Entenda o que é crise política

Autor: Sandy Lylia da Silva - Estagiária de Jornalismo

O cenário político que vivenciamos atualmente no Brasil é consequência de uma história de conflitos entre grupos com visões e interesses diversos. Para compreender o que é uma crise política, precisamos voltar os olhos ao passado para analisar quais foram os caminhos que nos levaram ao atual estado de coisas.

Para refletir sobre a amplitude deste fenômeno, que faz parte da conjuntura política, o coordenador dos cursos de Ciência Política e de Gestão de Partidos Políticos da Uninter, Lucas Massimo, recebeu para um debate o seu colega e professor Luiz Domingos Costa.

Segundo Lucas, a crise política pode ser entendida em uma analogia com organismos vivos, que experimentam momentos de normalidade, funcionando de uma determinada maneira, e após uma série de fatores essa normalidade deixa de existir, sendo difícil delimitar exatamente onde começa e termina este ciclo.

Para Luiz Domingos, a mais utilizada definição de crise política é “crise de governabilidade”, em que o sistema político não consegue suprir o fluxo de demandas da sociedade, ocasionando um descompasso entre o que a população quer, precisa, espera e anseia e o que o governo realiza enquanto ator capaz de solucionar problemas.

Exemplo disso são os governos de Collor, na década de 1990, de FHC nos anos 2000 e de Lula a partir de 2005, casos em que a disfunção do topo do sistema governamental vem em efeito cascata, colocando os cidadãos em papéis passivos, domesticados, conforme definição conservadora do cientista político Samuel Phillips Huntington.

Lucas Massimo esclarece que crises como esta podem ser denominadas como topográficas: a base seria a sociedade e a origem da crise estaria no cume, nas instituições políticas.

Outra denominação seria a de “crise democrática”, mais grave e profunda, que coloca em risco a própria continuidade no regime democrático, resultando na adoção de regimes de força, como na intervenção dos quarteis. “Se formos pensar em círculos, as crises de governabilidade estariam em uma escala menor em relação às crises democráticas, mesmo estando em voga em todo mundo atualmente falhas neste tipo de sistema”, afirma Costa.

Ele explica que, conforme define o conceito de Michel Dobry, autor do livro “Sociologia das crises políticas”, o que vivemos em 2013, na manifestação popular conhecida como “jornadas de junho”, seria um conceito de crise diferente, como uma retroalimentação entre insatisfação popular e alteração das expectativas e atuações das instituições.

“Como uma contaminação de baixo para cima, as manifestações nas ruas retroalimentam as atitudes do judiciário, existe uma relação de conexão entre os reclames da população e as ações de certos atores institucionais”, afirma Luiz Domingos Costa.

Analisando o trabalho deste autor, Costa ressalta que existe uma continuidade entre a política rotineira e a política de crise, pois elas pertencem à mesma realidade, rejeitando a definição de que as crises seriam patologias dentro de organismos vivos saudáveis, conforme a analogia anterior.

“Crises políticas não são definíveis a partir nem das suas causas e nem das suas consequências. Quando uma mobilização de um setor se difunde e se torna multisetorial, aí temos uma crise política. Neste enquadramento, para Michel Dobry, uma crise política não se reduz a ter gente na rua, isso é uma condição necessária, mas não suficiente”, esclarece.

“Quando falamos do momento de crise política atual, as expectativas estão em suspenso. A situação está tão aguda que não sabemos qual será o próximo passo do oponente ou do aliado”, menciona Lucas Massimo.

Segundo ele, o atual governo de Jair Bolsonaro emerge deste movimento, do Estado crítico, utilizando situações como estas em favor das suas estratégias. “Não sabemos qual vai ser a próxima jogada do presidente, ou eventualmente dos militares, e nem dos membros do ‘Centrão’. Ameaças de impeachment avançam e recuam, e a irregularidade de atitudes de todos esses atores configura uma situação de crise, pois perdem as condições de previsibilidade do sistema”, diz.

Os professores concluem suas argumentações indicando o estudo de duas obras de fundamentação teórica para a compreensão sociológica do tema. São elas: “Sociologia das crises políticas”, de Michel Dobry, e “A Terceira Onda”, de Samuel P. Huntington.

A conversa entre Lucas Massimo e Luiz Domingos foi exibida pelo canal do YouTube da Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança da Uninter e pode ser conferida na íntegra neste link.

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Autor: Sandy Lylia da Silva - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pexels


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