A reinvenção do modelo de negócio jornalístico
Autor: Poliana Almeida - Estagiária de JornalismoEm comemoração ao Dia do Jornalista (07 de abril), o curso de bacharelado em Jornalismo da Uninter organizou uma série de lives com convidados especiais. O tema do evento é Jornalismo em Tempos de Desinformação e Polarização, com transmissão ao vivo pelo Facebook e Youtube.
Na última terça-feira, 6.abr.2021, o coordenador do curso, Guilherme Gonçalves de Carvalho, recebeu o professor João Figueira, docente da Universidade de Coimbra (Portugal), e o jornalista Silvio Navarro, editor da revista Oeste e comentarista político da Rede TV. O tema da conversa foi “Jornalismo e mercado: cenário global e local”.
Na abertura do evento, Guilherme destacou a importância da data para os profissionais da imprensa nacional. Em 1931, por decisão da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), 7 de abril foi instituído como Dia do Jornalista, em homenagem a Giovanni Battista Líbero Badaró, médico e jornalista morto por inimigos políticos em 1830. João Figueira complementou dizendo “jornalista uma vez, jornalista para sempre”, e Silvio relembrou a famosa frase de Gabriel García Márquez: “Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz”.
Guilherme incitou o debate sobre o tema dizendo que o atual momento de insegurança reforça a procura por notícias produzidas por profissionais, ou seja, aquelas que seguem os preceitos da produção jornalística.
Crise no modelo de negócio
Silvio chamou atenção para o fenômeno da queda na circulação de grandes veículos impressos, nas duas últimas décadas. Segundo Silvio, os números expõem a dificuldade de grandes conglomerados de mídia em encontrar um novo modelo de negócio. Inicialmente, tentou-se usar o paywall (notícias exclusivas para assinantes do jornal), mas agora já se percebe que esse modelo não foi tão bem sucedido.
Por outro lado, João Figueira destaca que houve um real aumento no consumo de informação. Devido ao maior tempo que passam em casa, as pessoas estão lendo mais notícias. Além disso, temos a exploração dos conteúdos online, que muitas vezes não são produzidos de acordo com ética e profissionalismo. A soma dos dois fatores resultou em um processo de crise do jornalismo. João Figueira cita o caso da Espanha, em que o governo federal teve de alertar sobre sites fakes em circulação. “É muita informação, muita procura por informação”, destaca.
Figueira reforça que os jornalistas não podem esquecer do essencial, que é se perguntarem para que serve sua profissão. De acordo com ele, tanto a política quanto o jornalismo estão ligados pelo mesmo fio condutor: a cidadania. Hoje os cidadãos estão mais longe da política e menos propensos a comprar notícias, e isso é um problema a ser enfrentado.
O professor português é direto quando diz que o modelo de negócio do jornalismo está em crise. Em contrapartida, sugere dois caminhos para financiar o jornalismo: continuar a procura por publicidade; produzir um tipo de jornalismo “mais exigente”, ou seja, conteúdo elaborado com maior profundidade e complexidade. Sobre a segunda opção, o próprio docente acredita que não é uma alternativa fácil, porque para isso precisaríamos de tempo para produção de conteúdo. E tempo é coisa que nos falta hoje em dia.
De toda forma, a preocupação com uma apuração de qualidade, com relatos fidedignos e com a notícia sendo entregue o mais completa possível deve ser o alvo de bons profissionais da comunicação, afirma Figueira. Ele faz uma analogia com um iogurte: “Iogurte estragado faz mal ao estômago. Notícia estragada faz mal à cabeça”, conclui.
O debate ideológico também entrou na conversa. Navarro disse que concorda com o termo “jornalismo ideológico” e que, no Brasil, não há um posicionamento claro por parte dos jornais, como acontece em outros países.
Figueira analisa que todo jornalismo é ideológico. Para além disso, discorre que a ideologia está sempre na informação que os jornalistas trazem, afinal ela é uma “visão de mundo e parte de um quadro” através do qual vemos a realidade.
Guilherme argumenta que o jornalismo sempre esteve em uma aparente crise e que sua prática nunca será consensual. O coordenador vê o Brasil como uma grande fonte de diversidade e pluralismo dentro da área, apesar de todas as críticas.
Você pode conferir o bate-papo na íntegra clicando aqui.
Autor: Poliana Almeida - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro