A criação do subversivo longa “Casa Izabel”

Autor: Nayara Rosolen - Jornalista

O longa-metragem Casa Izabel foi o escolhido para a abertura do 12º Olhar de Cinema, exibido na Ópera de Arame. A trama curitibana envolve os telespectadores em um suspense que se passa nos anos 1970, em uma casa de crossdressers, que busca ser um refúgio da realidade no contexto da ditadura brasileira.

Parte do elenco e equipe técnica do filme participaram da primeira conferência de imprensa do Festival Internacional de Curitiba, na manhã de 15 de julho, um dia após a abertura, na sala de cursos do Cine Passeio.

O diretor Gil Baroni conta que se inspirou no universo misterioso das fotos do livro de fotografia Casa Susanna, apresentado pela produtora Laura Haddad, que propôs a realização do filme. Antes mesmo do livro, Laura lembra que foi a gestora do Cine Passeio, Juliana Flores, quem mostrou a peça de teatro Casa Valentina, produzida em Nova York e que estreou em 2014 na Broadway.

“Recebi o texto da peça e fui pesquisar um pouco mais sobre toda essa história que eu achei muito instigante. Foi muito interessante, porque à medida que ia lendo, me vinham os meus amigos, os personagens. Em um primeiro momento, quando a gente conversou, eu sabia que seria algo inspirado nisso, mas não sabia se a gente ia aproveitar alguma coisa do livro, a ideia era fazer uma contextualização nossa”, explica a produtora.

Ainda que com um baixo orçamento, Baroni afirma que a economia de recursos proporcionou “ser bastante criativo e inventivo”, dentro de uma construção coletiva, com arte, roteiro, elenco, figurino, fotografia, “pensado com muita delicadeza em cada etapa”.

Laura já sabia o elenco com o qual queria trabalhar e o roteirista Luiz Bertazzo, a partir do conjunto de informações do livro, criou a história pensando na realidade e contexto brasileiro. Imbuído do contexto das eleições presidenciais, que estavam em ebulição em 2018, decidiu retratar os anos da ditadura.

Bertazzo destacou a importância de se falar sobre o modo de produção, feito em um edital pequeno, que não se tratava apenas de um “baixíssimo orçamento”, mas também com regras que implicavam o formato da obra e o tempo de filmagem, em uma locação só, com 15 dias de gravações.

“Não dá para você escrever com toda liberdade do mundo, você tem que escrever com as regras que estão dadas pelo modo de produção, então foi ditadura e o que eu tinha de contexto para trabalhar. As coisas foram aparecendo e eu tenho uma avó que se chama Izabel, muito fã de Luís Melo, e quis homenagear. A ideia não era falar de ditadura só, mas falar dessas pessoas nesse contexto e o que está vindo. É mais um filme que anuncia do que caracteriza”, afirma o roteirista.

Melo, que interpreta Izabel no longa, comenta que o elenco é composto por atores de gerações diferentes do teatro paranaense, com características “completamente diferentes” e que nunca haviam trabalhado juntos, mas sempre acompanharam as obras em que atuavam. Para o ator, essa proximidade ajudou na construção do filme e das personagens.

O ator Otávio Linhares aponta que “se no macrocosmos a gente tem a ditadura no Brasil, dentro do microcosmos a gente tem uma ditadura social, que ainda é muito visível e muito ativa até os dias de hoje, em que qualquer tipo de comportamento considerado anormal não deveria nunca ver a luz do dia”.

Linhares salienta que o principal cuidado e preocupação em toda a produção era a de passar a trama de maneira que não apresente o comportamento das personagens como algo caricato. Melo ainda acrescenta que é também sobre lidar com incômodos, que são reais.

“Os problemas que aquela casa tem não são os homens que se vestem de mulher, esse não é o problema em nenhum momento do filme. O problema são outras coisas, o tipo de vida que eles têm fora da casa, [como, por exemplo] a pessoa que teve toda a liberdade do mundo de se vestir de mulher e ainda mantém preconceito racial com parte do seu âmago, porque nem tudo nela está liberto. Você tem uma série de problemas que existem no filme, nenhuma delas pode ser ligada ao fato de que esses homens se vestem de mulher”, enfatiza Linhares.

A equipe ainda falou sobre as escolhas do figurino e a trilha sonora na conferência que foi transmitida também pelo Youtube do Olhar de Cinema, em pouco mais de uma hora. O longa foi consagrado ainda em 2022 como melhor filme do Cine PE.

A programação completa e os ingressos estão disponíveis no site do festival. A Uninter é uma das patrocinadoras do festival, e a Central de Notícias Uninter (CNU) fará a cobertura de todos os dias do evento.

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Autor: Nayara Rosolen - Jornalista
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Youtube


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