Lojas Americanas e o prejuízo
Autor: Sérgio Luiz PiraniLojas Americanas solicitando recuperação judicial? Como assim? As Lojas Americanas? Parece mais uma Fake News, não é mesmo? Ao nos depararmos com essas notícias nos sentimos incrédulos. Para nós consumidores, é praticamente, uma traição de uma empresa que está há mais de cem anos no mercado brasileiro. Agora imagine você: como deve estar a relação de confiança entre funcionários e fornecedores e as Lojas Americanas?
Pois bem, existe a importância da confiança nos relacionamentos empresa-fornecedores. Porque com um processo de seleção de fornecedores eficaz, a empresa pode superar, significativamente, os seus riscos, melhorar a visibilidade em todas as etapas das operações. O relacionamento com o fornecedor deve ser o mais transparente possível e estabelecer uma relação de “ganha-ganha” alicerçada na confiança das relações, pois o fornecedor pode ser um fator de sucesso ou fracasso de uma organização. É o mínimo que se espera numa relação pautada pelo bem comum: a manutenção da confiança, da transparência e do caixa, não é mesmo?
A conduta escolhida pelos gestores das Lojas Americanas compromete o momento presente e futuro dessa relação, pois a ausência de transparência compromete o fornecimento de produtos e serviços e, consequentemente, a relação de “ganha-ganha”. Tal fato demonstra que por mais criterioso que seja o processo de seleção e a transparência nas relações, os riscos estão postos nos mercados de que fazem parte.
Para os fornecedores, o desequilíbrio da balança do ganha-ganha, que é agora, muito mais um eu ganho, você perde – agravou as reações dos fornecedores para se recuperarem e até para construírem um plano de ação, que possa responder à situação criada pela gigante varejista Lojas Americanas.
E por que as Lojas Americanas quebraram?
As Lojas Americanas (LA) trabalham com uma forma bastante comum entre os grandes varejistas: o “Risco Sacado”. E como essa prática funciona? Bem, vamos ao exemplo: as LA recebem os produtos dos fornecedores antes que aconteçam os pagamentos e a forma de pagamento é, previamente, negociada. As LA trabalham buscando capital nos bancos, que antecipam os pagamentos para os fornecedores, e as LA pagam os juros aos bancos. O problema é que a companhia não calculou as proporções adequadamente- vamos dizer assim – os pagamentos realizados aos fornecedores, gerando um rombo bilionário.
Nesse contexto, as LA entraram com o pedido de Recuperação Judicial. Isso acontece quando as dívidas de uma empresa ultrapassam o seu fluxo de caixa e a companhia entra com pedido para que o processo de negociação seja intermediado pela justiça.
E como ficam os credores?
Os credores não são apenas os fornecedores! É bom ter em mente que os funcionários, a União e, por fim, os fornecedores são os credores. Surpresa? É?! E é nessa ordem que as prioridades de pagamentos se apresentam: primeiramente, os funcionários. Na sequência, a companhia deve arcar com os pagamentos dos impostos à União, ao Estado e ao Município e, só então, entram os fornecedores e prestadores de serviço. E o mais lamentável, é que esses pagamentos serão feitos, caso ainda haja caixa para liquidar as dívidas, o que agrava mais ainda a situação financeira de muitos fornecedores.
Diante desse fatídico exemplo, a ideia de que uma perpétua parceria ganha-ganha com uma única grande rede varejista pode ser receita de sucesso deve ser mediada – primeiramente – pela reflexão de um velho ditado de diz: “não se deve colocar todos os ovos num mesmo ninho”.
*Sérgio Luiz Pirani – Mestre em Estratégia Organizacional e professor do curso de Engenharia de Produção pelo Centro Universitário Internacional Uninter.
Autor: Sérgio Luiz PiraniCréditos do Fotógrafo: Simplus Menegati