Dia Mundial da Saúde Única: os 12 princípios de Manhattan

Autor: Willian Barbosa Sales (*)

Em setembro de 2004, especialistas da área da saúde se reuniram globalmente para um simpósio em New York, organizado pela Wildlife Conservation Society e The Rockefeller University. Esse evento estava focado nos movimentos atuais e potenciais de doenças emergentes e reemergentes relacionadas a homens, animais e meio ambiente.

Os representantes presentes nesse simpósio faziam parte de organizações mundiais da saúde, além de organizações globais relacionadas com a agricultura e a vida selvagem. Como resultado, apresentaram os “12 princípios de Manhattan”, ou seja, recomendações para estabelecer uma abordagem mais holística para prevenir doenças epidêmicas/epizoóticas e para manter a integridade dos ecossistemas para benefício mútuo entre humanos, animais e meio ambiente.

A pandemia do novo coronavírus (covid-19), causada pelo vírus SARS-CoV-2 de origem zoonótica, com os surtos recentes do vírus do Nilo Ocidental, febre hemorrágica do Ebola, SARS, Monkeypox, doença da vaca louca, gripe aviária, nos fazem quebrar paradigmas, ver a saúde na totalidade, como “Saúde Única” ou “One Health”, como usado internacionalmente. A globalização nos impõe uma conversão de leitura de mundo, incluindo a Saúde Única, tendo uma visão holística entre a saúde humana, saúde animal e saúde ambiental.

Os “12 princípios de Manhattan” começam a ser evidenciados e entraram em prática de forma veemente diante de todas as consequências ocasionadas pela covid-19. Muitos desses princípios já são aplicados, contudo, outros infelizmente, em nosso país, estão distantes de serem alcançados, mas temos esperança de um futuro melhor.

Fenômenos como a perda de espécies, degradação de habitats, poluição, espécies exóticas invasoras estão alterando fundamentalmente a vida em nosso planeta, do nível micro ao macro, ou seja, desde as grandes florestas, as profundezas dos oceanos até as cidades mais densamente povoadas. O aumento de doenças infecciosas emergentes e reemergentes ameaça não apenas seres humanos  com seus suprimentos de alimentos e economias, mas também a fauna e flora que compõem a biodiversidade necessária que sustenta a infraestrutura homeostática da vida em nível global.

Não podemos priorizar a saúde humana, entendendo apenas uma parte, quando estamos cercados por um todo. Sendo assim, não existe saúde humana sem saúde animal e ambiental. É por isso que no dia 3 de novembro é comemorado o Dia Mundial da Saúde Única. Quando o equilíbrio entre essa tríade é quebrado, abre-se espaço para o surgimento de doenças emergentes e reemergentes. A saúde única é uma perspectiva hologramática de pensar em saúde dentro de um mundo globalizado. O convívio harmônico entre homens, animais e meio ambiente se coadunam, sendo fundamental para uma existência saudável e indissociável de um planeta saudável.

 

Os 12 princípios de Manhattan

 

  1. Reconhecimento do vínculo essencial entre a saúde humana, animais e ambiental.

 

  1. Reconhecimento que as decisões sobre o uso da terra e da água impactam a saúde.

 

  1. Inclui a ciência da saúde da vida selvagem como um componente essencial para prevenção, vigilância, monitoramento, controle e mitigação de doenças em nível global.

 

  1. Reconhecimento do impacto dos programas relacionados com a saúde humana e sua contribuição para esforços de conservação ambiental.

 

  1. Elaboração de abordagens adaptativas, holísticas e prospectivas para prevenção, vigilância, monitoramento, controle e mitigação de doenças emergentes e reemergentes que possuem interconexões entre diferentes espécies.

 

  1. Oportunidades para integrar plenamente as perspectivas de conservação da biodiversidade e as necessidades humanas ao desenvolver soluções para ameaças de doenças infecciosas.

 

  1. Reduzir a demanda e regular o comércio internacional de animais silvestres vivos e carne de caça, tanto para proteção de animais silvestres quanto para diminuição dos riscos de doenças com relação patógeno-hospedeiro.

 

  1. Restringir o abate em massa de espécies selvagens de vida livre para controle de doenças a situações em que haja um consenso científico internacional multidisciplinar de que uma população de vida selvagem representa uma ameaça urgente e significativa à saúde humana, segurança alimentar ou saúde da vida selvagem.

 

  1. Aumentar o investimento na infraestrutura global de saúde humana e animal compatível com a gravidade das ameaças de doenças emergentes e reemergentes.

 

  1. Formar relacionamentos colaborativos entre governos, população local e setores públicos e privados.

 

  1. Fornecimento de recursos adequados e apoio às redes globais de vigilância da saúde da vida selvagem.

 

  1. Investir na educação e conscientização das pessoas do mundo e em influenciar o processo político para aumentar o reconhecimento de que devemos entender melhor as relações entre saúde e integridade do ecossistema.

 

*Willian Barbosa Sales é biólogo, doutor em Saúde e Meio Ambiente, coordenador dos cursos de pós-graduação área da Saúde do Centro Universitário Internacional Uninter.

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Autor: Willian Barbosa Sales (*)


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