Mídias digitais ampliam os modos de produção e consumo da cultura
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoSe há algumas décadas a informação poderia levar meses para chegar de um canto ao outro do mundo, hoje a tecnologia permite que isso aconteça em um clique. Com o avanço das mídias de massa e agora as mídias digitais, a forma de consumir e até de produzir conteúdos informativos também se modificou. No último ano, a pandemia e o distanciamento social aceleraram essas transformações. As pessoas precisaram pensar em novos modos de realizar atividades que antes eram feitas presencialmente, com a interação humana.
O mundo artístico e esportivo são alguns dos mais afetados. Apresentações com público ou esportes coletivos foram inviabilizados, mas não deixaram de acontecer por muito tempo, pois foram readaptados. Aplicativos para reuniões on-line e os smartphones colaboram nesse processo. Para compartilhar as inovações e discutir sobre as novas formas de atuar, a área de Linguagens Cultural e Corporal da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter realizou a 1ª Semana Nacional de Linguagens Cultural e Corporal, entre os dias 21 e 24.jun.2021, com o tema A experiência das práticas culturais e corporais a partir da mídia.
“Quatro dias de muita atividade, dinâmica, informação atual, para levar oportunidade de reflexão e também de analisar sua própria prática, em virtude do cenário que nós estamos vivendo. Um tema que abrange os cursos de educação física, música, artes visuais e também todos aqueles profissionais, estudantes, pesquisadores ou artistas que procuram saber um pouco mais como é esse cenário das práticas culturais e corporais”, explica o coordenador de área, Marcos Ruiz.
A diretora da ESE, Dinamara Machado, salienta a importância de se realizar um evento aberto para todos os públicos, transmitido ao vivo pela página do Facebook pelo canal do YouTube, assim como a relevância dos debates levantados pelos profissionais. “Estamos aqui para discutir, democratizar e mostrar que é possível fazer ciência de forma democrática e com qualidade”, comenta. “Conhecimentos que estão nos livros, mas também a história que fez deles os profissionais que merecem estar aqui”, conclui.
Cultura e a relação com as mídias
Vice-coordenadora do mestrado acadêmico em cinema e artes do vídeo na Universidade Estadual do Paraná (Unespar), Cristiane Wosniak foi a primeira palestrante e abordou o tema Corpo, mídia e comunicação. A profissional, que é mestre e doutora em comunicação e linguagens, estudos de cena e audiovisual, diz que os novos aparelhos tecnológicos se tornaram extensões do corpo humano e apresentou alguns autores que falam sobre o assunto, como Lucia Santaella, David Le Breton e Byung-Chul Han.
“Há muito tempo, já estamos totalmente vinculados à extensão de nós mesmos com esses aparatos tecnológicos, no qual o celular hoje é o protagonista”, afirma. E ainda lembra que “não há mais como separar tecnologia, ciência e educação. No meio disso tudo, temos as implicações enormes para o campo da própria educação. A educação tem que se rever nessa época da ubiquidade, onde a educação formal não é mais só feita em um único espaço. Está em os todos lugares, é acessada por meio de aplicativos”.
Em seguida, o coreógrafo Wanderley Lopes, primeiro bailarino do Balé Teatro Guaíra, falou sobre cultura e arte, os diversos tipos de linguagem da dança e o que foi possível criar durante a pandemia da Covid-19, além das barreiras que a manifestação artística ainda sofre. Para o profissional, que possui diversas premiações nacionais e internacionais e também já atuou como coreógrafo da Confederação Brasileira de Ginástica Olímpica Feminina, muitas vezes as pessoas associam a palavra educação como sinônimo de cultura, o que não é.
De acordo com Wanderley, a educação é um segmento cultural muito importante, mas faz parte de um “guarda-chuva” muito maior, que engloba também as artes plásticas, o cinema, a poesia, a escultura, a gastronomia, o design, e assim por diante. “É tudo o que a gente vivencia e está presente na nossa vida”, diz. A importância dessa colocação vem do fato de que, apesar de muito importante, a cultura também é pouco valorizada.
“Nós, que somos militantes nesse lugar diariamente, sentimos que há uma carência muito grande desse bem maior. A cultura é necessária para a vida humana, porque nos alimenta, faz a verdadeira transformação da nossa personalidade. Quando a gente tem acesso a tantas outras coisas, se torna uma pessoa melhor, sempre. Aguça o nosso senso crítico, a gente consegue ver o quanto é maravilhoso esse mundo que a gente habita, como tem cor, é brilhante”, conclui.
Os debates completos do primeiro dia de evento podem se acessados por meio deste link.
Produção artística
O produtor cultural Ricardo Trento e a museóloga Danielly Dias Sandy foram os convidados da segunda noite. Durante duas horas, os profissionais debateram sobre o trabalho artístico e tudo o que envolve os bastidores de produção. Ricardo é diretor da Trento Edições Culturais e presidente da ONG Unicultura, organizações que desenvolvem projetos culturais e sociais, com a proposta de difundir arte, conhecimento, cultura e valores humanos. Atua há mais de 20 anos no mercado e já recebeu alguns prêmios pelas criações.
“Ser produtor cultural hoje é uma missão, porque temos uma responsabilidade que é poder propiciar ao outro esse acesso à arte. Estamos falando de um país com 5.500 municípios que não têm equipamento culturais disponíveis, a arte não é uma prioridade. Vejo a arte como uma necessidade como o ar que a gente respira. Esses 20 anos me colocaram em contato com muitas pessoas. A produção cultural no Brasil hoje se sustenta por leis de incentivo. Eu acho que toda relação de produção vai ao encontro com o que eu percebo na comunidade e de que forma a gente pode colocar esse conhecimento e essa ação juntos”, salienta Trento.
Danielly lembra que a arte não é feita só de artistas, as pessoas que estão em cima de um palco ou aparecendo na televisão, por exemplo. Por isso, a importância de se envolver com as diversas linguagens e um conhecimento que abrange todos os que colaboram para que as produções sejam levadas ao público. “Há muitos profissionais trabalhando nesse sentido e buscando que o Brasil se desenvolva mais, porque infelizmente, do ponto de vista do estado, a arte não é um elemento principal, de primeira necessidade”, complementa.
Os profissionais ainda debateram sobre a arte como transformadora de vidas e importância do estudo para atuar na área, com muita leitura e repertório, além de vivenciar espaços culturais e artísticos. “A partir do momento que a gente se encontra com a arte, nunca mais volta para o mesmo lugar, sempre vai adiante. Então, eu me transformo e transformo as vidas ao redor”, afirma Trento.
Além disso, o produtor garante que a cultura está relacionada não apenas com a saúde física e mental das pessoas, mas também com a saúde econômica do país. “Não é um processo de lazer somente, precisa ser encarada como uma relação estratégica para um país”, conclui.
A segunda noite ainda contou com momentos culturais, realizados pelo professor Jomar Villanova, que fez um grafite durante a live, e a professora Elaine Bülow, que apresentou a canção “Lua Branca”, de Chiquinha Gonzaga. O bate-papo completo, segue disponível para livre acesso.
Apresentações de casos
A semana também foi marcada por compartilhamento de casos, realizados por profissionais de diferentes áreas, no terceiro dia de evento. Para começar, o compositor peruano José Luiz Manrique, que é regente do coral Coro e Orquestra Arquidiocesanos Luz dos Pinhais, abordou as Práticas musicais remotas. O profissional, que também tem experiência em áudio profissional e aplicações eletroacústicas, mostra o que conseguiu realizar no período de distanciamento social.
“Começamos a produzir a partir dos elementos que a gente tem em casa. Hoje, temos a possibilidade de fazer esses tipos de trabalhos com muita qualidade. Os celulares, com as tecnologias mais recentes, têm uma boa capitação de áudio e vídeo”, garante.
A professora Katiuscia Figuerôa, que é proprietária e gestora de uma academia de artes marciais e atua nos cursos de Educação Física e pós-graduação da Uninter, falou sobre Capoeira on-line: desafios e perspectivas. A docente dá aulas da luta há mais de 20 anos e já realizou apresentações de cultural popular brasileira em vários países da Europa. Com a experiência, conta quais soluções encontrou para este período.
“A capoeira é uma atividade de luta, precisa da interação. No jogo, você vai desenvolver os seus movimentos a partir dos movimentos da outra pessoa e, dentro de casa, perde essa característica principal”, diz.
André Luiz Santos, mestre em educação e novas tecnologias, é docente na Uninter e também leciona em escolas de ensino fundamental e médio. Desde o ano passado, precisou readaptar as aulas de arte e explica como o ensino remoto interferiu no trabalho. Para ele, a experiência no centro universitário, que é referência no ensino à distância, facilitou as adaptações. Ainda assim, “para a grande maioria caiu como uma bomba, os professores tiveram que, em alguns dias, readaptar todo o trabalho”, comenta.
O professor Rafael Mello, mestre em Educação Física e professor na Uninter, falou acerca do Personal trainer on-line: desafios e perspectivas. O educador apresentou uma pesquisa realizada pela American College Of Sports Medicine, que mostrou o treino on-line, a tecnologia vestida e o treinamento com peso corporal como as principais tendências fitness para 2021. “Basicamente é o que nós fazemos. Estamos treinando on-line, utilizando algum aplicativo e usando o peso do nosso próprio corpo, porque as pessoas estão em casa e tivemos que adaptar de alguma forma”.
Claudia Briza é artista plástica e atualmente estuda Artes Visuais na Uninter. Com uma extensa experiência em áreas como no cinema, TV, teatro e exposições de arte, abordou as Artes visuais e suas possibilidades, a partir da própria vivência. Para a profissional, este momento difícil de pandemia também “abriu novos horizontes”. “Acho que a grande descoberta são os cursos on-line de artes. Têm pessoas do Brasil inteiro, então a gente troca trabalhos por WhatsApp”, diz.
O compositor e produtor musical José Navarro, especialista em música na educação infantil, contou sobre as experiências que adquiriu nas escolas, onde atua há 12 anos. “Com essa questão da pandemia, tive uma experiência muito grande. É quando surgem as dificuldades, essas pedras no caminho, que começam a surgir ideias e possibilidades de adaptação”, afirma.
Confira todas as apresentações sobre os temas clicando aqui.
Workshop
A 1ª Semana Nacional de Linguagens Cultural e Corporal encerrou com três workshops sobre as diferentes áreas, mediados pelo professor João Rufalo. O primeiro foi realizado pelas professoras Ana Zattar e Evelyne Correia, sobre Corpo, movimento e as tecnologias digitais. Logo depois, os professores Etienne Henklein e Regiane Moreira e a técnica em publicidade e propaganda, Bianca Siqueira, debateram sobre Artes visuais e as contribuições dos recursos midiáticos. Para finalizar, o professor Alysson Siqueira abordou o tema Música, tecnologia e inovação.
As oficinas podem ser acessadas neste link.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König