A arteterapia como ferramenta de desenvolvimento humano
Autor: Nayara Rosolen - JornalistaA inclusão de pessoas com deficiência (PcD) no mercado de trabalho ainda é um desafio, mas iniciativas como o projeto Despertar, que compõe o programa Ser Capaz do Instituto IBGPEX podem fazer a diferença. O projeto busca desenvolver e capacitar colaboradores vinculados à Uninter em uma parceria entre as instituições que visa promover autonomia e estimular para a vida profissional, buscando dignidade e igualdade.
A então pedagoga do IBGPEX, Débora Klassen, conta que, junto ao pedagogo Leandro Prado e a gerente de projetos sociais do Instituto Rosemary Suzuki, foram pensadas abordagens ligadas à parte comportamental, etiqueta profissional, competências, técnicas administrativas, comunicação, oratória e empreendimento, além de outros aspectos atrelados às soft skills e hard skills. A segunda turma do projeto é composta por 24 pessoas com deficiência intelectual que realizam um módulo de 556 horas.
Conforme explica a analista de gestão de pessoas da Uninter, Elisandra Wolski, as soft skiils são habilidades relacionadas ao comportamento, relacionamentos, trabalho em equipe e comunicação, por exemplo. Enquanto as hard skills têm a ver com conhecimentos técnicos e habilidade com as ferramentas de trabalho.
Elisandra salienta que hoje não há como dissociar um profissional das duas áreas, que são complementares e essenciais para o bom desenvolvimento no dia a dia. E garante que o que o projeto realizado pelo IBGPEX proporciona para essas pessoas “é de fundamental importância para a constituição e formação desse profissional de uma maneira mais completa e plena”.
“A gente entende que existe algum tipo de limitação, alguma questão que talvez vá deixar mais complexo o desenvolvimento, a autonomia dessa pessoa. E isso é importante para qualquer profissional, seja ele uma pessoa com deficiência ou não. Então, quando a gente fala de inclusão, a gente quer trazer justamente esse mix. Não adianta a pessoa ser um técnico excelente se, de repente, não conseguir lidar com as pessoas em volta, que são no final do dia a coisa mais importante que nós temos ali”, enfatiza Rosemary.
O poder de desenvolvimento da arteterapia
Pensando nisso, foram incluídas nas atividades as aulas de arteterapia, que são ministradas pela professora Claudia Rodrigues. A profissional explica que é uma abordagem terapêutica baseada na expressão artística, utilizando diversos materiais, como giz pastel, lápis de cor e tinta.
Inicialmente trabalhada pelo psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung, com símbolos, arquétipos e personagens, no Brasil foi abordada pela médica psiquiatra Nise da Silveira, que atuou no Hospital do Engenho de Dentro do Rio de Janeiro e começou a desenvolver a arte de uma forma livre.
“A pessoa consegue se expressar, se colocar no mundo, sem precisar necessariamente falar, porque às vezes é difícil reconhecer os sentimentos e as emoções. Nós na Uninter, no projeto Despertar, trabalhamos a arteterapia organizacional, utilizando essas ferramentas da arte como uma forma do nosso colaborador se autoconhecer, trabalhar as suas habilidades, os seus potenciais, entender até que ponto pode ir, quais são as limitações e como pode desenvolver”, aponta Claudia.
A professora diz que reconhecer as emoções e sentimentos é o primeiro passo. Mas que ainda é possível, por meio de técnicas artísticas, usar a criatividade para colocar no papel, escultura, modelagem ou colagem, por exemplo, aquilo que se está sentindo. Muito mais do que a preocupação com o resultado estético, é o processo de trabalho. Isso porque, depois do desenvolvimento, o colaborador tem a oportunidade de olhar tudo o que criou de diferentes pontos de vista.
“Dessa forma, aprendendo a olhar as situações da vida de diferentes ângulos, ele começa a perceber o seu potencial e autoconhecimento. Nesse sentido, estamos desenvolvendo um colaborador mais consciente de quem é, como pode se desenvolver, como pode contribuir com a sociedade e a empresa. Sai do encontro com mais harmonia, leveza, tranquilidade”, complementa a profissional.
Débora conta que é possível perceber o quanto as atividades fazem a diferença na vida dos colaboradores. Relato feito também por parte dos familiares e pelos próprios participantes.
“Vemos muitas vezes na fala deles, como se comunicam, como é importante estarem aqui. Percebemos a assiduidade de cada um deles, não há quase falta, a não ser por motivos médicos”, salienta a pedagoga.
Os colaboradores que finalizam o projeto, inclusive, têm a possibilidade de serem contratados para os setores da Uninter. Mas Rosemary salienta que “quando a gente forma essa pessoa, a gente não tá pensando só na Uninter. Estamos pensando na pessoa, de que forma a gente pode torná-la mais autônoma, ter mais protagonismo diante da sociedade”.
Uninter inclusiva
Elisandra afirma que não só no projeto Despertar, mas todos os setores da Uninter possuem pelo menos uma pessoa com deficiência e há um cuidado especial para verificar quais adaptações são necessárias para executar as atividades, sempre buscando entender o perfil do colaborador.
“As empresas possuem cotas para PcD, mas nós abrimos processos seletivos internos que não existem vagas exclusivas, qualquer colaborador pode se candidatar. Já aconteceu várias vezes daquele colaborador que tem deficiência participar em igualdade com os demais candidatos e ser o selecionado para assumir, está fazendo sua trajetória profissional dentro da empresa. Esse é o nosso objetivo, desenvolver e transformar essas pessoas aqui dentro para que construam sua trajetória profissional conosco”, garante a analista de gestão de pessoas.
A pedagoga Débora conta que é uma pessoa com deficiência física e assegura que vê esse reconhecimento e olhar mais humano que a Uninter tem em se preocupar com a PcD e com o crescimento profissional.
“Nós somos capazes. Às vezes, precisamos só de um olhar diferenciado, uma ajuda, um auxílio para que a gente possa ter autonomia e se desenvolver. Quando estamos em uma empresa que realmente acredita, acho que a química se dá totalmente entre ambas as partes”, comenta.
No entanto, Rosemary lembra que nem todas as PcD ainda têm os direitos garantidos e nem todos ainda têm acesso a um programa e empresas com visão inclusiva. Por isso, a importância do mês de setembro, em que o dia 21 foi instituído como o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. A gerente de projetos sociais defende que a luta do programa realizado também vai no sentido de cada vez mais mostrar para outros empresários e pessoas que querem investir, que é possível.
“Muitos ainda não são reconhecidos, não têm o seu direito de fala, mas a gente luta por isso. Sabemos que é um caminhar longo, mas a gente tem a esperança de que as pessoas, assim como a Uninter, vão mudar o seu olhar. Nós somos pessoas e pessoas são diferentes com seus estilos e deficiências, talvez com as suas bagagens de vida. Mas juntos, se mudarmos esse olhar que temos, muitas coisas seriam mudadas e pessoas poderiam ter mais autonomia, dignidade e igualdade”, finaliza Débora.
As profissionais realizaram o bate-papo sobre a Qualificação Vinculada no programa Impacto e Propósito do dia 22 de setembro, transmitido pela Rádio Uninter. A edição completa segue disponível para livre acesso neste link.
Autor: Nayara Rosolen - JornalistaEdição: Larissa Drabeski