Os desafios da cobertura jornalística em zonas de guerra

Autor: Gustavo Henrique Leal - Estagiário de Jornalismo

Uma guerra vai além de armas, da expansão de territórios e de ataques coordenados. No fim das contas, o que importam são as vidas humanas – perdas muitas vezes ignoradas pelos governantes por trás dos conflitos. Milhares de anos se passaram e a cultura da guerra ainda está presente na vida do homem. Com o passar do tempo, o jornalismo também se intensificou junto à globalização de tecnologias, expandindo as informações para todos os lugares. Um dos resultados disso é a capacidade da imprensa em reportar tais confrontos mesmo que em diferentes continentes, mantendo a precisão e a atualidade da informação, tão caras à profissão.

Fernando Levinski é jornalista. Em uma cobertura independente, ele foi até a fronteira da Polônia para registrar os resultados da atual guerra entre Ucrânia e Rússia. Ele foi convidado para relatar sua experiência no programa Literacia da Mídia.

Um dos objetivos do jornalista era passar em algumas cidades, mas principalmente chegar na fronteira, no condado de Medyka, e depois voltar para Varsóvia. O país foi o principal refúgio de emigrantes do conflito, com estimativas de ter recebido até 3,5 milhões de ucranianos, segundo a conta oficial da Polícia da Fronteira da Polônia no Twitter.

Especialista em Jornalismo Esportivo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Levinski sempre gostou das temáticas ligadas à guerra. “Era um assunto quer me chamava muito a atenção, e eu sei que é um costume fora da caixa dentro de uma faculdade de jornalismo porque as pessoas querem cobrir esportes, querem trabalhar na televisão, no rádio, e eu queria ter essa oportunidade de estar perto de uma zona de conflito”, relata.

O jornalismo no front

O empenho de sair do Brasil e ir à Polônia não foi fácil. Questões como idioma, identificação como imprensa e a parte financeira (devido à independência do trabalho) exigiram muito planejamento e estudos por parte do repórter. O brasileiro descreve o povo polonês como amistoso e receptivo, mas destaca o sentimento dos ucranianos naquele momento.

“O ucraniano está fragilizado, triste, traumatizado. Eu vi isso muito fácil no rosto das crianças, porque criança tem a ingenuidade, a alegria, o espirito de brincar sempre, e eu as via com olhares perdidos, com aquele olhar vago perdido sem entenderem muito bem o que estava acontecendo”, descreve.

Na visão do jornalista, a guerra está gerando uma nova configuração de famílias ucranianas, pois os homens de 18 a 60 anos são obrigados pela Lei Marcial aplicada a irem à guerra e defenderem o país enquanto mulheres, crianças e idosos fogem do país, aglomerando-se nas fronteiras e em lares temporários.

Esta foi a primeira vez de Levinski na Europa. Usando o inglês para se comunicar, o repórter foi surpreendido pelo bom nível com que o povo polonês fazia uso da língua, porém a maioria dos ucranianos não entendia o idioma. Não ter uma equipe e suporte econômico também pesaram para o profissional, mas o jornalista conseguiu se manter e economizar ao máximo com base no orçamento feito antes da jornada. A viagem foi realizada por uma “vaquinha” entre amigos e familiares. A ferramenta utilizada para levar informações ao público foi sua página no Instagram.

“Uma das maneiras que eu achei de levar as pessoas comigo era fazer o uso do Instagram, que é uma ferramenta muito visual, que se torna interativa. Então eu chegava nos locais, fazia stories, mostrava o que estava acontecendo, explicava”, cita o jornalista.

Alguns pontos ressaltados por Levinski são a identificação como imprensa e a troca de fontes e informações. Para evitar problemas e buscar oportunidades, identificava-se como brasileiro e profissional da imprensa para as autoridades e os colegas poloneses. As tentativas de buscar informações com outros jornalistas também funcionou, mostrando um acolhimento global dos profissionais da área.

Na quadra do hotel em que estava hospedado, o jornalista encontrou uma estação de rádio local e decidiu buscar por informações. “Me apresentei e eles gentilmente me receberam e falei: ‘Olha, estou indo para Medyka, para o que eu preciso estar atento? Algum número de alguém que renda um assunto interessante? Alguém com quem eu possa conversar?’”, relembra o repórter.

A cobertura completa feita por Levinski pode ser encontrada no Instagram do jornalista. O Literacia da Mídia é coproduzido pelo curso de Jornalismo da Uninter e a Central de Notícias Uninter, exibido quinzenalmente às quartas-feiras, 17h. A exibição ocorre no canal do YouTube da Rádio Uninter. Com mediação dos professores Guilherme Carvalho e Mauri König, a edição de 11 de abril de 2022, com a participação do correspondente, pode ser conferida neste link.

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Autor: Gustavo Henrique Leal - Estagiário de Jornalismo
Edição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Engin Akyurt/Pixabay e reprodução YouTube


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