”. Como lembra a profissional, Freire tinha a perspectiva de que a alfabetização começa quando a gente nasce e termina quando morre, já que a leitura do mundo precede a da palavra.
“Quando ele começou a ser professor, disse ‘eu tenho que trazer aquilo que eu vivi na minha infância para a minha prática enquanto professor’. Então, por que não trazer a realidade das pessoas? Assim, Paulo Freire fez com os adultos. Antes de começar um trabalho, ele ia até o lugar e pesquisava. Com o que interagiam, como é era a vida daquelas pessoas, se eram pescadores, trabalhadores da construção civil. Dessa realidade se constituíam textos. A importância também de a gente trazer o texto, porque é alto significativo, tanto para as crianças como para os adultos. Quando eu trago o que é significativo, parece que aperto a chave do on para começar o desejo de aprender. Ler Paulo Freire, ver a respeito da proposta dele para alfabetização, ajuda enormemente a entender como ligar a chavinha do on para que as crianças e adultos tenham o desejo de aprender”, finaliza Cristina.
As docentes debateram sobre o tema Educação infantil e alfabetização em tempos de pós-pandemia na II Maratona de Pós-graduação Uninter, realizada no dia 29.mai.2021, por meio da página do Facebook e do canal do Youtube do Grupo Uninter. As lives sobre a temática e interações dos espectadores foram mediados pelas professoras Joice Diaz, Valentina Daldegan e Luciana Rodrigues.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Sofía López Olalde/Pixabay e reprodução Facebook