Histórias em quadrinho ajudam a entender a condição humana

Autor: Matheus Alexandre Minotto - Estagiário de Jornalismo

As histórias em quadrinhos infantis sempre foram de grande auxílio para a educação, principalmente por servirem de introdução à leitura e facilitar o aprendizado dos alunos sobre os mais diversos temas ensinados nas escolas. Algumas histórias em quadrinhos, como a da Turma do Xaxado, de Antônio Cedraz, e Calvin e Hobbes, de Bill Watterson, podem ser usadas como base para o ensino de filosofia dentro das salas de aula.

No artigo intitulado Histórias em quadrinhos e o ensino de filosofia da educação, de Fernanda Antônia Barbosa da Mota e Heraldo Aparecido Silva, publicado em edição temática da Revista Intersaberes, da Uninter, debate-se sobre os resultados de uma pesquisa realizada sobre a utilização de histórias em quadrinhos (HQs) no ensino de filosofia da educação, trazendo uma breve descrição dos elementos constituintes das histórias em quadrinhos infantis e de sua relevância pedagógica.

De acordo com Waldomiro Vergueiro e Paulo Ramos, as histórias em quadrinhos são constituídas por dois elementos interligados: a imagem e o texto, sendo que a ligação desses dois itens gera um sistema narrativo original e de fácil compreensão. Dessa forma, Mota e Silva destacam que o campo das histórias em quadrinhos é vasto em questões temáticas. No estudo que realizaram, os autores se limitaram apenas ao gênero de histórias em quadrinhos infantis, visto que são mais conhecidas e acessíveis ao público em geral.

A pesquisa apresenta caráter teórico-interpretativo, buscando a descrição do objeto pesquisado por meio de revisões bibliográficas e da compreensão das contribuições específicas de autores da área da filosofia.

Os autores do estudo constatam que as HQs são um importante instrumento não-teórico para intensificar a relação mútua nos ambientes de ensino, tomando como exemplo as aulas de Filosofia da Educação na Universidade Federal do Piauí, cuja temática foi focada em discussões sobre questões sociopolíticas e culturais no contexto regional e nacional.

Uma das tirinhas que foi utilizada para a pesquisa foi a da Turma do Xaxado, criada pelo cartunista baiano Antônio Luiz Ramos Cedraz, que trata sobre a relação entre política, alienação e conscientização. De um jeito bem humorado, ela denuncia um caso de corrupção política e de consciência ingênua que praticamente se torna um legado prejudicial, que se passa de geração para geração.

Depois da breve leitura da HQ, o professor de filosofia da Universidade Federal do Piauí, em Teresina, perguntou aos estudantes se a situação mostrada traz algum tipo de lembrança para eles ou se é apenas ficção. A maioria deles informou que a situação retratada era realista, e ocorreu um breve debate dentro da sala de aula, que os levou a abordar conceitos de emancipação, alienação, ideologia e conscientização. A partir disso, diversos teóricos fossem mencionados, tais como Immanuel Kant, Karl Marx, Theodor Adorno e Paulo Freire.

A outra história em quadrinhos que foi usada pelos autores para a pesquisa do artigo foi a de Calvin e Hobbes, criada pelo cartunista norte-americano Bill Watterson. A HQ traz personagens inspiradas nas figuras do teólogo reformista protestante francês João Calvino e do filósofo inglês Thomas Hobbes. Os teóricos que emprestaram seus nomes para as criações do cartunista Watterson, Calvino e Hobbes, escreveram sobre assuntos universais como Deus, o Estado, a vida, a moralidade e a condição humana.

Nas HQs, tais assuntos são tratados com humor e crítica sob a perspectiva de um garoto chamado Calvin, de apenas 6 anos, e de seu amigo, um tigre de pelúcia chamado Hobbes, que também ironizam e criticam a forma de vida americana. O primeiro exemplo que foi apresentado aos alunos retratava a exploração de um outro ser humano que, na tirinha, é representada pela possibilidade de autoexploração. Na perspectiva de Calvin, a bondade não é uma virtude, mas apenas uma fraqueza a ser explorada.

O professor comentou com os seus estudantes que a perspectiva sombria dos teóricos Calvino e Hobbes sobre a natureza predadora do homem, quando transposta para o universo infantil das tirinhas de Calvin & Hobbes, assume proporções e atributos mais inofensivos. Entretanto, o impulso para a reflexão acerca dos temas “sérios” é um constante incentivo. Exemplo disso é o fato de Calvin utilizar, como toda criança travessa faz, sua imaginação demasiadamente fértil para construir casos lúdicos.

Por fim, os autores concluíram que a natureza híbrida, teórico-prática das histórias em quadrinhos serve para abordar temas pertinentes à filosofia da educação, conectando-se às experiências dos alunos. O efeito é que os discentes são facilmente instigados a participar do debate, pois sua intimidade com a linguagem da nona arte faz com que não permaneçam subservientes aos pensamentos expressos, seja nos textos filosófico-educacionais ou na imagética-textual das HQs infantis.

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Autor: Matheus Alexandre Minotto - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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