Ameaças e oportunidades da Inteligência Artificial e da Internet das Coisas

Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de Jornalismo

A Internet das Coisas (IoT) é um dos pilares da Quarta Revolução Industrial. O conceito se refere a uma transformação tecnológica que possibilita a conexão e a interação entre os objetos do cotidiano.  Em resumo, é a conectividade que estamos acostumados a encontrar nos celulares, tablets, relógios e nas SmartTvs sendo aplicada também em geladeiras, roupas, portas, carros, espelhos e qualquer outro dispositivo.

A principal finalidade da Internet das Coisas é facilitar a vida das pessoas, automatizando tarefas. Para se ter uma ideia, já existem cafeteiras inteligentes que preparam o café da manhã assim que o usuário acorda. Além disso, milhões de pessoas possuem assistentes virtuais como a Alexa e o Google Assistente, que iniciam a manhã trazendo as principais notícias do dia.

Em um futuro próximo, os recursos da IoT irão revolucionar a forma como interagimos com a casa e os objetos. As cidades também tendem a se beneficiar dessa tecnologia, se transformando nas chamadas Smart Cities (cidades inteligentes), conceito que designa cidades organizadas com soluções tecnológicas e sustentáveis.

A partir do momento em que tudo está conectado, mudamos a forma de nos informar e de nos comunicar, e isso tem impacto no consumo de notícias. Como será o jornalismo em multitelas? Como fazer jornalismo em uma sociedade hiperconectada?

O jornalista e pesquisador futurista Marcelo Barcelos se propõe a pensar num fazer jornalístico pautado na Internet das Coisas. No livro, “Jornalismo em todas as coisas: o futuro das notícias com Inteligência Artificial (AI) e Internet das Coisas (IoT)”, o autor discute oportunidades e ameaças no futuro do jornalismo.

Fruto de sua tese de doutorado, o autor usa a metodologia de Prospectiva Estratégica – uma linha de pesquisa sob um olhar dedutivo do futuro. Barcelos utilizou como objetos de pesquisa dois grandes jornais brasileiros: Zero Hora e O Globo. Além disso, fez entrevistas com renomados pesquisadores nacionais e internacionais da área da comunicação e cibercultura.

“Objetos que até então não comunicavam passam a comunicar. Tudo pode ser conectado, inclusive o próprio corpo. Diante de várias pistas, como os robôs domésticos que limpam a casa, os aplicativos de integração de eletrodomésticos e as assistentes virtuais me levam a crer que cada vez mais a nossa vida será como no desenho ‘Os Jetsons’”, brinca Barcelos.

A inteligência artificial aliada ao jornalismo

O uso de inteligência artificial na produção de notícias já é uma realidade. Barcelos cita exemplos de notícias de placar de esportes escritas por meio de algoritmos. A empresa Stats Monkey, voltada para o segmento de jornalismo com inteligência artificial, já em 1995 utilizava robôs para produzir notícias sobre partidas de beisebol. No Brasil, a primeira experiência de notícia automatizada foi nas Olímpiadas do Rio de Janeiro, em 2016, em que algoritmos atualizavam o resultado dos jogos no Twitter.

Outro exemplo ainda mais recente é o portal G1, que nas eleições de 2020 utilizou inteligência artificial para noticiar o resultado das votações em cada uma das cidades do Brasil.Duas horas depois do pleito, o G1 já tinha mais de 5 mil textos produzidos pela inteligência artificial”, cometa o pesquisador.

No experimento de Barcelos, foi utilizada a tecnologia Google Duplex, um assistente virtual mais aperfeiçoado. Diferente da Alexia e Google Assistente, o Duplex é capaz de imitar a voz humana ao telefone com tamanha precisão que é quase impossível perceber que se está conversando com uma inteligência artificial. Criado em 2018, causou desconforto e fascínio no evento de lançamento apresentado por Sundar Pichai, CEO da big tech (confira aqui a apresentação e se surpreenda).

“Ao invés de pedir para um repórter ligar para a polícia para fazer a ronda da região, eu peço para a AI fazer isso. Então, a AI vai varrer a base de dados dos telefones da minha ronda pré-selecionada e vai ‘entrevistar’ essas delegacias para apontar aquilo que tem valor notícia. Deste modo, ela me entrega o material coletado na forma de texto ou voz sintética”, explica Barcelos sobre o experimento.

Tanto na redação do Zero Hora quanto no jornal O Globo foi observado que a inteligência artificial pode auxiliar o trabalho, desde que os jornalistas humanos coloquem limites para as máquinas. “Vamos ver se esse limite vai de fato acontecer”, comenta.

Como os jornalistas devem atuar nesse cenário?

Para a Internet das Coisas se concretizar é necessária uma conexão ultrarrápida e segura como a internet 5G. Esse tipo de rede já é realidade na China e nos EUA. No Brasil, segundo o ministro das comunicações, Fábio Faria, o 5G deverá estar disponível em todas as capitais do país até julho de 2022.

Diante desse futuro inevitável, Barcelos menciona a famosa frase de Gaston Berger, futurista francês, dita em 1957: “O futuro não se prevê, prepara-se”. O jornalista ainda cita os pensamentos de Rogério Christofoletti, um dos pesquisadores entrevistados em seu livro: “Talvez a possibilidade de falarmos mais sobre notícias com máquinas possa ajudar as redações a corrigir informações. Já a narrativa dos jornalistas humanos, para sobreviver à era das máquinas, terá que focar em história de autoria, estilo e ritmo”.

Barcelos diz que “focar em autoria” é buscar a singularidade humana. “É a singularidade de você estar na rua e olhar para determinado acontecimento ou personagem e dizer: ‘poxa, isso daqui é pauta, isso aqui é fantástico, inédito e incrível’. É a capacidade de nos comover e nos indignar a partir de valores humanos e não a partir de uma matriz [máquina]”, ressalta.

Para concluir, o futurista salienta que os critérios de noticiabilidade não são estanques, ou seja, estão sempre se transformando por períodos históricos e se alteram de acordo com diferentes contextos. E esses critérios “vão se alterar agora a partir do dispositivo”.

“Determinadas histórias você consegue trabalhar no smartwatch; determinadas histórias você não vai conseguir manter num carro conectado, por exemplo. Acredito que a gente vai unir design de mídia, design de interface e vai tentar encaixar a noticiabilidade olhando para essas telas. As telas não são só telas, as telas são experiências”, finaliza.

Barcelos levantou essa discussão em live do programa “Pra Vida Ser Mais”, transmitida no dia 12.ago.2021, nos canais oficiais do Grupo Uninter no Youtube e Facebook. A conversa foi mediada pelo professor Clóvis Teixeira. Para conferir a transmissão completa, clique aqui.

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Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Alex Knight/Pexels


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