Desastre no Rio Grande do Sul levanta reflexão sobre o papel da Defesa Civil
Autor: Rafael Lemos - Assistente de ComunicaçãoEm tempos do atual desastre que acomete o Rio Grande de Sul, ganha relevância a reflexão sobre o papel da gestão pública, mais especificamente da Defesa Civil. De acordo com o boletim emitido pelo órgão daquele Estado, de 20 de maio, às 9h, as enchentes afetaram 463 municípios, o que representa 93,16% das cidades gaúchas. São 2.339.508 pessoas atingidas, em que 76.188 estão em abrigos, 581.633 estão desalojadas, 88 estão desaparecidas e são 157 óbitos confirmados.
Para o inspetor e coordenador da Defesa Civil de Curitiba, Nelson Ribeiro, o principal papel do órgão é a prevenção, e não apenas a atuação no momento do desastre. É preciso haver mudança de comportamento e de percepção sobre a ação do órgão em todos os níveis. Para ele “é inadmissível, hoje, uma Defesa Civil ficar esperando o desastre para atuar. Ela tem que preparar tudo antes, ter o plano de contingência, ter capacitado todos os órgãos da prefeitura que vão dar auxilio a ela, trabalhar com as comunidades a formação dos núcleos comunitários, principalmente daquelas áreas vulneráveis”.
Ainda, segundo Nelson Ribeiro, em cidades de pequeno e médio porte, o departamento de Defesa Civil não é bem equipado e preparado com suporte e recurso. Isso implica que, numa emergência, a resposta não é efetiva. Quando o Órgão é preparado, são feitos simulados em comunidades vulneráveis, plano de contingência, capacitações com a população, formação dos núcleos comunitários e planos de auxílio mútuo. E feito todo um trabalho para que, quando a emergência ocorrer, haja protocolo em que todos os outros organismos estejam organizados dentro do sistema da Defesa Civil.
Abrangência da Defesa Civil
O sistema de Defesa Civil compreende as esferas federal, estadual e municipal, entretanto é obrigação dos municípios a realização da gestão de riscos. E para isto, a gestão precisa do coordenador de Defesa Civil. Quando a cidade tem esse profissional capacitado, num eventual desastre, o município consegue receber recursos do Governo Federal para reconstrução.
A cada ano mais comunidades são afetadas por eventos adversos da natureza. As cidades, muitas vezes, priorizam a gestão de desastres em detrimento da gestão de risco. Algo que deveria ser o oposto. De acordo com Nelson Ribeiro, o mapeamento de risco pode ser feito de duas formas: por meio do conhecimento das pessoas a respeito da cidade, com histórico de onde acontece o problema. Ou com a contratação de empresa especializada.
Para o inspetor “qualquer município pode pegar os servidores e mapear a cidade. Não precisa esperar uma equipe técnica, uma equipe capacitada para fazer isso, sendo que você já conhece os riscos, as áreas de risco que tem na cidade”, relata. Ele considera essa ação efetiva e rápida, pois normalmente os servidores pertencem às comunidades e conhecem os pontos vulneráveis.
Outro ponto que Nelson Ribeiro destaca é que faltam ações para mitigar os problemas quando os riscos são conhecidos. A criação de canais extravasores e parques inundáveis são bons exemplos que podem ser adotados nas cidades. Outra questão é a mudança de atitude e conscientização da população: “Nós temos que ter uma mudança muito profunda. Na forma de agir, na forma de pensar, todos nós! Todos os seguimentos da sociedade, temos que ter essa mudança profunda. Não cabe mais, não é mais admissível pessoas jogarem o resíduo dentro do rio, destruírem as árvores ao redor do rio que segura aquela encosta, degradar a natureza. Isso não poderia mais existir porque é isso que está acabando com nosso planeta”, finaliza.
Esse assunto foi pauta do programa Gestão em Debate, da Rádio Uninter, com tema: Segurança Cidadã e Defesa Civil: proteção da Comunidade que teve Nelson Ribeiro como convidado, para trazer sua experiência de 26 anos na área. O inspetor tem conhecimento sobre a atuação do órgão nas diversas cidades brasileiras e inclusive de outros países como Japão e Holanda.
Autor: Rafael Lemos - Assistente de ComunicaçãoEdição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Instagram da Prefeitura de Porto Alegre/Gustavo Garbino