Dia dos povos indígenas: um dia de celebração para poucos avanços

Autor: Adriane Vasconcelos de Souza - Assistente de Comunicação Acadêmica

Hoje, 19 de abril, é celebrado o Dia dos Povos Indígenas, uma data que representa não só a contribuição da presença indígena na construção do Brasil, como também abre espaço para reflexões acerca de como o país vem tratando as pautas dos povos originários. Mas uma data não é suficiente para debater todas as questões que envolvem a causa indígena. Mais do que lembrar de sua existência, é preciso garantir sua dignidade, respeito e sua inclusão.  

A professora indígena da Uninter, Resaité (Karina da Costa Santos, registro civil), comenta que “é importante que pessoas indígenas ocupem mais os espaços políticos, onde eles vão poder falar pelo seu povo. Ainda temos muitos não indígenas que falam por nós, mas não conhecem a realidade. É necessária a nossa presença, e faço uso da frase nada sobre nós, sem nós, porque de fato não é possível reivindicar algo, sem que se conheça ou saiba do que precisamos”. A professora é responsável pela disciplina de Relações Étnico-raciais africana, afro-brasileira e indígena na Uninter, juntamente com a professora Gisley Monteiro.

Sobre sua atuação enquanto docente da Uninter e mulher indígena, Resaité comenta que o ensino da sua disciplina busca desmistificar o papel do indígena na sociedade, além de trabalhar a desconstrução de discursos equivocados sobre a história do Brasil e das populações indígenas.  

Ainda sobre a representatividade indígena, a professora destaca personalidades importantes, como o escritor e ativista indígena Ailton Krenak e o líder indígena Raoni Metuktire, da etnia kayapó. Duas importantes potências na luta pelos direitos e reconhecimento das populações indígenas no país. Seus trabalhos têm colaborado para o encorajamento e protagonismo indígena.  

Ailton Krenak, no dia cinco deste mês, assumiu a quinta cadeira da Academia Brasileira de Letras, sendo o primeiro indígena a ocupar este posto. Ao mesmo tempo que isso representa um avanço, também nos faz perceber que se trata de um avanço lento, comparado à grande contribuição, não só de Krenak, como de outros ativistas indígenas. 

Buscando fortalecer a representatividade das vozes indígenas, a Uninter lançou um programa de bolsas de estudos para membros da aldeia Pindoty,  no litoral do Paraná. Por meio dessa iniciativa, a busca é promover o acesso à educação formal sem que eles precisem sair das suas aldeias. Com isso, eles podem alcançar o diploma que permite que os próprios professores indígenas ensinem suas crianças, quebrando o círculo de que, nas escolas, são os brancos que ensinam os indígenas.

Todos os anos celebramos o Dia dos Povos Indígenas, e vemos que as reinvindicações são as mesmas, podemos destacar algumas, como: a demarcação de terras, a valorização da cultura e identidade, a preservação das florestas, o respeito e a garantia de seus direitos. 

É contraditório pensarmos que o Brasil, um país com origens indígenas, que já estavam aqui na época do Descobrimento, agora limita o direito desses povos sobre suas terras. Povos que mantêm uma relação milenar de respeito e manutenção das florestas brasileiras. Os órgãos de proteção têm uma importante contribuição contra a destruição das nossas florestas, mas se hoje podemos vislumbrar um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo e afirmar que a Amazônia é nossa, devemos grande parte disso aos povos fundadores desta nação, os indígenas.  

Ainda assim, nossas lideranças políticas, com suas falsas ideias de progresso, priorizam o lucro, “o desenvolvimento” às custas da devastação da fauna, da flora e de sangue indígena.  

Quantas vidas foram perdidas? Quantos ativistas e defensores da Amazônia e terras protegidas já foram assassinados em virtude do progresso e da ganância? Seja por minério, por construção de hidrelétricas, o discurso é sempre o mesmo, de que é necessário desmatar, extrair, queimar e destruir para o Brasil avançar! Quantos gramas de mineral está valendo a vida de uma pessoa indígena, afinal? Quantos mais precisam morrer para defender o que é seu por direito? Quantas crianças Yanomami precisam morrer pela contaminação do mercúrio dos garimpos? 

Entre 2019 e 2020, mais de 500 crianças Yanomami de até 5 anos morreram de doenças evitáveis contaminas por mercúrio, desnutrição e fome, segundo o Ministério dos Povos Indígenas. 

Com uma área de mais de 9 milhões de hectares, em um perímetro de 3.370 km, a terra indígena Yanomami está localizada Amazônia Legal, ocupando parte dos estados do Amazonia e Roraima, na região Norte do Brasil.  

Conforme levantamento do mapbioma, a área de garimpo no Brasil ultrapassou de 99 mil hectares para 196 mil hectares, entre os anos de 2010 e 2021. A expansão do garimpo se estendeu para as áreas protegidas, como os territórios indígenas e locais de conservação. As áreas de garimpo cresceram 632%, tomando quase 20 mil hectares. A terra indígena mais explorada foi a Kaiypó, no estado do Pará, com 11.542 hectares, usadas agora para atividade garimpeira. 

Esses dados, só reforçam a falta de comprometimento dos governos em relação aos indígenas e mais do que isso, mostra total desinteresse pela vida desses povos que precisam das suas terras e seus rios para subsistência. A contaminação da água – necessidade básica de sobrevivência, é um crime contra a vida. Por esse motivo, se faz necessária a representatividade indígena nas diversas esferas sociais para que situações como essas parem de se repetir.  

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Autor: Adriane Vasconcelos de Souza - Assistente de Comunicação Acadêmica
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil


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