Pioneira e inclusiva, Uninter concede 20 bolsas de estudo para povos ciganos

Autor: Nayara Rosolen - jornalista

“Nossas mulheres leem o futuro, mas nosso futuro passa pelas mãos dos professores”. Mesmo com a valorização à docência expressa no ditado cigano, a comunidade cigana ainda enfrenta dificuldades para ingressar em instituições de ensino.

O Plano Nacional de Políticas Públicas para os Povos Ciganos foi instituído apenas em 1º de agosto de 2024, por meio do Decreto nº 12.128. Há pouco mais de uma década foram definidas as diretrizes para o atendimento de educação escolar para populações em situação de itinerância, com a Resolução do Conselho Nacional de Educação e da Câmara de Educação Básica (CNE/CEB) nº 3, de 16 de maio de 2012, com base no Parecer CNE/CEB nº 14/2011.

Em uma parceria histórica com a Confederação Brasileira Cigana (CBC), a Associação e Preservação da Cultura Cigana do Paraná (Apreci) e o Coletivo das Mulheres Ciganas do Brasil (COMCIB), a Uninter realiza um processo seletivo para a oferta de 20 bolsas de estudos integrais para ciganos das etnias Rom, Calon e Sinti.

São dez bolsas para as graduações da Uninter na modalidade EAD e dez bolsas para a Educação de Jovens e Adultos, todas na educação à distância (EAD). O processo seletivo, também de inclusão educacional, segue a mesma modalidade, que está espalhada por todo o Brasil. “A modalidade que tem crescido ao longo do tempo e oferecido cidadania as pessoas que ficavam muitas vezes marginalizados”, declara a diretora da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas (ESEHL), Dinamara Machado.

“Esse é o papel de uma instituição que reconhece os povos que ajudaram no desenvolvimento desse país, mas que ainda vivem marginalizados. Este pode ser um exemplo para o governo transformar hoje a inércia em políticas públicas, em uma ação para atender os povos ciganos e um exemplo para as instituições privadas para também fazerem seu papel de inclusão social por meio da educação”, afirma a diretora.

Dinamara salienta que, para além da prova de vestibular, os candidatos passam também por uma banca de heteroidentificação, composta por membros do Grupo de Trabalho (GT) de Diversidade da instituição, que analisam os documentos apresentados para a representação étnica.

A Secretária Executiva Nacional da CBC, Nardi Casanova, o Presidente da Apreci, Claudio Iovanovitchi, e a Presidente da COMCIB, Tatiane Iovanovitchi, como líderes e ativistas há muitos anos, incentivam e ajudam as crianças, os jovens e os adultos ciganos para que tenham novos anseios e aspirações. As lideranças percebem a importância da iniciativa para a socialização, respeito e inclusão.

“O apagamento histórico do nosso povo cigano nos livros fez com que nossa luta fosse árdua e difícil, com muito preconceito, racismo, ciganofobia (…) É um momento de aprendizagem e agradecimento, pois muitos não conseguem pagar faculdade. Valorizamos esse momento e temos que ensinar as novas gerações a combater estereótipos através da educação”, declaram as lideranças.

Embora invisibilizados, os povos ciganos estão no país desde por volta da década de 1570 e a cultura cigana está presente na sociedade por meio da arte, da dança, das músicas e das vestimentas que influenciam os modismos. As autoridades das organizações parcerias ressaltam a importância de incluir a história destes povos nos livros.

“[Temos que] lembrar dos sete ferreiros que faziam parte das caravelas portuguesas que chegaram ao Brasil, chamados que indianos. Fomos os músicos que alegravam as festas da corte, os primeiros oficiais de justiça e meirinhos, os artistas, poetas, músicos e circenses. São pesquisas realizadas por nossos ciganos, pesquisadores e antropólogos de muito respeito, como Rodrigo Geveger, Aluizio Azavedo, Jucelho Dantas e tantos outros que temos orgulho. É necessário lembrar do quanto se dedicaram e estudaram”, salientam.

As lideranças afirmam que têm convicção do acolhimento e da riqueza cultura da oportunidade de os povos ciganos estudarem, por meio do acesso às bolsas disponibilizadas pelo chanceler do centro universitário, Wilson Picler, “com um olhar que sempre faz a diferença na educação”. “Mesmo [para] os nossos ciganos itinerantes, pois a educação à distância é isso, proporcionar e garantir educação a todas as etnias”, complementam.

Destacam ainda que a Uninter, através dos quase 800 polos no Brasil e no exterior, também ancora e motiva os povos ciganos contra as perseguições e preconceitos. E, por meio da iniciativa, ficará marcada na história como a primeira instituição particular que incluiu os ciganos com atitude na educação.  Como diz outro ditado cigano, “a melhor maneira de perder o medo e respeitar o desconhecido é conhecê-lo”.

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Autor: Nayara Rosolen - jornalista
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Nayara Rosolen


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