O dia em que o jornalista demitiu o técnico de futebol

Autor: Luiz Garcel - estagiário de Jornalismo

Era dia de jogo decisivo na cidade mineira de Nova Lima. Villa Nova e Democrata se enfrentavam em partida pelo Campeonato Estadual de 2010.

O Villa Nova, comandado pelo técnico Francisco Carlos Ferreira da Silva, o Pirulito, abriu o placar aos 20 minutos. No entanto, o empate veio quinze minutos depois e logo após a virada. O placar final de 4×2 para o Democrata ampliou o momento ruim do Villa Nova

A derrota levou ao questionamento da atuação do técnico, que já havia conquistado o título do campeonato mineiro em 2006 como treinador e atuou como volante do Villa Nova entre 1976 e 1979, e 1986 e 1990.

Repórter da TV Horizonte, Henrique Comini, conseguiu abordar o Presidente do Villa, João Bosco, logo após a partida. A pergunta foi incisiva, questionamento quanto à posição do presidente em relação à derrota em casa, diante da torcida.

– Eu vou demitir o técnico não tem a menor condição! –  esbravejou o presidente.

Assim, a busca do jornalista por uma declaração exclusiva acabou culminando na demissão de Pirulito. E o técnico ficou sabendo da demissão pelo próprio jornalista.

– Pô, via repórter! Pelo jornalista da imprensa! Ele é um despreparado, isso é um absurdo! –  berrou o agora ex-técnico do Vila Nova.

Henrique se formou em jornalismo em 2003, hoje tem 42 anos, mora em Minas Gerais é repórter esportivo da TV Record Minas. Tem uma carreira consolidada no esporte, que sempre foi uma paixão. Já fez coberturas com grandes ídolos da infância, adolescência e da vida adulta. Na lista de celebridades já entrevistadas estão: Messi, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Michael Schumacher e Felipe Massa.

Henrique tem uma rotina atípica. Ele trabalha das 3h da madrugada até as 9h da manhã na TV. Durante o dia, faz atividades físicas e se dedica ao trabalho voluntário. Durante dez anos trabalhou numa instituição chamada Força do Bem, na qual vestia-se de palhaço ou super-herói e visitava creches, asilos e hospitais, levando sempre uma palavra de conforto.

Atualmente, ele frequenta uma Casa Espírita, faz atividades como lanche fraterno para moradores de rua e palestras de autoajuda. Ele não se considera um palestrante, diz ser um “expositor”.

Apesar da rotina já cheia, ele ainda buscava algo mais. Em 2021, na pandemia de coronavírus, Henrique sentiu que devia entender melhor sobre quem somos, porque estamos aqui, de onde viemos, para onde vamos e o que é Deus.

Na busca por respostas a esses questionamentos, Henrique ingressou no curso de Bacharelado em Filosofia da Uninter. As aulas na modalidade EAD permitem que ele estude durante os deslocamentos do seu dia a dia. E a eficácia é comprovada pelo boletim com notas acima de 90. Esse, inclusive, era um ponto de cobrança por parte de sua mãe no Ensino Médio, já que as boas notas não eram tão comuns para o garoto. Hoje, ele faz questão de mostrar as notas do curso de Filosofia para a mãe, que fica toda orgulhosa.

Apesar da rotina na TV e dos trabalhos voluntários constantes, Henrique ainda tira um tempo para dar atenção a família. Ele afirma que a Filosofia traz formas de entender melhor o outro e ajuda a passar de forma mais clara a informação para as pessoas.

Essa busca pela compreensão do universo também contribui com a sua atuação profissional. O jornalista tem o dever de informar com qualidade e precisão, levar a notícia para todas as camadas da sociedade. Nesse trabalho, a análise aprofundada e assertiva dos fatos é de grande valor, aspecto no qual a Filosofia traz grandes contribuições.

Muitos filósofos utilizaram o jornalismo como meio para expressar suas ideias. Depois da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, Sartre, Adorno, Arendt, publicaram em jornais ou concederam entrevistas problematizando aquele evento: seus motivos, consequências e formas de evitar outras catástrofes.

A partir de 1960, na França, Michel Foucault concedeu entrevistas; participou de debates; publicou informativos e respostas a críticos; e, inclusive, atuou na criação do jornal Libération, em 1972.

Conforme o filosofo Gilles Deleuze (1991), “as entrevistas de Foucault devem ser consideradas parte da obra do filósofo, destacando a importância do jornalismo para o pensamento do autor: várias delas foram compiladas e publicadas enquanto “formas de expressão” em livros como “Microfísica do Poder” (1977) e na Coleção “Ditos e Escritos” (1994), sendo decisivas para o conjunto da obra foucaultiana”.

Na visão de Foucault, de acordo com o Doutor em Ética e Filosofia Política David Inácio Nascimento, no artigo A Relação entre a Filosofia Foucaultiana e o Jornalismo: possibilidades para pensar a “Atualidade” : “Filosofia e jornalismo manifestam interesses semelhantes pela “atualidade”, entrecruzando suas práticas, motivo pelo qual se tornou importante dar a necessária atenção ao tema”.

Assim, a dupla formação de Henrique contribui para que possa trazer uma análise mais aprofundada, mas sem deixar de lado a busca pela isenção necessária ao jornalismo.

“É necessário, como jornalista ter um distanciamento para tornar a notícia mais fria, se colocar de fora e fazer uma análise equilibrada, racional e mais filosófica sobre o porquê as coisas estão acontecendo”, avalia.

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Autor: Luiz Garcel - estagiário de Jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal


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