EAD e a resistência à mudança na educação
Autor: Daniel Guimarães TedescoO viés de negatividade é uma tendência humana que nos leva a dar mais atenção aos fatos negativos do que aos positivos. Essa tendência pode levar a julgamentos equivocados, como a rotulação de grupos inteiros de pessoas com base em experiências negativas individuais. Frases como “pastor rouba os fiéis no dízimo” e “todo político é ladrão” são exemplos dessa tendência. É importante lembrar que, embora existam pastores e políticos corruptos, também existem muitos que fazem um trabalho relevante. Posso pontuar que o mesmo ocorre com a modalidade de Educação a distância que tem sido alvo de críticas e rotulada pelo Ministério da Educação (MEC).
Essa impressão se manifesta com as discussões do documento referência proposto na Conferência Municipal Extraordinária de Educação. Participei desta etapa municipal da Conferência Nacional de Educação (CONAE), que ocorreu nos dias 13 e 14 de novembro. O documento fala sobre diversos desafios da educação, mas em especial começa uma discussão sobre a importância da regulação, supervisão e avaliação da EAD, mas já começa categorizando como inferior se comparada à educação presencial.
Analisando o discurso, temos um documento que diz que a EAD deve ser usada com cautela e que é um risco pedagógico, pois substitui as atividades de ensino e de aprendizagem presenciais. Menciona até que esta modalidade era uma exceção e se tornou a modalidade mais presente na educação básica e superior e se tornou nas entrelinhas do discurso “um negócio de venda de diplomas”.
Este documento referência que foi lido e discutido, no que tange à EAD, parece que foi escrito por alguém que não entendeu o potencial da modalidade no sentido da “garantia do direito de todas as pessoas à educação de qualidade” Nesta discussão, o texto é além de confuso na aplicação da EAD nos diversos níveis, transparece a visão obscurecida pelos péssimos exemplos que surgem nos noticiários.
Acho muito válida a discussão sobre a qualidade no ensino superior e a manutenção regulada dessa na EAD, e todos ali estavam em busca deste mesmo objetivo. A minha participação foi em uma fala sobre o uso inadequado das instituições da modalidade para diminuir suas folhas de pagamento e precarizar a vida do docente/tutor, mas destaquei a existe qualidade na EAD e que ela vem para somar como mais uma alternativa inclusiva.
A mesma crítica da amplitude pode ser usada como proposta de inclusão, visto que esta modalidade chega em lugares que o poder público não consegue chegar espacialmente. Os povos quilombolas e indígenas, que para ter acesso à educação superior precisam sair de suas localidades pois não existem políticas de educação que abraçam de forma categórica. Na realidade, até nos grandes centros vemos esse processo excludente.
Por fim, interpreto a reação contra a EAD como uma das diversas quebras de paradigmas da sociedade e que precisamos entender enquanto coletividade os benefícios desta modalidade como mais uma alternativa viável. Precisa ser regulamentada, supervisionada e avaliada como a educação presencial, mas sem a tendência humana de categorizar como inferior.
* Daniel Guimarães Tedesco é doutor em Física e professor da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas na Uninter.
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