Os possíveis cenários com a desistência da guerra pela Rússia
Autor: Angela Cristina Kochinski Tripoli*
A guerra entre Rússia e Ucrânia é o conflito geopolítico mais severo que ocorreu após a segunda guerra mundial, e suas consequências globais são as mais desastrosas que qualquer uma já ocorrida em todos os tempos.
É um momento crítico no qual a China está analisando detalhadamente os caminhos que esse conflito levará e os impactos no cenário internacional. O Brasil, para sobreviver nesse ambiente externo desfavorável, tenta se equilibrar nas suas escolhas respondendo com flexibilidade às pressões dos dois grandes polos desse conflito: o lado ocidental e oriental do hemisfério norte.
A invasão da Rússia ao território ucraniano causou grande comoção social e controvérsias entre apoiadores e opositores, os lados que estão se distanciando cada vez mais da razoabilidade. A Rússia não tem condições de se manter estável com o prolongamento de todos os conflitos desencadeados, principalmente manter-se saudável economicamente com o alto custo que está sendo essa guerra. Pior ainda, a ameaça de desencadear uma guerra nuclear está isolando a Rússia e tornando essa guerra invencível.
Mesmo que, a essa altura dos acontecimentos, a Rússia encerrasse o problema, substituísse o atual governante da Ucrânia, não significaria uma vitória final. As sanções e reprimendas econômicas impostas pelos países capitalistas a colocariam na mesma situação de Pirro na Batalha de Ásculo. Por outro lado, aceitar algumas concessões impostas pelo governo ucraniano significa o mesmo que perder a guerra. Em qualquer resultado, o governo da Rússia será um desastre e confirma o erro irreversível que cometeu.
Com a deposição do governo da Rússia, poderíamos traçar diversos cenários nas áreas intergovernamentais, militares, econômicas, políticas e sociais. Na área das organizações intergovernamentais, veríamos o fortalecimento de tratados existentes, e com o surgimento de novos acordos regionais entre países ocidentais para fortalecimento nas áreas agrícola, meio ambiente e militar. Países como a França e Alemanha buscariam maiores investimentos na área militar, e Suíça, Suécia e Finlândia sairiam de posições de neutralidade, fortalecendo os laços com a OTAN.
Ainda na área militar, veríamos a intensificação pelo dilema da segurança, com países como França e Alemanha reforçando os orçamentos em armamentos, e os países da antiga cortina de ferro passariam a olhar com mais cuidado a influência do Estado russo em suas administrações.
No aspecto econômico, veríamos de imediato o restabelecimento de projeções de crescimento econômico em todos os continentes com a retomada de negócios internacionais. A China veria a retomada da cadeia de suprimentos, países europeus e americanos fariam de imediato a retomada de investimentos que estão suspensos desde o início da pandemia.
Aceleração de investimentos nas áreas de proteção ao meio ambiente com substituição do uso de combustíveis fosseis e energia limpa, em substituição à dependência do petróleo e gás provenientes da Eurásia.
Países em desenvolvimento como o Brasil, com matriz na cadeia de suprimentos na área agrícola, extremamente dependentes de fertilizantes provenientes da Rússia e Bielorrússia, passariam a diversificar e tornar menos dependente o fornecimento desses insumos. Haveria tempo suficiente para redução gradual dessa concentração de importações com acordos comerciais com outros países fornecedores de tais insumos.
No aspecto político, veríamos o fortalecimento da influência bipolar da China e dos Estados Unidos, frente a demais países, e o enfraquecimento da ideologia russa frente aos países limítrofes e arrefecimento das relações comerciais com a Alemanha, França e países que possuem dependência enérgica. Japão e Taiwan ficaram ainda mais próximos dos Estados Unidos buscando o fortalecimento de coalizões.
Na área social, veremos renovação pelos esforços de reconstrução da destruição causada pela guerra na Ucrânia e rechaço global pelos traumas causados. Haverá um crescimento da consciência global no que diz respeito aos cuidados com o ser humano.
A China não deve demorar em deixar a neutralidade e em cortar as amarras com o governo russo. A neutralidade, no caso atual aparente, não é uma escolha sensata. Uma decisão tardia de Xi Jinping poderá levar a guerra de Putin uma guerra global com utilização de armas nucleares. Estar alinhado com Putin e provocando uma escalada nuclear não coloca a China em nenhuma posição de vantagem.
Para a China, manter uma posição de afastamento do conflito não é uma escolha sensata, pois a afastará dos negócios com as potências mundiais. Afastar-se de Putin, abrindo mão da neutralidade, ajudará a construir uma imagem de liderança global, colocando-a imediatamente na posição de superpotência na geopolítica mundial. Embora difícil, parece ser a melhor decisão para o futuro.
* Angela Cristina Kochinski Tripoli é doutora em Administração, coordenadora do CST Comércio Exterior e do CST Gestão Global Trading: Negócios, Logística e Finanças Globais da Escola de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter.
Créditos do Fotógrafo: Ministry of Defense of Ukraine