Livro resgata a preservação cultural de artesãos do Largo da Ordem

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

Feiras de artesanato voltam a funcionar de segunda a sábado. Foto: Luiz Costa/SMCS

Muitas vezes, o espaço público não é apenas um local de passagem no trajeto para compromissos do dia a dia, nem mesmo só de lazer para aqueles que gostam de aproveitar o tempo livre em passeios, contato com a natureza ou atividades esportivas. Esses lugares são também o local de trabalho de muitos profissionais. Assim acontece com os artesãos da feira do Largo da Ordem, em Curitiba (PR). E é nesse espaço que eles conseguem não somente a renda para sobrevivência, mas é também onde deixam suas subjetividades e criatividades, através dos produtos que vendem.

Essa é a realidade que o professor Julio Cezar Bernardelli, da Escola de Gestão, Comunicação e Negócos (EGCN) da Uninter, quis apresentar no livro O artesão da Feira do Largo da Ordem, escrito junto à pesquisadora Maria Sara de Lima Dias. A obra é resultado do mestrado realizado pelo docente na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), e que teve a trajetória contada pela Central de Notícias Uninter (CNU) neste link.

A convite da professora Dinamara Machado, diretora da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter, Julio e Maria Sara publicaram o livro pela Editora Dialética e Realidade, e pode ser adquirido de forma gratuita. O lançamento aconteceu no dia 31.mar.2021, em uma transmissão ao vivo do programa Dialética e Realidade, apresentado por Dinamara.

“É fundamental dar visibilidade à pesquisa do Julio, porque eu acredito que é o primeiro livro de uma pesquisa científica, publicado em Curitiba, com referência aos trabalhadores do Largo da Ordem. Eu acho que o lançamento do livro é o reconhecimento de tantos e tantos trabalhadores que deixaram boa parte de sua vida pelas ruas, às vezes em condições terríveis de trabalho, mas que são possibilidades concretas de comercialização, de exposição. Sem o espaço público, sem publicização do que fazem esses trabalhadores, como poderiam ter reconhecimento e como poderiam ter algum tipo de retorno?”, diz a orientadora Maria Sara.

Ao contrário do que muitos pensam, o pesquisador afirma que os objetos vendidos não têm nada de industrializados. Eles são construídos pela manufatura, carregam a história de vida dos artesãos, em muitos casos há mais de 40 anos. Por se tratar de uma feira turística, aqueles que passam pelas barracas focam nos produtos e esquecem do ser humano que há por trás do trabalho desenvolvido. Portanto, Julio quis resgatar esses profissionais e dar visibilidade para as trajetórias deles, que carregam “vitórias” e “tropeços”.

“Eu tinha um olhar para a feira de falar ‘nossa, mas como é caro isso’, porque eu estava ali enxergando o preço e não o valor que ele tem. Quando você conhece a história, a origem, você fala ‘não tem preço que pague isso’. Quando você conhece esse tipo de gente que está ali, que não é como a gente, eles são muito melhores, têm mais de 40 anos de vida, de luta, com sol, com chuva, sem desistir daqueles objetos. Quando você conhece a pessoa, você fala ‘isso é valor, tem valor e vale a pena’”, salienta.

São mais de dois mil feirantes atualmente. Para a pesquisa, Julio foi em busca de cada um dos seguimentos que participam da feira e escolheu um representante de cada para entrevistar. O profissional conta que alguns estavam quase desistindo do trabalho que realizam, até o dia em que assistiram a banca de defesa de Julio e se depararam com a riqueza histórica do que vivem.

Dinamara ressalta que o estudo realizado pelo docente tem um “laço de preservação de cultura muito forte” e uma “representatividade de identidade”. De acordo com a professora, “é uma pesquisa que demonstra o âmago” dos artesãos, que vivem marginalizados, em um espaço em que são diminuídos, apenas por não terem “uma grande loja”. “Olha a recuperação de um profissional que está fazendo a sua atividade de forma ética”, afirma.

“A pesquisa participante, de uma ação investigativa efetiva, tem um efeito educativo. O caráter educativo está em devolver o produto do processo de pesquisa para a comunidade. Às vezes a gente se depara com muitos alunos de mestrado, doutorado, que depositam ali a dissertação, mas não tem esse caráter educativo. Eu acho que o papel da universidade é devolver para a sociedade o que a gente está fazendo em termos de pesquisa, como essa pesquisa pode mudar o cotidiano e a vida das pessoas. Eu acho que tem um impacto em cada um dos feirantes e até no sentido de se organizarem como coletivo, de se identificarem, criarem essa identidade de trabalhador, de ser um artesão, valorizar a atividade”, conclui Maria Sara.

Julio mantém contato com muitos dos artesãos que compõem a obra e conta que, a chegada da pandemia e a necessidade de pausar as atividades nas ruas em determinados momentos, tem deixado os artistas em situações difíceis. Os profissionais têm, inclusive, realizado campanhas para arrecadação de alimentos não perecíveis.

“Tem alguns que estão passando muita dificuldade nisso, essa época está realmente complicada. Eles tentam vender através dos seus sites, alguns têm sites coletivos também, ainda conseguem fazer vendas assim, mas claro que o volume é muito menor do que se estivesse lá presencialmente. Não é uma situação muito fácil para eles. Quem puder ajudar, entrar no site da feira e comprar alguns produtos, vai estar ajudando muito esse pessoal”, salienta.

O bate-papo completo sobre a obra e as histórias nela contadas, segue disponível para acesso.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Luiz Costa/SMCS Curitiba


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *