A potência da favela!

Autor: Adriane Bührer Baglioli Brun (*)

No dia 4 de novembro, se comemora o dia da Favela no Brasil. A data remete ao Morro da Providência, no Rio de Janeiro, ocupado por soldados combatentes de Canudos (1896 a 1897), que tiveram a promessa da casa própria para lutarem contra os moradores do Arraial de Canudos, na Bahia. Nessa localidade, existia um morro com árvore chamada Favela. Ao retornarem para o Rio de Janeiro, os combatentes identificaram a semelhança e começaram a chamar o Morro da Providência de Morro da Favela.

Morro, comunidade, gueto… Esses são sinônimos da favela: espaço delimitado na periferia, conhecido pelas ocupações precárias, áreas de risco, vielas, becos, ladeiras que não existem oficialmente. Espaços por vezes esquecidos pela ação pública, pelas políticas públicas e sociais, espaços ocupados por um coletivo de sujeitos sociais que habitam, questionam, reivindicam e se ressignificam como cidadãos.

Segundo dados atuais do censo IBGE 2022, temos 16 milhões de pessoas vivendo em 11.403 favelas, sendo a favela mais populosa a Sol Nascente, em Brasília (87.184 habitantes), seguida pela favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (67.199 habitantes). A favela é espaço de resistência diante das desigualdades sociais, da ausência de habitações, de saneamento, de infraestrutura das inúmeras expressões da questão social postas no cotidiano, como as violências e a pobreza.

Com o advento da pandemia nos anos de 2020 a 2021, os espaços de trabalho formais foram reduzidos significativamente, causando um aumento inversamente proporcional de trabalhos desprotegidos como trabalhos informais, precários, terceirizados. Em contrapartida às dificuldades apresentadas, a favela se mostra potente.

Além do estigma que ainda sofrem os moradores da favela, a favela é um espaço potente, pois é um espaço de mobilização social, de lutas coletivas, de enfrentamentos, criatividade, projetos sociais, repertórios próprios de cultura (como o hip hop e o funk, que demarcam a narrativa das comunidades). Há também espaços de empreendedorismo social, lembrando a fala de Carlos Roberto Ferreira, membro da CUFA (Central Única das Favelas): “vamos mostrar que a favela não é carência é potência”.

Assim, é importante reconhecer que as dificuldades fazem e revelam a potência. A favela deve deixar de ser lugar de políticas públicas de segurança para dar lugar a políticas públicas de arte; deve deixar de ser lugar de ausências para ser lugar de presença (de saúde, saneamento, teatro, cinema); deve deixar de ser lugar de violência para ser lugar de proteção; deve deixar de ser lugar de repressão para ser lugar de ação. Tudo isso privilegiando suas inúmeras costureiras, artesãos, músicos, dançarinos, pedreiros, enfim, brasileiros.

A favela é, e sempre será, potência! Favela potente é feita por pessoas que pensam coletivamente.

* Adriane Bührer Baglioli Brun é Mestre em Educação. Graduada em Serviço Social e Coordenadora do Curso de Bacharelado em Serviço Social da Uninter.

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Autor: Adriane Bührer Baglioli Brun (*)
Créditos do Fotógrafo: Agenda Cultural do Rio


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