Material radioativo furtado em São Paulo: e agora?

Autor: *Evelyn Rosa de Oliveira

No dia 5 de julho, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) emitiu um comunicado público sobre o furto de um veículo contendo material radioativo na cidade de São Paulo. O veículo, devidamente identificado com o símbolo internacional de radiação ionizante, foi roubado por uma imprudência do motorista, que decidiu levá-lo para um local diferente do pátio seguro onde deveria estar durante a noite. Esse incidente tem gerado preocupação e debates públicos significativos. Os materiais radioativos presentes, utilizados na produção de radiofármacos para exames de medicina nuclear, são transportados em unidades de blindagem de chumbo, por questões de segurança. 

Dentro do veículo, estavam um gerador de 68Ge/68Ga e quatro unidades de blindagem de geradores de 99Mo/99mTc. O que mais preocupa nessa situação é o gerador de 68Ge/68Ga, que converte Germânio 68 em Gálio 68, utilizado na produção de radiofármacos. Todos os materiais radioativos têm uma característica chamada meia-vida, que é o tempo necessário para que metade da atividade inicial decaia. O Germânio 68 possui uma meia-vida de 270 (95 dias), enquanto o Gálio 68, utilizado nos exames, tem uma meia-vida muito curta, de apenas 68 minutos. 

É importante destacar que o incidente não representa um perigo radiológico significativo para a população. De acordo com os protocolos internacionais e relatórios técnicos da CNEN, o material de Germânio/Gálio, de baixa atividade, é classificado como categoria 4, indicando um risco mínimo. Contudo, isso não minimiza a seriedade do incidente, que evidencia falhas nos protocolos de segurança e transporte da empresa, essenciais para a confiança pública na gestão de materiais radioativos. 

Embora seja possível que os criminosos não tenham percebido inicialmente a natureza radioativa do material, concentrando-se apenas no veículo em si, não podemos descartar a possibilidade de interesse específico no material radioativo. No mesmo dia do comunicado da CNEN, a polícia encontrou uma das unidades de blindagem de gerador de 99Mo/99mTc em um local de desmanche de veículos. No entanto, ainda não há informações sobre os demais materiais ou o paradeiro do veículo. A resposta ágil da CNEN na coordenação dos esforços para recuperar o material roubado e informar as autoridades é digna de reconhecimento. É essencial que a população esteja ciente dos procedimentos de segurança, mesmo em situações de risco mínimo. E caso os materiais sejam encontrados, deve-se manter distância e evitar qualquer contato direto para impedir a contaminação. É importante entrar em contato imediatamente com a CNEN pelos números (21) 98368-0734 ou (21) 98368-0763, além da polícia. 

Embora este incidente nos faça lembrar do trágico episódio com o Césio 137 em Goiânia, no ano de 1987, que resultou na contaminação e em mortes, é importante notar que o nível de atividade radioativa envolvido atualmente é considerado de baixo risco. Portanto, podemos ficar aliviados, pois não há chance de uma tragédia de grandes proporções se repetir nessa situação. Por fim, este incidente serve como um lembrete de que a segurança não é um compromisso que pode ser negligenciado, especialmente ao lidar com tecnologias tão potencialmente perigosas quanto as fontes radioativas. 

*Evelyn Rosa de Oliveira é tecnóloga em Radiologia, mestre em Engenharia Biomédica. Professora e tutora do Curso de Tecnologia em Radiologia na UNINTER 

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Autor: *Evelyn Rosa de Oliveira
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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