Projeto Despertar oportuniza inclusão efetiva de colaboradores na Uninter

Autor: Nayara Rosolen - Jornalista

Com o intuito de qualificar e incluir pessoas com deficiência no mercado de trabalho de forma efetiva, o Despertar finalizou o primeiro ciclo completo em julho deste ano e já apresenta a excelência de formar profissionais aptos para a inclusão imediata. Três colaboradores do projeto realizado pelo IBGPEX, Instituto de responsabilidade socioambiental da Uninter, conquistaram a efetivação em áreas diversas do centro universitário.

Vinicius Rodrigues da Rocha, Paulo Henrique da Costa e Ghabriel Caethano Silva ingressaram como auxiliares administrativos no Serviço de Inclusão e Atendimento aos Alunos com Necessidade Educacionais Especiais (Sianee), na área de Pesquisa, Iniciação Científica e Publicações Acadêmicas e no setor de Assuntos Comunitários e de Extensão, respectivamente. Os colaboradores passaram por um estágio de um mês antes da efetivação e entraram para o quadro de colaboradores da Uninter em 1º de julho.

Gerente de projetos sociais do IBGPEX, Rosemary Suzuki, salienta que esse processo e as oportunidades de inclusão só foram possíveis graças à área de Gestão de Pessoas da Uninter, parceira do Instituto no projeto e que está “muito próxima”. Com uma reformulação do curso ofertado, avaliações sistemáticas começaram a acontecer e as analistas de gestão de pessoas passaram a aplicar dinâmicas periódicas, para observar o potencial de inclusão a partir do olhar de quem faz processo seletivo. “Isso também foi fundamental”, aponta.

“Essa parceria, além de ser importante, proporciona uma formação e qualificação, preparando as pessoas para atuarem no ambiente de trabalho e conseguir desempenhar as atividades. Já que, historicamente, as pessoas com deficiência não foram ou estão preparadas para o mercado de trabalho, tendo nesse sentido muitos obstáculos para conseguir uma oportunidade”, pontua o coordenador de Gestão de Pessoas, Christiano Lopes Affonso.

Christiano salienta que as contratações são uma maneira de oportunizar aprendizado e desenvolvimento, propiciando um ambiente inclusivo e com diversidade, além de disseminar o propósito para todos os colaboradores da empresa.

“Para nós, de fato é uma conquista […] São colaboradores que vestem a camisa da instituição, se apaixonam pelo que fazem, recebem essa inclusão como uma gratidão e têm uma entrega muito boa também. É um profissional que quer entregar o melhor”, declara Rosemary.

A profissional ressalta que outras pessoas do projeto também foram contratadas por outras empresas, o que “é um ponto de sucesso, pensar que outras organizações olham para as nossas pessoas. A Uninter tem essa liberalidade de que eles possam ser formados para o mercado e não só para absorção aqui dentro das áreas”, afirma.

A pedagoga do IBGPEX, Pamella Toski, diz que trabalhar na área de educação especial possibilita um olhar mais atento para as situações do dia a dia, muitas vezes consideradas “fáceis”, mas que para uma pessoa com deficiência é um desafio a ser ultrapassado.

“A alegria em saber que participo de um projeto que proporciona a inclusão da pessoa neurodiversa no mercado de trabalho e ver a felicidade deles quando recebem a notícia de suas contratações efetivas nos setores, é gratificante, pois sei que contribuo mesmo que seja um pouco nesse processo”, conta a pedagoga.

Para Christiano, é fundamental entender o histórico de cada um, assim como identificar suas potencialidade, facilidades e aptidões, assim como as situações em que precisam de adaptações ou desenvolvimento.

“O acolhimento começa na recepção de um currículo, até a sensibilização da equipe para acompanhar essa pessoa, oferecer um ambiente aberto e de liberdade para se expressar e desenvolver. É extremamente gratificante oferecer oportunidade de inclusão de uma forma estruturada, adequada e respeitosa, desenvolvendo as pessoas. Todos desenvolvem mais e melhor em um ambiente com diversidade e inclusão”, conclui o coordenador de gestão de pessoas.

“Me sinto muito mais independente”

Vinicius, de 28 anos, soube do Despertar por meio da televisão e decidiu tentar uma vaga na turma. Na época, sem emprego, o jovem que mora com a mãe, o padrasto e o irmão mais novo em São José dos Pinhais (PR), enviava currículos pela internet, na busca por uma oportunidade.

Segundo o colaborador, que nasceu com a Síndrome de Nager (caracterizada pela má formação na mandíbula e na face) e foi diagnosticado com autismo em 2018, o período que passou no projeto foi marcado pelo desenvolvimento, principalmente nas aulas de arteterapia e as propostas de desenhos com cores e autoretratos, por exemplo.

“Eu me sinto muito mais independente, uma pessoa mais madura, apto para fazer mais coisas. Me sinto mais preparado para o trabalho e é uma sensação muito boa. Na parte profissional, eu aprendi a ser mais paciente, fazer atividades propostas e ter um bom relacionamento com o pessoal do trabalho. Isso foi um ponto que consegui aprimorar e fico bem contente”, afirma Vinicius.

No Sianee, Vinicius auxilia os colegas com arquivos de gravações e edições dos vídeos de interpretação da Língua Brasileira de Sinais (Libras) incluídas nas videoaulas da instituição. Para ele, trabalhar com a equipe “é muito legal”. “As pessoas me acolheram bem e são bem atenciosas, são bem competentes, bem legais mesmo. Estou gostando bastante dos colegas”, conclui.

“O que mais me impressionou no Vinicius quando o conheci, foi seu comportamento muito educado, sua aparência bem cuidada e, depois, o seu interesse e motivação para o trabalho. A sua vontade de aprender novas atividades laborais, me encantou. Ele veio sem medo de ser feliz”, declara a coordenadora do Sianee, professora Leomar Marchesini.

Para a profissional, em uma sociedade que julga as pessoas com deficiência como incapazes, “é muito difícil” que estas consigam um espaço no mundo de trabalho qualificado. No entanto, quando têm a oportunidade de mostrar suas habilidades e competências, é possível promover adaptações e ajustes que precisam para a realização das atividades, de acordo com o princípio da equidade.

“É necessário traçar um planejamento individual de atividades para o colaborador, de acordo com suas capacidades. Sem esquecer, entretanto, de levar em conta as suas limitações, oriundas de sua deficiência. Não leva a bons resultados agir no ensaio e erro e acerto acidental, pois a cada atividade em que não se sair bem, se frustrará, se estressará, e pode até perder a motivação e confiança em si mesmo. É igualmente importante envolver a equipe, informando e sensibilizando para a inclusão do novo colega”, sinaliza Leomar.

“Me fez sentir mais aliviado saber que eu tenho o meu lugar no mundo”

Paulo, de 30 anos, é natural do Rio de Janeiro (RJ) e, aos cinco anos de idade, veio à Curitiba com a família para tratar uma má formação da laringe e da faringe, o que atrapalhava na hora da alimentação. Na capital paranaense, além de o clima ser mais favorável para o tratamento, o pai conseguiu um emprego e a família entendeu que o acesso a saúde e ao transporte seria mais fácil.

Com o diagnóstico de autismo tardio, que só obteve aos 25 anos, Paulo até então não havia tido uma experiência de trabalho duradoura. Quando saiu do último emprego, em um mercado, decidiu buscar por ajuda e entender o que causava desde as sensações de deslocamento, vontade de isolamento, até as crises mais fortes.

“Foi uma questão de alívio. Descobrir com o tempo que eu não era um estranho, só tinha um ponto de vista diferente da maioria, me fez sentir mais aliviado de saber que eu tenho o meu lugar no mundo”, lembra o colaborador.

O jovem já estudava bacharelado em Química na Uninter quando teve conhecimento e entrou para o projeto Despertar. Participar da turma, além de ofertar o crescimento profissional e reintroduzir a vida social depois da pandemia, também foi um “complemento muito grande e importante para o acompanhamento psicológico”, afirma Paulo. Para o colaborador, as aulas de informática foram fundamentais, já que é uma área essencial para a atuação profissional.

“O que melhorou mais em mim, foi a questão do foco. Eu consegui redirecionar e jogar minha energia para um foco na hora do trabalho. Antes eu vivia como uma pessoa que dispersava muito”, conta.

Por isso, fazer o período de estágio e posteriormente ser efetivado no setor de Pesquisa, Iniciação Científica e Publicações Acadêmicas, coordenado pela professora Desiré Dominscheck, “foi algo inesperado e maravilhoso”.

Desiré lembra que, a princípio, o que mais chamou a atenção em Paulo foi a postura comunicativa e o interesse em aprender, “sempre sorridente”. A docente diz que hoje o maior problema encontrado nas empresas não são as competências técnicas, mas a relação comportamental. Quando se trata de pessoa com deficiência, então, a maioria das organizações não abrem portas e, quando abrem, é para atingir cotas.

“É significativo, é um destaque para a Uninter, e eu fico feliz que o setor de pesquisa possa contribuir com o processo de inclusão. Que a gente possa cada vez mais incluir”, conclui Desiré.

No primeiro emprego com um laudo, Paulo afirma que observa uma diferença já no acolhimento e receptividade, acompanhamento e auxílio com as possíveis dificuldades. Além de ter profissionais, como assistente social, que se coloca à disposição quando preciso.

Agora, o colaborador deseja voltar para o curso de Química ainda este ano e seguir o caminho da pesquisa, algo que já desejava antes de ingressar na instituição. “E espero ter esse crescimento aqui, conseguir realmente me encaixar e, quem sabe quando me formar, continuar no setor de pesquisa”, finaliza.

“É como se eu tivesse alcançado um objetivo na minha vida”

Ghabriel, de 28 anos, foi o orador da turma na formatura do 2º Despertar e entrou para o projeto depois de uma indicação que fizeram para a sua tia, com quem mora. Até então, o jovem nunca havia tido a oportunidade de trabalhar e foi só por meio dessa vaga que descobriu que pessoas com esquizofrenia podem ser consideradas pessoas com deficiência.

“Eu não tinha essa perspectiva. Fiquei muito feliz”, relembra o jovem. Dentro do Despertar, Ghabriel garante que teve “bons momento e boas inspirações”. “Senti que estava em um lugar excepcional, com pessoas excepcionais”, afirma.

Do período de qualificação, ficaram marcadas as aulas de administração “bem explicativas” e as aulas de arteterapia. A pedagoga Pamella é lembrada pela forma empática com que trata os colaboradores. “Tinha algumas vezes que eu vinha com problema de casa, bem triste, nervoso. A Pamella me ajudou naquela hora, foi bem legal”, conta Ghabriel.

“O Despertar me proporciona ter contentamento com o meu trabalho, pois tento fazer sempre com muito carinho, zelo e dedicação, visando o bem-estar, o desenvolvimento comportamental e técnico dos participantes. Costumo dizer para os pais e para os próprios colaboradores que sempre olhamos para cada um como indivíduo único, jamais comparando seu desenvolvimento com os demais colegas”, afirma Pamella.

O colaborador também diz que antes do projeto tinha mais receio, dificuldade em se expressar e conversar. “Me ajudou também a ser mais animado, feliz, alegre. As aulas também me ajudaram na vida profissional, eu não tinha calma, ficava ansioso muito facilmente”, comenta.

A oportunidade de poder continuar na instituição, para o colaborador significa “muita felicidade, alegria, muita satisfação. É como se eu tivesse alcançado um objetivo na minha vida”.

Durante o estágio, o coordenador da área de Assuntos Institucionais e de Extensão, professor Celso Giancarlo de Mazo, diz que conseguiu observar “uma série de habilidades e competências”, além do potencial do Ghabriel para desenvolver outas.

No núcleo de sistemas e atendimento, o colaborador atua com o ambiente virtual de aprendizagem (AVA) Univirtus, na parte de conteúdo dos cursos, e se prepara também para o atendimento às escolas.

“O aspecto comportamental ajudou muito, ele tem demonstrado bastante interesse no trabalho, possui comprometimento, se preocupa com o que é passado e com os resultados que apresenta. Tem uma série de características que contaram muito a favor, que são difíceis de a gente encontrar hoje em dia”, salienta o coordenador.

Celso Giancarlo ressalta a importância do projeto realizado pelo IBGPEX, “uma coisa espetacular”. O docente ainda fala sobre dar oportunidades e se livrar de preconceitos e ideias capacitistas em relação às pessoas com deficiência. “É claro que pode haver alguma limitação, mas isso não torna essas pessoas incapazes de contribuir de acordo com a própria realidade. O Ghabriel veio apenas reforçar isso”, finaliza.

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Autor: Nayara Rosolen - Jornalista
Edição: Larissa Drabeski


1 thought on “Projeto Despertar oportuniza inclusão efetiva de colaboradores na Uninter

  1. Parabéns pela matéria, resultado de um trabalho excelente de consulta às partes e pesquisa. O texto está muito bom. Irretocável. Obrigada a CNU pela nossa participação.

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