Professor Germano Afonso: um marco na astronomia nacional

Autor: Hugo Henrique Amorim Batista*

Em meio a uma educação conceitual em busca das origens das diversas culturas, o professor sul-mato-grossense
Germano Afonso explorou muito as culturas indígenas nacionais, o que nos possibilitou um grande avanço em conhecimento cultural de diversas etnias.

Há milênios, temos que o céu acaba sendo observado por diversas pessoas, de diversas etnias e em diversas localidades do globo. Entretanto, cada uma das culturas existentes pelo globo aprendeu (à sua maneira) a conviver e compreender os sinais que são apresentados pela abóbada celeste, trazendo o seu misticismo, cultura, tradições e aprendizado.

É normal aprendermos em um ambiente de sala de aula sobre a mitologia grega e nórdica, com um panteão de deuses com diversos feitos memoráveis. Entretanto, sabemos que, no fundo, as mitologias nos trazem uma forma de pensar a respeito daquela cultura, mostrando que situação de extrema complexidade pode ser realizada trazendo seus respectivos valores vinculados à civilização naquele período. Na nossa cultura, isso não é diferente. Porém, o seu vínculo de informação é um pouco distinto, fazendo uso das estrelas como uma espécie de agenda do clima e como bússola para orientação.

“As constelações são usadas durante todo o ano. Algumas têm finalidades religiosas, outras são mais por curiosidade, mas elas servem, principalmente, como calendário agrícola”, explica o doutor em Etnoastronomia Germano Afonso, que mapeou mais de 100 constelações indígenas Tupi-Guarani. Essas diferenças entre as constelações observadas no céu da região equatorial apresentam alguns períodos de influência ampla em determinados povos, auxiliando-os a interpretar alguns períodos, sendo eles: caça, plantio, colheita e pesca. As representações observadas na abóbada celeste representavam uma estação que resultava em amplas farturas ou um período de menor abundância em alimentos, associados à subsistência de seu respectivo povo.

A cosmologia indígena nos traz conhecimento sobre a forma de organização social. Assim, pode-se detalhar quatro constelações, sendo elas: a Constelação do Homem Velho (Verão), do Cervo (Outono), Anta do Norte e Colibri (Primavera) e, por último, a da Ema (Inverno). Todas são relacionadas aos Tupi-Guarani. A mitologia/cosmologia é utilizada como forma de aprendizado, explanação da cultura, apresentação de valores e integração do conhecimento para as próximas gerações.

“Para nós, o Sol e a Lua são irmãos gêmeos que deram origem a tudo. É o princípio de tudo, assim temos que conhecer a origem, que é o mito do Sol e da Lua”, comenta Kerexu Yxapyry (Eunice Antunes), líder indígena da etnia Mbiá Guarani.

Segundo o astrônomo Germano Afonso, os indígenas vinculam o céu, a Terra, religião e fé como fenômenos associados, relacionando tais componentes com as suas práticas cotidianas. “Quando o ser humano parou de ser nômade, ele precisou cultivar e, para isso, tinha que ter uma agenda. Então, ele olhava para o céu e fazia as coisas na Terra”, relaciona o astrônomo.  Ainda em suas pesquisas, destaca que o interesse das novas gerações indígenas está mais vinculado a elementos da globalização do que seus conhecimentos culturais, correndo o risco de se perder com o passar do tempo.

Infelizmente, em 26 de agosto de 2021, o professor Germano Afonso nos deixou, devido a complicações da Covid-19. Porém, o seu legado nos traz um olhar para as culturas indígenas que nos remetem à toda cultura de povos que veem nas estrelas a história e cultura de seu povo.

* Hugo Henrique Amorim Batista é licenciado em física e matemática, mestre em Educação e professor da Área de Exatas da Escola Superior de Educação da Uninter.

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Autor: Hugo Henrique Amorim Batista*


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