Lillian Rosemback: símbolo de luta da mulher trans no ramo das tecnologias
Autor: Adriane Vasconcelos de Souza - Assistente de Comunicação Acadêmica“Ser mulher trans no Brasil é uma guerra”, afirma Lillian Rosemback sobre os desafios enfrentados, em especial no mercado das tecnologias.
Formada em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, ela é pós-graduada em Segurança e Defesa Cibernética e atualmente é estudante de Bacharelado em Física pela Uninter. Além disso, também faz Mestrado em Estudos Estratégicos, na linha de pesquisa de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Com talento nato para a tecnologia, a estudante enfrentou muitas dificuldades no ensino básico. “É algo até difícil de falar. Sendo neurodivergente não diagnosticada na época, minha experiência na escola foi um tanto quanto conturbada. Professores muitas vezes acabavam mais me impedindo de progredir do que ajudando”, comenta.
Embora nunca tenha tido problemas com reprovações, a escola sempre representou um ambiente de hostilidade para Lillian. Mas a paixão pela tecnologia foi mais forte do que as adversidades. A estudante comenta que não tem ideia do que teria acontecido não fosse a tecnologia em sua vida.
Sua paixão pela área de estudo surgiu ainda durante a infância, aos oito anos de idade. “Quando eu vi o filme Hackers, de 1995, com a Angelina Jolie, fiquei maravilhada com aquele universo. Resolvi então que ia aprender aquilo. E, desde esse dia, minha vida tem se transformado através da tecnologia”, destaca a acadêmica.
O ingresso na Uninter
A Uninter foi quase que uma coincidência ou “coisa do destino”. Em uma pesquisa na internet, enquanto buscava por um bacharelado em Física EAD, a Uninter foi a única universidade que apareceu nas buscas feitas pela estudante. Procurando saber mais a fundo sobre o curso e analisando a grade curricular oferecida, ela acabou se animando com a possibilidade da nova graduação, relembra.
Desde sua entrada na Uninter, ela se envolveu em muitas atividades que têm lhe rendido destaque dentro do centro acadêmico.
“Após entrar, eu participei do programa Global Ambassadors, que foi brilhante para meu crescimento profissional, pessoal e acadêmico. Hoje participo do grupo de pesquisa em computação quântica do professor Daniel Tedesco”, conta Lilian.
De acordo com a estudante, a instituição oferece um espaço onde se sente acolhida, uma coisa que não tinha sentido em outras instituições que já estudou. Segundo ela, o apoio dos orientadores também foi fundamental para construir esse ambiente.
“Sou muito grata à orientadora Pedagógica, Fernanda, do PAP Tijuca, que tem sido indispensável em sanar meus problemas de acessibilidade e todo o time do SIANEE também, bem como ao professor Tedesco, que tem me apoiado na minha jornada científica”, ressalta.
A publicação do artigo em site de destaque internacional
Como resultado de sua dedicação à temática da cibersegurança, Lilian tem se debruçado sobre a pesquisa. Seu conhecimento à frente do time brasileiro da Cysource, uma empresa israelense especializada em segurança digital, lhe ajudou em sua mais recente publicação.
Sobre a atuação da empresa que lidera, ela explica que a “CySource tem dois pilares de atividades: o de treinamento, onde se desenvolvem as capacidades cibernéticas, tanto hacking quanto defensivas, e de projetos, por meio do qual se fazem os testes de intrusão nos sistemas dos clientes medindo o nível de segurança deles e orientando como podem melhorar”, conta.
Lillian teve seu artigo publicado no site da Cysfera, gigante israelense do ramo da segurança digital que presta serviços a empresas brasileiras.
A intenção era levar informações de forma “descomplicada”, para que qualquer pessoa pudesse ler. Além de esclarecer possíveis equívocos sobre o tema.
Os desafios do mercado de trabalho para mulheres trans
A estudante conta que, hoje em dia, o preconceito tem se ausentado no trabalho, talvez pela carência de profissionais da área. Embora também tenha vivenciado casos de transfobia por parte de diretores de algumas empresas em que trabalhou no ramo da tecnologia.
Sobre o universo da tecnologia, Lilian conta que é comum as mulheres serem silenciadas. “Já tive minha opinião profissional ignorada em favor da de algum homem que estava falando alguma coisa que não era tão precisa”, relata.
Outra questão, que segundo a estudante é pouco debatida, é o assédio nesse meio. “Já passei por situações muito constrangedoras em algumas empresas em que atuei, tanto brasileiras quanto europeias”, relembra.
“Hoje, na CySource, não tive mais nenhum problema, mesmo lidando com organizações que nitidamente são preconceituosas, inclusive organizações brasileiras”, salienta
Lillian comenta que mesmo diante das oportunidades que teve para conseguir chegar aonde chegou, sempre precisou entregar o dobro ou o triplo do que seus pares cis e héteros entregavam. Para ela, isso já se trata da transfobia e o preconceito enraizado da sociedade sobre pessoas trans, dificultando o acesso delas ao mercado de trabalho e posições de destaque.
A importância da representatividade
Embora exista um número cada vez maior de mulheres no ramo da tecnologia, “ainda somos uma vanguarda. E como toda mudança, o preconceito acaba sendo um dos problemas que enfrentamos”, ressalta a acadêmica.
E para esses problemas, a denúncia e o envolvimento das autoridades policiais é fundamental para coibir a violência. “Eu fui vítima, assim como centenas de colegas minhas. Se ficarmos quietas deixamos os autores livres para continuarem a agir assim, então vamos sempre denunciar”, orienta.
Lillian pontua que mesmo agora estando nesta posição, de mestranda e líder de uma multinacional – oportunidade que nem todas as mulheres trans conseguem, reconhece que muito precisa ser feito em termos de oferta de oportunidades no mercado de trabalho brasileiro.
Seu desejo é que a comunidade LGBTQIAPN+ ocupe mais espaços na sociedade e que sua luta possa servir de incentivo para outras mulheres a sonharem mais e se fortalecerem diante de suas conquistas. “Quero mostrar que, apesar das dificuldades, a gente pode chegar lá. Mas precisamos correr atrás dos nossos sonhos”, relata Lilian, que viveu na adolescência as dificuldades de conviver com uma família extremamente rígida. Ainda assim, ela conseguiu alcançar um espaço de destaque.
“É um sinal de que nós também podemos!”, enfatiza Lilian.
Consciente das dificuldades da população LGBTQIAPN+ referente ao mercado de trabalho, a estudante deixa suas redes sociais à disposição para quem queira conversar sobre carreira e desenvolvimento profissional. “Sei como é complicado, mas se eu puder inspirar uma pessoa que seja, já vai ter valido a pena”, finaliza Lillian.
Autor: Adriane Vasconcelos de Souza - Assistente de Comunicação AcadêmicaEdição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Acervo pessoal