O repertório sociocultural na redação do Enem

Autor: Igor Horbach – Estagiário de Jornalismo

A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a maior preocupação dos estudantes do ensino médio, principalmente na fase final em que todo e qualquer ponto fazem a diferença. O medo de não pontuar é um dos grandes empecilhos na hora de construir a argumentação do texto e trazer uma proposta de intervenção.

A estrutura do texto dissertativo-argumentativo que o Enem exige é complexa e repleta de desafios narrativos, de língua portuguesa e conhecimento de mundo para um público que muitas vezes possui vivências culturais extremamente difusas. Entre as várias formas de construir uma argumentação, a que se destaca entre os especialistas é a de repertório sociocultural. Ou seja, os conhecimentos prévios adquiridos pelo estudante através de notícias, história, literatura, filosofia e sociologia com base em seus pontos de vista pessoais.

“A redação do Enem tem essa exigência do participante mostrar um conhecimento mais amplo”, comenta a doutoranda em Educação Izabel Jensen, pesquisadora da redação do Enem.

Para a construção desse repertório, é necessário que o estudante comece a criar os hábitos de pesquisa através de consumo de notícias, de acontecimentos internacionais e de literatura muito antes dos vestibulares. Contudo, para a pesquisadora, outros fatores influenciam nesta formação. “Se ele frequenta teatro, biblioteca ou possui fácil acesso a livros… Como é isso na prática dentro da realidade dele?”, pontua.

Fatores sociais como as condições de alfabetismo dos pais, a renda familiar do estudante, as abordagens pedagógicas nas escolas, sobretudo a diferença das instituições particulares em comparação com as públicas, influenciam na construção dos repertórios socioculturais. Isso ocorre, segundo Jensen, por diversas camadas que se relacionam com a educação no dia a dia. O acesso a informações que estão fora da bolha social do indivíduo em formação pode caracterizar seu repertório e, por consequência, refletir no desenvolvimento de seus argumentos durante as produções textuais.

“Para se destacar no Enem, não pode ter um repertório de senso comum. É ter um conhecimento mais aprofundado das questões sociais com viés da sociológico, histórico e artístico”, aponta a professora.

Esse fator também se aprofunda a partir dos temas escolhidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), organizador do Enem. A pesquisadora salienta que os problemas sociais que muitas vezes são vistos na rua de casa são selecionados. Isto é, assuntos atuais e nem um pouco óbvios, exigindo que o aluno esteja sempre preparado para qualquer tipo de tema.

Além disso, conseguir construir uma relação lógica e concisa com as referências estudadas durante o ano, como livros e conceitos científicos, é um dos quesitos que diferenciam e destacam as redações no vestibular, sendo essa, segundo Jensen, um dos principais fatores para perda de pontuação. “Ter consciência dos conflitos externos e saber aplicá-los à nossa realidade é imprescindível”, afirma a pesquisadora.

Durante o ensino médio, grande parte dos jovens acaba focando apenas na nota final dos boletins escolares em vez da construção do material textual em si. É a partir da segunda metade da fase escolar que a mudança de concepção ocorre. Todavia, Izabel ainda destaca os pontos negativos de prezar somente pela estrutura do texto em detrimento de seu conjunto como um todo.

“O texto não pode ser uma colcha de retalhos. Você precisa argumentar e relacionar”, comenta. Em outras palavras, a estrutura contribui para a construção narrativa dos fatos a serem levantados pelos estudantes, e não o inverso. Ela aponta que o ideal é fazer escolhas mais certeiras, como o consumo de materiais jornalísticos confiáveis para que, ao debater o assunto, os argumentos sejam os mais atuais possíveis.

O tema foi assunto do programa Diversos da Pós, da Rádio Uninter, em 26 de outubro de 2023.

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Autor: Igor Horbach – Estagiário de Jornalismo
Edição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Andrea Piacquadio/Pexels


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