Em um país “multiracial e pluricultural”, Uninter concede 70 bolsas para comunidades minorizadas

Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação

As comunidades quilombola, indígena e cigana foram contempladas com 70 bolsas de estudo integrais para a graduação e para a educação de jovens e adultos (EJA) na Uninter. A política afirmativa de inclusão é desenvolvida pelo grupo de trabalho (GT) Diversidade, composto por 20 professores de diversas áreas das escolas superiores do centro universitário, com a diretora da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas (ESEHL), Dinamara Machado, à frente do projeto.

O intuito dos profissionais é não apenas abrir espaço para que estes povos minorizados acessem e ocupem espaço na educação, mas também de realizar o acompanhamento desse aprendizado e estimular a pesquisa e a prática nas comunidades em que vivem, para que também sejam agentes de mudança em suas regiões. São 50 bolsas destinadas para indígenas e quilombolas e 20 bolsas para ciganos.

Todos os estudantes já realizam a matrícula e iniciam os estudos em setembro. Para recepcioná-los e formalizar a concessão de bolsas, aconteceu a I Calourada da Diversidade, no dia 9 de setembro de 2024. De forma presencial, no auditório do campus Garcez, em Curitiba (PR), e com transmissão ao vivo, por meio do canal do Youtube da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas (ESEHL).

Dinamara diz que quando uma instituição privada e de educação à distância, que chega em todos os cantos do Brasil e no exterior, se propõe a trabalhar nesta realidade, firma um pacto social de mudança com o país. “Para quem sempre trabalhou com R de respeito, temos que respeitar e dar igualdade a todas as pessoas. A Uninter me deu um presente e um presente para a minha carreira, mas é inicial. É o respeito, é a igualdade, é a mobilidade social a partir da educação”, salienta.

Presentes na noite da solenidade, o vice-reitor da Uninter, Jorge Bernardi, o pró-reitor de Graduação, Cursos Técnicos e Extensão, Rodrigo Berté, e a deputada e secretária de estado da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa do Paraná, Leandre Dal Ponte, realizaram a abertura do evento. As falas foram seguidas em uma mesa redonda sobre Políticas Afirmativas, mediada por Dinamara.

“[É] um projeto que olhamos com muito carinho, que iniciamos lá na Ilha de Cotinga (PR)”, afirma Berté. “Isso é cultura, é originalidade. É um passo extremamente importante que a nossa instituição deu. E que outras instituições sigam o exemplo da Uninter. Nós teremos mais profissionais no ensino superior, teremos mais professores indígenas [que serão] professores dos indígenas. Quando fomos à Cotinga, foi isso que enxergamos”, confirma o pró-reitor, parabenizando a todos os envolvidos na iniciativa.

Bernardi acredita no sucesso do Programa Diversidade e também que, enquanto instituição privada, a Uninter pode ser exemplo para que outros grupos educacionais acolham entre seus estudantes, aqueles das comunidades cigana, indígena e quilombola. “O objetivo é justamente permitir e possibilitar”, conclui.

Os convidados da noite foram o coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil no Sul (APIB/Sul), Kretã Kaingang, o coordenador de Educação da Federação Estadual das Comunidades Quilombolas (FECOQUI) do Paraná, Benedito Florindo de Freitas Junior, e o fundador e presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana (Apreci), Claudio Iovanovitchi.

“Um sonhar além” para quilombolas e indígenas

A professora da ESEHL, Gisley Monteiro, que é parte do GT Diversidade e a princípio garantiu seu ingresso na instituição para a disciplina de relações étnico-raciais, afirma que a falta de acesso para as comunidades faz parte de um racismo estrutural e uma mentalidade no país que faz as pessoas acreditarem que determinada classe e comunidade deve chegar apenas até certo patamar.

“Em específico voltado para as comunidades quilombolas e para os negros em um sentido mais amplo, é muito benéfico quando a gente fala de educação, porque a gente percebe que essa população, e eu me incluo nela, teve muita dificuldade de acesso no nosso período histórico. Essas políticas veem em um movimento de reparação desse nosso passado de não acesso à educação, à saúde, ao trabalho e também aos espaços geográficos. Essas divisões acabaram, aos poucos, limitando essa população”.

Benedito Junior declara que “fazer parte desse momento e dessa acolhida simbólica desse estudante é um marco importante, porque [o quilombola] não tinha acesso nem à educação básica e hoje tendo nossos jovens vindos para ingressar na universidade é marcante, tanto para nossa juventude, nós quilombolas que estamos hoje na liderança, mas também os nossos ancestrais ficam contestes”, declara o coordenador de Educação da FECOQUI.

Kretã acredita que os indígenas nunca tiveram uma instituição de ensino superior “tão grande” ao lado deles e que o espaço educacional no geral não é construído para os povos originários. No presencial, as adaptações se tornam ainda mais difíceis, o que dificulta a permanência nos estudos e acarreta a desistência dos estudantes.

“Por exemplo, uma mãe que vem para a universidade com crianças… A bolsa [neste caso] não é suficiente para manter a permanência, por isso a universidade tem que pensar em todos os detalhes. E eu acredito que esse formato da Uninter vai ser importante para nós, povos indígenas de todo o Brasil, para que todos acessem”, complementa o coordenador executivo da APIB/Sul.

Karina Santos, que também ingressou na Uninter por meio de uma política afirmativa de inclusão, em um edital específico para profissionais indígenas, acredita na caminhada vanguardista que o centro universitário tem trilhado na educação de ensino superior. Sem o “olhar de piedade”, mas de integração social de fato.

“Não é só um ato reparatório, mas um ato de cidadania (…) Além das oportunidades na sociedade como questão de carreira profissional, a gente percebe também a autopromoção. Você se sente mais digno, mais potente enquanto ser humano. Toda pessoa que tem uma boa profissão se sente mais digna e começa a querer bem a si próprio, então é um afagar a si mesmo. Você oferece uma promoção em questão de conhecimento, de estudo, a própria vida começa a se encaminhar para rumos diferentes quando tem uma boa formação”, acrescenta a docente.

Gisley e Karina recordam do relato de um estudante indígena que não tinha perspectivas de futuro educacional e profissional com a finalização do ensino médio. “E agora, o que vai ser?”, se questionava o jovem. Karina diz que esse questionamento “traz uma enxurrada de pensamentos que talvez atrapalhassem o sonho desse menino”, por isso as bolsas concedidas pela instituição proporcionam “um sonhar além para essas populações”

“Percebemos que as opções ampliam para as pessoas. Acho que essa abertura é um novo olhar, uma nova perspectiva para aquela pessoa que acreditava que aquilo era o que ela conseguiria atingir. Hoje essa possibilidade de acessar outros espaços, outros lugares na questão do trabalho e da visibilidade social, não tem preço. As bolsas alimentam essas expectativas, esses sonhos de cada um dos estudantes”, finaliza Gisley.

O “divisor de águas” para a comunidade cigana

Mais recentemente incluídos na política afirmativa da instituição, os estudantes ciganos passaram por uma banca de heteroidentificação no dia 27 de agosto de 2024, formada por Dinamara e os professores Thiana Becker, Giseli Rodacoski e Marcos Klazura, além da secretária executiva nacional da Confederação Brasileira Cigana (CBC), Nardi Casanova.

Nardi explica que, devido à itinerância, muitas vezes se torna difícil para a comunidade cigana se manter nas escolas ou faculdades. No entanto, a EAD permite e dá essa oportunidade, para que se capacitem profissionalmente e ocupem espaços de direito com protagonismo. “Representa inserção, o reconhecimento da Uninter pela etnia e o respeito, acima de tudo, para todas as famílias ciganas do Brasil”, garante.

Convidado da I Calourada da Diversidade como representante da comunidade cigana, Claudio Iovanovitchi diz que este é um momento histórico, de acesso à “usina do conhecimento”. “Para o meu povo cigano, é um verdadeiro divisor de águas. A gente conta com todo esse apoio, vindo pela Uninter, [mesmo] sem lei. A sensibilidade da Uninter é um divisor de águas. Eu espero, sinceramente, que os ciganos que estão inscritos aproveitem, porque é um novo tempo para o cigano brasileiro. A Uninter dá um passo à frente e mostra para esse país multiracial e pluricultural como se faz com boa vontade”, afirma o fundador e presidente da Apreci.

A professora Thiana lembra que a educação em si é um direito humano previsto para todos e a Uninter é pioneira em abraçar causas da diversidade e inclusão. Por isso, enxerga esse momento como inovador. Giseli complementa que, apesar de antiga, a educação carrega uma tradição com muitas regras, em um cenário focado na escola. No entanto, a profissional percebe um movimento de rediscutir os direitos e o foco no estudante.

“Assim, a gente consegue ter a realidade atual de incluir outras culturas que, por tradição, não ficam em um mesmo lugar territorial (…) É um exercício de negociação que estamos conseguindo fazer e viabilizar o acesso à educação para culturas que eram antes excluídas”, garante Giseli.

Marcos, que também compõe o GT Diversidade, pensa nesses processos seletivos de inclusão como uma forma de contribuir para a redução da desigualdade histórica e de grupos invisibilizados. De acordo com o docente, uma “grande oportunidade” de possibilitar a educação para a população de um país que contabiliza cerca de 20% dos habitantes com nível superior.

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Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação
Edição: Larissa Drabeski


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