Rafaela Hoebel é a primeira estudante surda a defender mestrado em Educação na Uninter

Autor: Evandro Tosin - Assistente de Comunicação Acadêmica

Ficou ainda mais evidente a necessidade de comunicação online nas rotinas de docentes da educação superior com o agravamento da pandemia no Brasil, devido às medidas de distanciamento social e cancelamento das aulas presenciais. O “pós-março de 2020” provocou o uso do ensino remoto de forma geral, em uma sociedade com amplo desenvolvimento tecnológico e enorme número de informações com que somos impactados diariamente. Essa tecnologia tem papel imprescindível para o processo de educação de docentes e alunos surdos, principalmente com o uso da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

Rafaela Piekarski Hoebel Lopes dos Santos é a primeira mestranda surda aprovada no Mestrado em Educação e Novas Tecnologias da Uninter. A aprovação ocorreu em sessão solene virtual no dia 01.jun.2021, em que a estudante realizou a defesa da dissertação intitulada “O contexto da docência da educação superior e a comunicação on-line: Considerações de uma professora surda sobre o uso das tecnologias pós-março de 2020”. Rafaela também é docente da Escola Superior de Educação da Uninter desde 2018. Ela também atua no projeto de pesquisa “Formação do docente no contexto da sua prática: integração significativa das tecnologias”.

Rafaela nasceu surda, em uma família em que a perda auditiva era comum. Partiu dela o uso de LIBRAS para se comunicar com a família e colegas durante a educação formal. Em seu contexto escolar, vivenciou a prioridade da língua oral em um período em que não era utilizada a língua de sinais. Historicamente o ensino de surdos se restringia à escrita, ao falar e na leitura labial – o método do oralismo valia tanto para surdos quanto para ouvintes. Rafaela conta que ajudava os colegas mesmo sofrendo punições físicas ao utilizar a língua de sinais, porque o seu uso era proibido.

A dissertação da mestranda buscou “compreender os principais desafios da comunicação mediada por ferramentas digitais on-line para ministrar suas aulas”. A estudante elaborou um diagrama com direcionamentos para a comunicação de um professor surdo, o que pode contribuir para a formação de docentes ou métodos que auxiliem os professores nas práticas pedagógicas. São eles:

  • Comunicação mediada pelo digital;
  • Comunicação para/com emoção e afeto;
  • Comunicação em ambientes compartilhados;
  • Comunicação sem dificuldade de interação social.

A orientadora da dissertação,  a professora Luana Priscila Wunsch, enfatiza a contribuição da pesquisa para o meio acadêmico no ponto de vista da inclusão do docente surdo no ensino superior e também sobre o ineditismo do trabalho.

“A dissertação é bastante inclusiva. Além da escrita, uma parte é feita em vídeo com Libras, feita pela própria Rafaela. Tem QR-Code, por meio do qual pode-se ter acesso aos depoimentos dela. É uma abordagem metodológica chamada história de vida, é Rafaela se colocando como investigada dela mesma. Trabalhamos com a questão de diário de bordo”, explica Luana.

Na pesquisa, a mestranda produziu um diário autobiográfico bilíngue (Português-LIBRAS). Nele, é que possível assistir a vídeos em Libras através do posicionamento do celular para leitura do QR-CODE. Em cada categoria, há um vídeo descritivo a respeito dos assuntos abordados.

Leomar Marchesini, coordenadora do Serviço de Inclusão e Atendimento aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (Sianee) da Uninter, participou da apresentação de defesa da estudante. Leomar lembra de quando conheceu Rafaela, ao observar o seu potencial a indicou para trabalhar na instituição.

“Acreditei na Rafaela assim que a conheci e percebi sua vivacidade e entusiasmo no que fazia. Foi aí que a convidei para ser professora de Libras na Uninter, dependendo da aprovação da professora Dinamara Machado, o que aconteceu. Continuei acompanhando seu desempenho e a incentivei a fazer o mestrado”, recorda Leomar.

“Durante o curso, os intérpretes de Libras fizeram a mediação linguística para ela, durante aulas e reuniões. E esclareceram as dúvidas dos professores e da orientadora sobre a diversidade dos surdos. Da mesma forma, eu tive reuniões com a professora Luana a esclareci sobre surdos e particularmente sobre as características da mestranda. Parece que isto foi bastante importante e ajudou no seu trabalho.  Posso dizer que participar da apresentação de Rafaela para a banca de avaliação, foi um grande momento de realização para mim também”, explica Leomar.

Participaram da banca de defesa os professores Ivo José Both e Marcia Fernandes de Oliveira, ambos do programa de mestrado da Uninter. A doutora em Educação Elisabete Cerutti foi a convidada externa, docente na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI). Também marcaram presença na banca o pró-reitor de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Uninter, Nelson Castanheira, e a coordenadora do Mestrado em Educação e Novas Tecnologias, Siderly Almeida.

Grupos de estudantes acerca da temática de diferentes localidades do Brasil também compareceram. A transmissão do evento ocorreu pelo Google Meet, com 2 horas e 30 minutos de duração. Foram mais de 80 participantes de modo remoto que acompanharam a aprovação de Rafaela no ato solene em que ela recebeu a nota 100.

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Autor: Evandro Tosin - Assistente de Comunicação Acadêmica
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal


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