Projeto acolhe mulheres migrantes e capacita para o mercado de trabalho

Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação

O projeto Migração e Refúgio, realizado pela Copel e a Cáritas Brasileira Regional do Paraná, em parceria com o IBGPEX, Instituto de responsabilidade socioambiental da Uninter, acolheu 13 mulheres migrantes para uma ação de capacitação e integralização ao mercado de trabalho, nos dias 21 e 22 de novembro de 2024. A iniciativa contou ainda com o apoio do polo Carlos Gomes do centro universitário, na região central de Curitiba (PR), que cedeu o espaço para as atividades. 

“Acreditamos que esse é um projeto fundamental para promover a inclusão econômica dessas mulheres, além de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Ao empoderar mulheres, também estamos oferecendo a elas a chance de construir uma vida mais digna e independente”, afirma a gerente de projetos sociais do IBGPEX, Rosemary Suzuki. 

O Paraná está entre os estados brasileiros que mais recebe migrantes. Em 2022, o portal da mulher paranaense, Ame-se, divulgou que existiam, naquele momento, 120 mil imigrantes na região e 40% eram mulheres. “A maioria delas é mãe, tem entre 20 a 39 anos, possuem segundo grau completo e muitas são graduadas. Chegaram aqui em um momento de extrema vulnerabilidade, sem ter acesso aos materiais básicos de higiene e alimentação em seus países de origem”, informou. 

Ciente da realidade de muitos de seus clientes, a Copel passou a olhar para os migrantes com mais atenção, especialmente pela dificuldade linguística e situação de vulnerabilidade. Ainda em 2020, a empresa de energia criou uma cartilha que reúne informações de várias áreas sobre programas sociais e serviços básicos, em seis idiomas, além do português, para que aprendam, se apropriem dos termos e tenham acesso facilitado.  

A socióloga e uma das coordenadoras do projeto Migração e Refúgio, Gabriella Ane Dresch, que participou da crianção das cartilhas, lembra que a própria conta de luz serve como um comprovante de residência que facilita o acesso a vários serviços públicos. Portanto, a empresa entende sua importância e o papel que possui. 

A coordenadora do Programa de Voluntariado Corporativo da Copel e também do Migração e Refúgio, Adriana Campos, conta que, dois anos depois, o projeto passou a envolver o voluntariado, junto com a Cáritas, com apoio e capacitação para as mulheres acolhidas pela entidade. 

Junto à ONU Mulheres, também realizam o Empoderando Refugiadas no Sul do Brasil, tendo duas edições já realizadas. Com a próxima edição prevista para o primeiro semestre de 2025, as profissionais decidiram fazer este ano uma versão reduzida da capacitação, na capital paranaense. 

“Quando você chega em um lugar que as pessoas não falam o seu idioma e desconhece a cultura, você chega perdido. Ações como essa, de facilitar a adaptação no novo local, é fundamental.Tudo o que a gente tem, elas também têm direito e podem oferecer para a família. É uma questão essencial para qualquer ser humano, mas para mulheres principalmente, que são um público mais vulnerável”, explica Adriana.  

Gabriella acrescenta que muitas também se sentem solitárias, por isso as capacitações são ainda uma forma de se conhecerem e crianrem novos laços. Para além disso, os voluntários se sensibilizam com as questões de migração e refúgio e entendem sobre xenofobia, se colocam de maneira mais aberta para aprender. 

Um recomeço 

Dados do Subcomitê Federal para Acolhimento e Interiorização de Imigrantes em Situação de Vulnerabilidade mostram que entre abril de 2018 a dezembro de 2022, 5.601 venezuelanos foram acolhidos em Curitiba. A capital paranaense superou os números de Manaus (AM), com 5.331, e São Paulo (SP), com 4.480. Assim, se tornou a cidade que mais recebeu migrantes da Venezuela no período. Muito se deve a crise humanitária enfrentada no país, mesmo para aqueles que possuíam, até então, uma boa condição financeira e qualidade de vida.  

Nancy Gamboa comemorou 58 anos de idade no dia 25 de novembro de 2024 e, em dezembro, completa seis anos que saiu da casa onde morava na Venezuela, direto para Boa Vista (RR). Formada em Administração de Empresas e Educação Comercial, por 14 anos atuou como administradora chefe do Governo de Estado de Anzoáteagui. 

Em dezembro de 2018, deixou a vida que construiu no país de origem, com o emprego registrado há mais de uma década e uma casa de dois andares em condomínio. Chegou no Brasil com apoio de um programa realizado por empresários membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que realizavam missão na capital de Roraima e convidaram famílias que desejavam migrar. 

“Nós saímos da Venezuela obrigados e não porque queremos. No meu caso, foi muito doloroso sair do meu país, porque fiquei um ano pensando. Eu já estava separada do meu ex-esposo, meu salário era muito bom, mas de 2015 até vir para cá, foram três anos muito difíceis. Eu já não suportava”, conta a venezuelana, que se emociona ao lembrar que, muitas vezes, a comida que tinha era contada e para poucos dias. 

Depois de três dias para regularização da documentação em Boa Vista, 118 membros da igreja voaram até Campinas (SP) e foram encaminhados para diferentes regiões do país. Nancy foi para São José do Rio Preto (SP), onde ficou por dois anos, mas não conseguiu emprego fixo, apenas trabalhos pontuais como limpezas e arrumação em casas de família. 

De lá, viajou para Santa Catarina, onde conseguiu emprego na JBS Aves, como auxiliar de produção, e trabalhou por cerca de sete meses. Em outubro de 2021, Nancy se mudou para Curitiba (PR), aonde hoje mora em uma kitnet com dois dos três filhos, de 34 e 26 anos. O filho caçula, de 21 anos, também veio ao país, mas hoje já mora com a namorada. Os últimos empregos foram como operadora de caixa em supermercados da capital paranaense.  

Em solo brasileiro, precisou recomeçar a vida “do zero”. Encontrou acolhimento na Cáritas e também participou da capacitação do projeto Migração e Refúgio. Em entrevista para a CNU, resgatou o passado, mas também visualiza novos horizontes para a própria vida daqui para frente.  

“Foi muito bom. Parabenizo e me sinto muito feliz que a Copel seja uma empresa parceira da Cáritas para ajudar. É importante porque eles apoiam, se esforçam para dar o melhor. Todas as palestras foram excelentes. Muitos lugares que eu ainda não conhecia aqui, as informações sobre a saúde. Pude compartilhar as diferenças entre aqui no Brasil e na Venezuela. E isso é bom, porque precisamos conhecer o local onde estamos”, declara. 

Nancy diz ainda que pôde adquirir novos conhecimentos acerca dos direitos trabalhistas e também de violências enfrentadas pelas mulheres, como a moral e patrimonial, que não sabia até então. Agora, a venezuelana está estudando português e, como sempre gostou de empreender, deseja atuar na área comercial. 

Capacitação e integralização 

Cerca de 20 voluntários estiveram envolvidos na ação, majoritamente composta por mulheres. Alguns dos temas abordados foram a Casa da Mulher Brasileira de Curitiba, que é referência no trabalho de atendimento a todos os tipos de violência contra a mulher (física, psicológica, sexual, patrimonial e moral), assim como os Direitos e deveres no Brasil, com os direitos das mulheres, a Lei Maria da Penha nº 11.340/2006, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) na Lei nº 8.069/1990, os direitos do idoso, a saúde pública, defensoria pública e a integração local, com transporte público e instituições úteis. 

As profissionais também apresentaram os direitos trabalhistas e realizaram uma oficina para a produção de currículos. Para finalizar, as migrantes participaram de uma feira de empregos, na qual puderam entregar seus currículos e conversar com recrutadoras de três empresas que colaboram para a inserção delas no mercado de trabalho. 

“Muitas empresas ainda não estão abertas para receber migrantes refugiados ou, quando abrem vaga, são de entrada e não dão espaço para as pessoas crescerem na empresa ou entrarem já em uma vaga melhor. Observamos que, normalmente, mulheres já têm uma escolaridade maior. Muitas já têm graduação, mestrado, doutorado, e elas têm muita dificuldade para conseguir um emprego melhor aqui. Acho que as empresas entenderem melhor o processo de contratação, pensar em uma forma de integrar, seria um grande ganho”, salienta Gabriella.  

Adriana lembra que a Universidade Federal do Paraná (UFPR) faz o trabalho de revalidação dos diplomas dos migrantes, mas é burocrático e dura um tempo médio de dois anos, período em que as mulheres não podem deixar de trabalhar. Por isso, acredita que, para além da equivalência da graduação, as empresas deveriam considerar abrir vagas para atividades correlatas à formação delas. 

Essa turma foi a que contou com as mais diversas nacionalidades, com mulheres migrantes do Marrocos, de Cuba, do Peru, da Colômbia e da Venezuela. As coordenadoras acreditam que isso é positivo, pois os serviços têm atendido cada vez mais pessoas migrantes e, se tratando de um país com histórico de xenofobia e racismo, isso pode gerar a quebra de preconceitos. 

Da mesma forma, o projeto é o ensejo para convidar as pessoas a se prepararem melhor para essa recepção, pensarem sobre o porquê essas pessoas vieram, em que condições chegam e como se sentiriam se tivessem nesse lugar, para prevenir casos de discriminação e de violação de direitos humanos.  

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Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Nayara Rosolen


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