As formas de democracia no ambiente digital
Autor: Flávio Ducatti - Estagiário de JornalismoA cultura da internet é fundamental para a forma como nos comunicamos e nos organizamos socialmente, dentro e fora das redes. Com o rápido avanço desse meio e sua presença cada vez mais constante na vida de todos, é importante haver consciência e ferramentas para avaliar o real impacto da cultura on-line no dia a dia.
Um exemplo dessa amplitude é a Lei de Acesso à Informação (LAI), sancionada em 2011 pelo Governo Federal. Com ela, a transparência pública tornou-se o principal instrumento para se chegar a quaisquer entes governamentais e públicos. Isso só se tornou possível a partir do meio digital, com fomento à cultura da transparência e de acesso aos sites de informações e questionamentos nos portais de transparência.
“Com essa lei, a regra é dar informação, mas existem alguns espaços da lei que determinam: algumas informações são de sigilo e têm limites. Mas, para dizer não, há de se indicar o porquê e quais as regras que estabelecem o não”, comenta o professor de Jornalismo e doutorando em Sociologia Alexsandro Ribeiro.
Ainda no cenário brasileiro, o impacto que as redes sociais têm na vida das pessoas leva à necessidade de que esses dispositivos tenham regulações e observações feitas pelo Estado. “A percepção da interferência que as redes sociais têm nas decisões políticas e na vida das pessoas já faz com que a gente tenha pressões ou alterações de políticas, ou pelo menos uma pressão para grandes conglomerados de mídia ou conglomerados de empresas de tecnologias de redes sociais digitais”, avalia.
Um exemplo é a tentativa de aprovação da chamada PL das fake news [2630/2020], que estabelece normas relativas à transparência de redes sociais e de serviços de mensagens privadas, numa tentativa de combate à desinformação. Mas, o movimento pela regulação vinha de antes. “Já tinha uma pressão do Supremo Tribunal Federal para [regulação do] Telegram, que é uma empresa que não tinha nenhuma regulamentação ou pouquíssima regulamentação em alguns países”, avalia o professor. Para ele, o movimento a partir dessa PL alcança também outras redes sociais. “Então a gente começa a pressionar uma política de maior transparência também no setor privado”, complementa Ribeiro.
A rede e a bolha
Se por um lado existe um debate legal sobre acesso à informação no ambiente digital, de outro lado existem características da rede que tornam o alcance dos conteúdos limitada. A informação on-line precisa circular a todo momento e com atualização constante. Aquilo que tende a cair na timeline vai para o esquecimento, então a rede demanda que o conteúdo ganhe “F5”, ou seja, que seja sempre atualizado para assumir o topo. O engajamento é a forma como uma ação individual encontra outras pessoas e tem potencial de se tornar massivo, relacionando-se a uma comunidade e grupos de interesse.
Quando compartilhamos algo na internet, esse conteúdo está sendo repassado para um círculo de indivíduos ou uma “bolha”, termo usado para se referir a um grupo de pessoas que se concentra em um lado ou uma opinião.
“É preciso ter consciência e discernimento de que você pode estar inserido nessas bolhas de conteúdo ultrassegmentadas e buscar ativamente por conteúdo do lado de lá”, explica a professora de Marketing Digital Maria Carolina Avis.
As redes sociais foram projetadas, em parte, para serem uma bolha. Nesse cenário, a nossa atenção e interação são alvos de disputa entre os conglomerados midiáticos. “As grandes empresas querem cada vez mais o nosso tempo. Não que você vá escolher se vai usar o Google como seu buscador e Instagram como rede social, mas quanto tempo você passa em cada uma dessas plataformas. Isso faz todo sentido porque, para essas empresas, quanto mais tempo você passar ali dentro, melhor. Quanto mais tempo você estiver ali, mais anúncios você estará vendo, clicando e comprando. É exatamente por isso que são excelentes ferramentas para decisão de compra”, destaca Maria.
A maioria das empresas de redes digitais é contrária a regulamentações nesse ambiente. Por conta disso, as grandes empresas de tecnologias respondem a diversos processos por violar as regras, como, por exemplo: “Vender dados das pessoas ou utilizar anúncios de remarketing, que é quando você vai no Google e busca, por exemplo, um All Star vermelho, depois, você abre o Instagram e tem esse tênis, ou qualquer site do Google. É aquele anúncio que fica te vigiando, te perseguindo. Esses anúncios só podem acontecer caso o usuário aceite os cookies [códigos que servem como ‘memória’ dos sites]. Se ele tiver rejeitado, não podem aparecer esses anúncios, porque ninguém sabe o que você pesquisou, mas o que acontece muito é que as empresas de tecnologia estão usando dados das pessoas que recusaram ter os cookies rastreados”, completa a professora.
As temáticas de cultura online e bolhas sociais na internet foram ao ar nos dias 8 de abril e 6 de maio de 2022, no programa F5, da Escola Politécnica Uninter no YouTube.
Autor: Flávio Ducatti - Estagiário de JornalismoEdição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
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