O fim do sonho: Era uma vez um supercondutor!

Autor: Daniel Guimaraes Tedesco (*)

Uma das coisas que gostamos na Física são as descobertas maravilhosas! Em um belo dia começo a receber de amigos um artigo lançado em uma plataforma velha conhecida dos físicos (Arxiv.org), que recebe artigos que não passaram por avaliação com um resultado incrível: o material sul-coreano LK-99, que alegava possuir a capacidade de supercondutividade em temperatura ambiente.

Só para termos uma ideia do quanto essa descoberta seria incrível se fosse real: a supercondutividade é um fenômeno caracterizado pelo fluxo de corrente elétrica através de um material sem resistência elétrica. Isso ocorre a temperaturas extremamente baixas, próximas do zero absoluto, em que os elétrons formam pares de Cooper e podem se mover, através do material, sem sofrer perda de energia devido à resistência. Esse comportamento notável tem inúmeras aplicações potenciais.

Se um supercondutor à temperatura ambiente pudesse ser usado à pressão atmosférica, ele poderia economizar grandes quantidades de energia perdidas para a resistência na rede elétrica. Além disso, poderia melhorar as tecnologias atuais, desde máquinas de ressonância magnética, dispositivos de fusão nuclear até computadores quânticos e trens magneticamente levitados (os famosos maglevs). Infelizmente, ainda não temos esse “Santo Graal” da Física!

Tudo começou quando cientistas da Coreia do Sul anunciaram que haviam criado um material especial, o LK-99. No dia 22 de julho, pesquisadores sul-coreanos divulgaram um estudo no qual afirmaram ter encontrado o comportamento supercondutor a uma temperatura de 30º C. Isso gerou uma busca global pela reprodução do material e pela realização de testes para verificar suas propriedades, mas até o dia da escrita deste texto, nenhum pesquisador conseguiu reproduzir os resultados obtidos.

Como a ciência caminha com a modernidade, o Centro de Matéria Condensada (CMTC) da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, disse no Twitter, em 8 de agosto, que os testes feitos com o material chamado LK-99 não confirmaram sua habilidade de ser um supercondutor. “Com muita tristeza, agora acreditamos que o jogo acabou. O LK99 não é um supercondutor, […] um material de qualidade muito baixa e altamente resistivo. Ponto final! Não vale a pena lutar contra a verdade. Os dados falaram.” Além disso, o centro de pesquisa apontou que estudos realizados por cientistas em diferentes lugares, como China, Índia e Taiwan, sugerem que as alegações sobre o LK-99 ser um supercondutor revolucionário podem não ser verdadeiras.

Essa decepção recente sobre o LK-99 nos revela como é importante a verificação cuidadosa, incluindo aqui, não só nas ciências! Quando existe a empolgação com algo novo ou uma informação que nos inquieta, é fundamental fazer análises detalhadas e testes diferentes para se ter a certeza de que as conclusões são realmente sólidas. Mesmo que o LK-99 não tenha funcionado como esperávamos, a pesquisa por novos materiais é uma das mais aquecidas no mundo. Embora o LK-99 não tenha se revelado conforme esperado, a pesquisa por novos materiais permanece como uma das áreas de maior atenção em escala global. A compreensão da supercondutividade em temperaturas mais altas ainda é um desafio que nos incentiva a continuar explorando novas ideias. Mas confesso que a notícia me entristece pela minha curiosidade sobre o que viria a seguir…

Daniel Guimarães Tedesco é físico, com doutorado em Física pela UERJ. É professor dos cursos de Química, Física e Matemática da Escola Superior de Educação no Centro Universitário Internacional Uninter.

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Autor: Daniel Guimaraes Tedesco (*)
Créditos do Fotógrafo: Rokas Tenys/Shutterstock


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