“Não tive incentivo quando jovem, hoje não quero perder tempo”, afirma Samara

Autor: Nayara Rosolen - analista de comunicação

Aos 45 anos, Samara Gonçalves encontrou na educação e na pesquisa a chance de transformar a própria realidade. Hoje faz parte do processo educacional de outras tantas crianças. “Passei por vários momentos difíceis, afinal, ser uma mulher negra, com mais de 40 anos, não foi fácil. Mas conheci grandes professores na Uninter que me apoiaram”, conta a egressa de licenciatura em Pedagogia.

Quando ingressou no centro universitário, em maio de 2019, Samara logo foi dispensada de um trabalho como cuidadora de idosos. Antes disso, porém, passou por diversas funções, como diarista, copeira e cozinheira. E mesmo em uma realidade que parecia distante, permanecia o sonho de realizar a graduação no ensino superior. “Me senti meio perdida na sociedade”, lembra.

O desejo do curso de Psicologia foi adiado devido aos valores encontrados na época. Perdida e desanimada, foi o marido, Leonicio, quem incentivou Samara a buscar outra área. Chegou até a Uninter por indicação de uma amiga, Michele, que estudava na área de Design na instituição. Mas se apaixonou mesmo quando foi pessoalmente conhecer as instalações da sede Divina Providência, no centro de Curitiba (PR), onde aconteciam as aulas de Pedagogia.

“Fui muito bem atendida, senti um pouco de medo, mas fui tranquilizada pelas professoras e me apaixonei pela instituição. Foi a melhor coisa que fiz na minha vida, com certeza”, garante a egressa.

Samara logo se aproximou da área de Pesquisa. Ainda em 2019, foi convidada para assistir a algumas palestras oferecidas em um Colóquio. Lá, foi apresentada à coordenadora da área de Pesquisa e Publicações Acadêmicas, Desiré Dominschek, a quem a estudante pediu para conhecer o projeto do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência e Programa Residência Pedagógica (PIBID RP).

O PIBID compõe a Política Nacional de Formação de Professores do Ministério da Educação (MEC) e promove a iniciação à docência, aprefeiçoando a formação de docentes em nível superior para a melhoria de qualidade da educação básica pública. O programa contempla licenciandos, professores das escolas da rede pública de educação básica e professores das instituições de ensino superior com bolsas.

“Buscamos sempre a qualidade na formação de nossos discentes e futuros professores, com apoio da reitoria, da pró-reitoria e da Escola Superior de Educação Humanidades e Línguas. Trilhamos a tríade do ensino, pesquisa e docência, transformando e qualificando a formação de nossos alunos e dos professores da escola pública”, declara Desiré.

Há dez anos, a Uninter participa dos editais e atualmente a instituição tem parceria com duas escolas da rede pública de Curitiba, que recebem os licenciandos e suas ações: Escola Municipal Mader Gonçalves e Escola Municipal Professora Maria Marli Piovezan.

Em setembro de 2024, foi divulgado o resultado do Edital nº 10/2024 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que confirmou a aprovação do Centro Universitário Internacional para dar continuidade aos Projetos Institucionais em 2025.

“Demorei a acreditar que sou professora e concursada”

Samara não pôde ingressar logo quando conheceu o PIBID, pois precisava aguardar o processo seletivo. No entanto, passou a assistir aos encontros por convite de Desiré. A então estudante não conseguia ir a todos, porque tinha ficado desempregada há pouco tempo e não tinha o dinheiro da passagem. Às vezes, economizava durante a semana para ir às reuniões. Por isso, na mesma época buscou por um estágio em Curitiba e conseguiu uma vaga como profissional de apoio no Instituto Municipal de Administração Pública (IMAP).

“Só o salário do meu marido não dava. Eu gastava quatro passagens por dia, mas para sobrar passagem e dinheiro para as reuniões, andava uma hora e meia para chegar no estágio e economizava no lanche para levar pão de queijo nas reuniões de colaboração para o café da manhã. As reuniões eram quinzenais, mas tínhamos cursos, seminários, e eu sempre participava”, explica.

Assim que os colegas a avisaram sobre a abertura do edital, Samara se inscreveu para o programa e conseguiu uma bolsa para o ano seguinte. Dentro do Grupo de Trabalho (GT) Dialogando com a Didática, participou de seminários e apresentações.

“O PIBID na vida acadêmica é de extrema importância, a pesquisa nos traz conhecimento, confiança, determinação e um olhar sensível para o professor que sabe das dificuldades do chão da escola”, salienta.

Nas escolas, os licenciandos participam do cotidiano e experienciam práticas que proporcionam conhecimento das mazelas e felicidades da educação básica pública brasileira. O elo formativo entre teoria aprendida no curso e prática nas escolas resulta em produções acadêmicas científicas que contribuem para o debate do cenário educacional. Samara realizou as observações na Escola Municipal Professora Maria Marli Piovezan, instituição parceira desde 2018.

“A escola sendo espaço de aprendizagem, contribui com a melhor qualificação docente, oferecendo condições de aproximação da teoria e da prática no dia a dia. Os resultados evidenciam que o PIBID possibilita aos estudantes que ao permanecerem por mais tempo em experiências de observação e ação do cotidiano das escolas públicas, faz com que obtenham melhores resultados. Também contribui com a valorização do professor formador e auxilia na formação dos novos professores, para que conheçam o desenvolvimento das crianças”, diz a diretora da Escola Maria Marli, Viviane Dias.

Há 20 anos na educação, sendo os dois últimos na direção da escola, Viviane acredita que a parceria do centro universitário é fundamental. Além de contribuir para a formação, muitos integrantes do PIBID que vivenciam o cotidiano da educação básica, depois ingressam na rede municipal de Curitiba.

Samara é uma dessas pessoas. Em 2022, prestou concurso para professora de educação infantil na rede pública e conquistou uma vaga. A docente se formou em julho de 2023 e realizou o sonho de ser professora municipal, desejo que guardava desde o ingresso no curso de Pedagogia. Assumiu o cargo em maio de 2024 e agora atua no maternal único do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Santo Antônio.

“Não sei explicar a sensação, estou muito feliz. Ainda não estou acreditando que realizei meu sonho. Demorei a aceitar que sou uma professora e concursada, que mereço tudo o que conquistei (…) Muitas pessoas, como familiares e amigos, achavam uma loucura, pensavam que eu ia desistir, riam e tiravam sarro. Mas eu tinha o apoio do meu marido, dos meus filhos, Leandro e Felipe, e minha prima Meire. Minha família foi fundamental nesse período”, conclui Samara.

A profissional ainda sonha em realizar três desejos: cursar educação especial, realizar um mestrado em educação e conquistar o diploma de Psicologia. “Não tive incentivo quando jovem, hoje não quero perder tempo”, finaliza.

Sobre o PIBID

O edital vigente do PIBID até março de 2024 contava com quatro GTs: Tecnologias Educacionais e Metodologias Ativas em uma Perspectiva Inclusiva, coordenado pela professora Monica Caetano Vieira da Silva; Cineclube na escola: possibilidades na educação infantil e no ensino fundamental, coordenado pelo professor Luis Fernando Lopes; Processos de alfabetização e didática, coordenado pelas professoras Jucimara Bandeira e Kellin Inocêncio; e História das instituições escolares: memórias e patrimônio da cultura escolar e a formação docente, coordenado pela professora Desiré Dominschek.

Todos os coordenadores realizam reuniões formativas com os alunos, para discussão e criação das propostas de atividades a serem desenvolvidas. Além disso, há reuniões mensais nas quais são debatidos textos teóricos que discutem a educação brasileira, correlacionando com a vivência na escola. A cada ano há um cronograma de participação em eventos científicos, como o Encontro de Iniciação Científica e o Fórum Científico (ENFOC) e o Seminário PIBID-RP, que fortalecem as pesquisas da instituição.

“O programa marca a vida de todos os envolvidos, desde nossos alunos aqui da Uninter aos pequenos alunos das escolas parceiras”, afirma a assistente de operações acadêmicas e secretária do programa, Suzana Macedo.

Para todas as atividades desenvolvidas nas escolas, há o apoio das professoras, chamadas de preceptoras, que contribuem na formação prática dos licenciandos e também na escrita de artigos científicos enviados aos congressos e eventos. O edital vigente do programa integrava 13 preceptoras e 61 estudantes integrantes, mas um novo processo seletivo é aberto para o próximo ano.

A nova edição, aprovada no mês passado, inicia em 2025 e terá a duração de 18 meses. Mesmo aqueles alunos que estudam em outras localidades podem participar como voluntários, sem o recebimento de bolsa. Cada aluno bolsista recebe um valor de R$ 700 reais para que possa arcar com os custos de deslocamento, participação de eventos formativos e submissão de trabalhos em eventos, por exemplo.

A professora Ligia Lobo de Assis, que foi a primeira coordenadora em 2014 e atuou por cerca de oito anos no programa, ressalta que a aprovação do PIBID para a Uninter em 2013 “foi importantíssima”. Durante vários anos, foi a única instituição de ensino superior privada e com fins lucrativos que possuía subprojetos em Curitiba.

“É um programa muito importante na qualificação da formação dos estudantes de licenciatura que participam. Ao longo desses mais de dez anos na Uninter, enriqueceu a formação de dezenas de alunos, começando pela pedagogia e depois em outras licenciatura. Além da aproximação com o ambiente escolar e prática docentes, a reflexão e a pesquisa sobre a escola e prática pedagógica são experiências muito valiosas e que só acontecem desta forma, no programa de iniciação à docência”, afirma Ligia.

Em breve, mais informações sobre as inscrições para o novo edital. Acompanhe as novidades no site oficial do PIBID Uninter e no perfil do Instagram da Pesquisa Uninter: @pibid_uninter.

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Autor: Nayara Rosolen - analista de comunicação
Edição: Larissa Drabeski


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