“Foi a primeira vez que alguém acreditou que eu poderia ser mais do que eu mesma imaginava”
Autor: Igor Horbach - estagiário de JornalismoO que parecia ser um caminho sem conquistas, se transformou em uma jornada de autodescobrimento e triunfo na vida de Aline Lopes dos Santos, de 35 anos. Sem conhecer o pai e criada pela avó, nunca teve uma relação muito próxima com a mãe. Ao passar por desafios em sua infância e adolescência, desistiu dos estudos antes de conclui-los.
A maternidade chegou cedo, aos 20 anos, o que solidificou ainda mais seu papel de provedora. Durante sete anos, a estudante trabalhou na prefeitura de sua cidade, passando pela função de zeladora e depois como merendeira. Embora estivesse feliz em ter um emprego estável, sentia-se limitada profissionalmente. O estímulo para retomar os estudos veio em 2018, quando uma professora da creche sugeriu que Aline considerasse a Educação de Jovens e Adultos (EJA). “Foi a primeira vez que alguém acreditou que eu poderia ser mais do que eu mesma imaginava”, conta emocionada.
Na busca por um lugar que possibilitasse estudar de qualquer lugar, Aline encontrou a Uninter, através do Polo de Cascavel (PR). “Tive muito apoio do Polo e até das professoras onde eu trabalhava”, relembra ao contar que a Diretora do CMEI onde trabalhava permitia o uso dos computadores para que pudesse estudar.
Durante 18 meses, concluiu o EJA e, pouco tempo depois, se matriculou no curso de bacharelado em Educação Física, também pela Uninter. “Quando comecei a estudar, passei a enxergar o estudo de outra forma. Eu realmente comecei a gostar, a me dedicar”, relata, destacando a importância desse apoio para sua continuidade.
Paralelamente, Aline desenvolveu um profundo interesse pela musculação, motivada por sua própria jornada de bem-estar físico e pela falta de atenção e instrução que percebeu em algumas academias. Isso se tornou determinante para seguir esse caminho na área. Contudo, ela não esperava que enfrentaria outro problema, esse, social: o machismo.
“Eu sentia que os outros professores ficavam de olho, às vezes de forma desnecessária, em como eu trabalhava para ver se eu iria errar”, desabafa. “Não me intimidei, pelo contrário, isso só aumentou minha vontade de estudar mais e de fazer a diferença”. Com isso, Aline seguiu o caminho do empreendedorismo e com apoio do marido, Vanderlei, abriu sua própria acadêmica.
A abertura do negócio, em meio aos desafios financeiros e à rotina exaustiva, trouxe novas perspectivas e mostrou o quanto Aline havia evoluído profissionalmente. Em seu espaço, Aline se dedicava a tratar os alunos com a atenção e a orientação que ela mesma havia sentido falta no início. Ela não só passava treinos, como também orientava cada movimento e incentivava o autocuidado. “Agora, eu trato meus alunos como eu gostaria de ter sido tratada”, afirma.
Com o dia a dia na academia, Aline sentiu a necessidade de se especializar cada vez mais em áreas correlacionadas a Educação Física. Isso a motivou a voltar para a Uninter, agora como estudante do curso de bacharelado em Nutrição e pós-graduanda em Biomecânica e fisiologia do exercício.
Segundo ela, a ideia é oferecer um atendimento completo, que una instruções de treino e alimentação adequada, visando melhorar a qualidade de vida dos alunos. “Eu quero oferecer o serviço mais completo possível. Que os meus alunos saibam que estão recebendo um trabalho de qualidade”, explica.
Além do empreendedorismo na academia, a profissional também se destacou como fisiculturista. No último ano, chegou a conquistar dois prêmios em sua primeira competição. O impacto dessa mudança é visível não só na sua vida, mas na de seus alunos, muitos dos quais se sentem inspirados por sua trajetória.
“Ela sempre diz que os frutos que colhe hoje são por eu ter incentivado ela desde o início”, conta, orgulhosa, sobre o caso que mais lhe emociona: o de sua tia, que antes tinha vergonha de praticar atividades físicas e, motivada por Aline, hoje mantém uma vida mais saudável.
O estudo e a prática transformaram não só a vida profissional, mas também a autoestima de Aline. Quando olha para trás, para aquela adolescente que largou a escola, sente uma mistura de gratidão e orgulho. “Eu passei por muita coisa que poderia ter me feito desistir, mas eu sei que Deus tem um propósito para mim”, finaliza.
Autor: Igor Horbach - estagiário de JornalismoEdição: Larissa Drabeski