Como as informações sobre o estado da floresta ajudam a combater a sua destruição

Autor: Sandy Lylia da Silva – Estagiária de Jornalismo

O consumismo desenfreado é uma prática de potencial destrutivo para o planeta. Tudo o que compramos é feito de uma receita básica: água, matéria-prima e energia. A alienação vivenciada pela sociedade na “felicidade das coisas”, isto é, o sentimento de alegria passageira gerado pela aquisição de bens, faz com que quanto mais se tenha, mais se queira. Como já dizia Rita Lee, em sua canção “João Ninguém”, “quanto mais tem, mais quer”.

A era da manufatura, com sua predominante característica da produção em série, vem desde o século 18 utilizando recursos naturais da Terra em ritmo acelerado, em busca de atender as necessidades de seus processos industriais. Esse progresso industrial, aliado ao crescimento demográfico, que faz com que tenhamos mais seres humanos e menos árvores, nos faz sentir os inevitáveis impactos do aquecimento global.

Com a aspiração de aumentar as atenções para uma agenda global climática e ambiental, em 1995 estabeleceu-se a Conferência das Partes (COP) da ONU. Um encontro anual com objetivo de traçar compromissos e obrigações para todos os países signatários, no que tange à diminuição das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, buscando combater a mudança climática mundial e minorar seus impactos nos âmbitos econômico, ambiental e social.

Para discutir o panorama da  última reunião da COP, o professor de Relações Internacionais da Uninter André Frota recebeu o pesquisador da Universidade de Brasília (UNB) Diogo Filipe Sens. Durante a conversa, eles analisaram a atuação dos mecanismos de controle no combate ao desmatamento da Amazônia.

Sens é pesquisador na área de engenharia aeroespacial e tem investigado o tema do desmatamento a partir do uso de inteligência artificial e ferramentas de monitoramento remoto. O pesquisador explica que, diferentemente dos outros países que contribuem para o aumento da temperatura planetária por meio dos seus processos industriais, o Brasil colabora diretamente com este indicador pelo desmatamento do bioma Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, com a maior biodiversidade do planeta.

Segundo ele, existem três fenômenos que esclarecem o funcionamento da cadeia destrutiva florestal: o conceito de fronteira agrícola, a geopolítica da Amazônia e o meio técnico-científico-informacional.

Com a expansão e modernização da agricultura, a ideia da integração geopolítica, motivada por grandes projetos de integração rodoviários, levou ao avanço horizontal da produção de vários gêneros agrícolas em direção aos limites amazônicos, no que convencionou-se chamar de “arco do desmatamento”.

Conforme explica Sens, “a construção de estruturas rodoviárias no século 20,  que ligam estas regiões ao restante do Brasil, aliado ao crescimento da produção de alimentos, ocasionou em parte, a degradação florestal”.

Já a noção de meio técnico-científico-informacional, legado do geógrafo Milton Santos, trata da evolução dos processos de produção, com o uso de descobertas científicas e das tecnologias da informação, a exemplo dos monitoramentos territoriais com o uso de satélites e radares.

Com a aceleração do desmatamento entre as décadas de 1970 e 1980, projetos de monitoramento surgiram no país, como o PRODES, Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite, que produz desde 1988 as taxas anuais de desmatamento da região, e o DETER, Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real, que monitora a degradação florestal desde 2004. Ambos são de responsabilidade do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e utilizados pelo governo brasileiro para o estabelecimento de políticas públicas na região.

Além desses dois indicadores, desde 2002 o Brasil também conta com o CENSIPAM, Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia, programa de monitoramento complementar do ponto de vista tecnológico, que promove a proteção e o desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal. Já a gestão, controle e monitoramento dos satélites brasileiros fica a cargo do COPE, Centro de Operações Espaciais, unidade sob controle do Comando de Operações Aeroespaciais, COMAE, e possui instalações em Brasília e Rio de Janeiro.

O sensoriamento remoto, isto é, a obtenção de imagens à distância, sobre a superfície terrestre, consegue entregar atualmente dados refinados, com utilização de programações específicas e inteligência artificial, com diagnósticos rápidos e precisos dos focos de desmatamento no Brasil. No entanto, ações assertivas para a contenção da derrubada da Amazônia estão ainda na seara das promessas e planejamentos futuros, como visto no encerramento da COP-26.

A edição deste ano da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas foi sediada em Glasglow, Escócia, e contou com medidas anunciadas pelo atual ministro do meio ambiente brasileiro, Joaquim Alvaro Pereira Leite, projetadas para  2030, data para que o país atinja a meta de redução  das emissões de carbono em 50%. Ao proferir a frase “onde há muita floresta, há muita pobreza”, o titular do ministério afirmou sua peculiar posição perante a questão ambiental.

Ainda neste contexto, André Frota ressalta que não avançamos com mais velocidade para uma economia de baixo carbono pois há uma inércia a ser superada em curto prazo por alguns setores produtivos, que necessitam mudar suas matrizes produtivas. “A floresta em pé é muito mais rentável, mas necessita de investimentos de uma indústria de alto controle tecnológico, como a indústria da biotecnologia e a farmacológica. Contudo, existem muitos interesses contrários a este tipo de desenvolvimento econômico no nosso país”, relata.

Para Sens, existe um elemento cíclico de retroalimentação em relação às mudanças climáticas. “O desmatamento induzido por ação humana aumenta os efeitos de mudança climática, tornando eventos meteorológicos cada vez mais drásticos”. E finaliza dizendo que o caminho para a preservação ambiental é a promoção do desenvolvimento sustentável. “Os três pilares para uma economia verde são compreendidos por um modo de produção socialmente justo, economicamente próspero e ambientalmente sustentável”, conclui.

Exibida no dia 8 de novembro de 2021 pelo projeto do Observatório de Conjuntura, a conversa entre André Frota e Diogo Filipe Sens está disponível no canal do YouTube da Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança da Uninter. Você pode acompanhar na íntegra neste link.

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Autor: Sandy Lylia da Silva – Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pinterest


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