Devemos temer um governo de esquerda na Colômbia?

Autor: Guilherme Frizzera (*)

No dia 19 de junho, os eleitores colombianos elegeram Gustavo Petro para presidente. Pelos próximos quatro anos, o país andino será governado por um líder de esquerda pela primeira vez em sua história. Ex-guerrilheiro, Petro já havia concorrido à presidência em 2018, quando ficou em segundo lugar, perdendo para o atual presidente – e representante da direita – Iván Duque, não sendo Petro um neófito da política daquele país. Portanto, o que podemos esperar de Gustavo Petro e de um governo de esquerda para as relações com o Brasil, baseados em sua carreira política e em suas propostas?

Em primeiro lugar, destaco um ponto de interesse comum entre ambos os países: o combate ao narcotráfico. Brasil e Colômbia possuem 1.644 km de fronteira, sendo ela totalmente circundada pela floresta amazônica e corredor de passagem para o tráfico. Os dois países possuem acordos de cooperação para monitoramento e combate aos traficantes, fundamental para a segurança nacional de ambos. Esta é uma pauta que não irá mudar. Durante a campanha, Petro foi taxativo que as políticas de combate ao narcotráfico e o acordo de paz firmado com as FARC serão respeitados. Esse é um posicionamento importante e irá garantir que, nesse aspecto, as boas relações entre Brasil e Colômbia permaneçam.

Uma das propostas mais polêmicas da campanha de Gustavo Petro foi apostar em uma radicalização na produção da matriz energética, não investindo na produção de petróleo e iniciando uma transição para uma produção limpa e ambientalmente responsável. Com esta conjuntura em que vivemos – pandemia, guerra na Ucrânia e inflação alta –, havendo qualquer interrupção e, consequentemente, redução da oferta de petróleo no mercado internacional, a tendência seria de um aumento no valor do barril do petróleo, refletindo nos preços aqui do Brasil. Além disso, com um retorno de governo de esquerda no cenário brasileiro, a pauta ambiental deverá ser prioritária, principalmente sobre a produção energética, pois esta é uma tendência que tem se confirmado nos países latino-americanos que elegeram partidos de esquerda. A vitória de Petro, além da de Gabriel Boric no Chile, impõe a necessidade dessa discussão nos planos de governo dos partidos de esquerda no Brasil.

Por fim, um terceiro destaque seria a integração regional. Na chamada “Onda Rosa” da América do Sul, quando nos anos 2000 praticamente todos os países da região eram governados por partidos de esquerda – exceto a Colômbia –, houve um posicionamento mais favorável às iniciativas de integração. Um dos principais pontos de convergência naquele período foi a constatação da necessidade do aprofundamento da integração física e energética na América do Sul. Dessa forma, um novo período de governos de esquerda tenderia a retomar a busca por essa integração, abrindo possibilidades para investimentos, maior presença comercial brasileira nos mercados em nosso entorno e a possibilidade de aprofundamento da cooperação que avançasse além da pauta econômica. A resistência histórica da Colômbia em participar dessas iniciativas deverá diminuir e a região passará a contar com a presença importantíssima do país andino nos planos de integração econômica.

Nesse primeiro momento, não há razões para temores ao próximo governo colombiano. As relações entre Brasil e Colômbia sempre se pautaram pelo mais estrito pragmatismo. Contar com um presidente que nos considera um parceiro importante e que busca uma maior inserção no cenário regional será fundamental para que possamos enfrentar esses tempos turbulentos na economia.

*Guilherme Frizzera é doutor em Relações Internacionais e Coordenador do Bacharelado em Relações Internacionais do Centro Universitário Internacional Uninter.

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