Dia do Surdo é data para reflexão e acesso à educação
Autor: Arthur Salles - Assistente de Comunicação AcadêmicaO Brasil possui hoje 2,3 milhões de pessoas surdas e mais de 10 milhões com algum grau de deficiência auditiva. Os números da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2019, equivalem a 1,1% e 4,7% da população brasileira, respectivamente. É como se Belo Horizonte toda não ouvisse nenhum som, ou até mesmo a população inteira da cidade de São Paulo tivesse algum nível de dificuldade para escutar. No mundo, a proporção é ainda maior: 1,5 bilhão de pessoas (20% do total) têm deficiência auditiva, sendo 430 milhões de pessoas (5,5%) com graus elevados de surdez, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ainda segundo a OMS, o número de surdos pode subir para 2,5 bilhões até 2050. A inclusão dessas pessoas a ambientes de sociabilidade, trabalho, cultura, mídia, educação e demais é um desafio para todos que lutam pela acessibilidade e democratização. A evidência do tema e da comunidade surda é o objetivo do Setembro Azul, que presta o dia 26 como data oficial dos surdos por meio da lei nº 11.796/2008. A homenagem recorre ao dia de fundação da primeira escola brasileira de surdos, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), de 1857, na cidade do Rio de Janeiro. O mês especial ainda conta com as celebrações do Dia Mundial da Língua de Sinais (10) e dos Dia Internacional do Surdo e Dia Internacional do Tradutor (ambos no dia 30).
Na Uninter, iniciativas da inclusão de pessoas surdas são feitas de ponta a ponta, da criação de cursos ao atendimento dos alunos. O curso de licenciatura em Letras Libras surgiu em 2022 com o objetivo de garantir direitos e buscar uma sociedade mais justa e inclusiva em seus diferentes contextos. A lei nº 14.191/2021 determinou que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) seja aceita como primeira língua no ensino fundamental, aumentando a demanda de profissionais da educação no desenvolvimento da comunidade usuária de Libras e de suas características.
“A Libras é uma língua, viva e em movimento, constituída e alimentada por milhões de sinalizantes surdos e ouvintes bilíngues. Se você sabe Libras, você é um sujeito bilíngue e com tanto valor quanto outras línguas orais”, conta a professora Rafaela Hoebel, primeira mestra surda aprovada no mestrado em Educação e Novas Tecnologias da Uninter e referência na área.
Mesmo entre os deficientes auditivos, a Libras ainda enfrenta barreiras para plena acessibilidade. A PNS de 2019 revelou que apenas 22,4% dos surdos, com alta dificuldade de ouvir ou nenhuma audição, sabem falar Libras.
Acesso ao ensino
O Serviço de Inclusão e Atendimento aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (Sianee) da Uninter é uma referência entre instituições de ensino superior do Brasil. O setor é responsável por atender os alunos com deficiência do centro universitário, sejam elas físicas, visuais, intelectuais e, claro, auditivas. Em 2022, a instituição registrou 2.058 matrículas (87% a mais que no ano anterior). Os alunos contam com atendimento educacional especial durante todo o curso, com capacitação constante de docentes e polos para o atendimento especial.
Fundado em 2006, o departamento é pioneiro no Brasil, antecedendo até mesmo a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (13.146/2015) que determina às instituições de ensino oferecer um sistema educacional inclusivo em todos os níveis. Dos mais de 10 milhões de deficientes auditivos no Brasil, apenas 7% têm diploma de graduação, com matrículas ainda ativas de 5.978 pessoas com deficiência auditiva, 2.235 com surdez e 132 com surdocegueira, segundo o Ministério da Educação.
“As pessoas com deficiência ingressam e logo saem decepcionadas [do ensino superior] e até se sentindo incapazes. Mas o problema não está nelas, e sim nas instituições que não oferecem um sistema educacional inclusivo e que não cumprem a lei. O comprometimento da Uninter com a inclusão de pessoas com deficiência tem uma importância grandiosa”, afirma a coordenadora do Sianee, Leomar Marchesini.
Entre 2017 e 2023, o setor ultrapassou a marca de 17 mil aulas gravadas em Libras. O Sianee já atendeu a 1.804 alunos desde sua fundação, dos quais 394 finalizaram seus cursos. Hoje, há 545 alunos surdos ativos na instituição e que são atendidos pelo departamento.
O setor ainda conta com iniciativas de reconhecimento e visibilidade às causas de necessidades especiais, como o Prêmio Professor Inclusivo (que reconhece em votação feita por estudantes os professores que melhor se adaptaram na inclusão de todos no processo de aprendizado) e o programa Inclusão em Rede, da Rádio Uninter, que apresenta toda semana discussões sobre acessibilidade em diferentes contextos.
Em 26 de setembro de 2023, os intérpretes de Libras da Uninter Everton Santos e Tiago Saretto conduziram a tradução do telejornal local Tribuna da Massa, em Curitiba (PR). A edição deu enfoque especial à data e pode ser conferida neste link.
Autor: Arthur Salles - Assistente de Comunicação AcadêmicaCréditos do Fotógrafo: Shvets/Pexels
Parabéns pela matéria, realmente é necessário aumentar a inclusão dessas pessoas.