Como o clima afeta nossas vidas
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoA climatologia e a meteorologia são áreas que caminharam juntas desde seu surgimento até o século 19, quando as ciências passaram a ter ramos disciplinares específicos, como as humanas, as exatas e as da natureza. A partir daí as duas passaram a ser estudadas por suas especificidades, mas até hoje o cidadão comum tem dificuldade de distingui-las e muitas vezes se confunde ao utilizar os termos clima e tempo como sinônimos.
A professora Larissa Warnavin, que atua na área de Geociências da Escola Superior de Educação da Uninter, explica que a meteorologia tem a ver com os dados atmosféricos do tempo, com monitoramento das chuvas, nebulosidades, ventos, temperatura, previsão do tempo. Essa área utiliza imagens de radares e satélites para compreender essas dinâmicas.
Já a climatologia “estuda o espaço geográfico a partir da interação da sociedade com a natureza” e pode ser abordada a partir de uma perspectiva física ou geográfica. Ao considera-la como uma das disciplinas da geografia física, está mais ligada às ciências humanas.
Sendo assim, o clima está associado a um determinado período de tempo. A normal climatológica, termo utilizado para o estudo, leva entre 30 e 35 anos para a coleta de dados atmosféricos de uma determinada região para determinar com maior exatidão as características climáticas daquele espaço. Isso pode mudar em um ano atípico. Este ano, por exemplo, a região sul do Brasil, classificada como subtropical úmida, passou por um inverno muito seco e quente.
Já o tempo meteorológico se refere a um período mais curto, ele determina como está o clima no momento, dá a previsão para alguns dias ou semana. Larissa busca por uma analogia para definir os dois conceitos e diz que “o clima é como se fosse a personalidade de uma pessoa, e o tempo ou condições meteorológicas são o humor. O nosso humor é daquele momento, são as condições daquela semana. E o clima é a personalidade, que tem uma duração maior”.
A profissional ressalta que é de extrema importância que os estudantes da área de licenciatura, que irão atuar na educação básica, dominem os conceitos para que consigam ensinar de forma correta para os alunos.
Theodoro Souza, também professor da área de Geociências, diz que os fenômenos que acontecem apresentam intensidades diferentes, de forma que às vezes as pessoas nem os sentem. Mas os estudos servem para que se tenha uma previsão, visto que sua ocorrência impacta diretamente nas atividades econômicas, como a agricultura, e chega até o consumidor, com o aumento do custo dos alimentos, por exemplo.
Aquecimento global e mudanças climáticas
Principalmente a partir do ano 2000, acentuou-se o debate sobre o aquecimento global. Larissa observa que o tom alarmista das previsões dominava a comunicação neste momento, o que tem sido revisto nos últimos anos.
Nessa época já existia o termo ‘mudanças climáticas’ e os dois termos são utilizados correntemente, mas servem para assuntos distintos. “O aquecimento global se refere exclusivamente ao aquecimento da Terra em função da emissão de gases de estufa e do processo de industrialização”, explica a docente. Esse aquecimento varia nos estudos, já que têm linhas diferentes, tanto de grupos que defendem o aquecimento de todo o planeta quanto aqueles que defendem o aquecimento em regiões delimitadas do globo.
As mudanças climáticas, no entanto, estão associadas a um combo de informações, ligadas à industrialização, urbanização, consumo, extração, queima de combustíveis fósseis, desmatamento, superpopulação e outros. Isso acarreta no aquecimento de alguns lugares e resfriamento de outros, com chuvas isoladas que causam deslizamentos, enchentes, e impactam a vida das pessoas em áreas urbanas.
“Os cientistas não têm ainda uma visão que predomine sobre a outra, não temos ainda uma aceitação como um todo da sociedade científica. Cada vez mais temos a tendência de utilizar o termo mudanças climáticas, justamente porque às vezes queremos nos referir a outras coisas e não só ao efeito estufa e aquecimento global”, afirma Larissa.
A professora comenta que os profissionais da área de educação já vêm atuando para maior conscientização dos estudantes, através de estudos, pesquisas, informações científicas confiáveis repassadas de forma segura. Mas que também devem existir políticas públicas para a divulgação desses dados para a população em geral. Ela afirma que são questões de civilidade, e não partidárias.
“A gente não deveria nem discutir, deveria ser uma ação automática de qualquer cidadão se sentir responsável pelo lixo que ele produz, pelo ambiente, em economizar água, esperar um pouquinho mais para trocar de celular porque aquele celular vai virar um lixo eletrônico quase irrecuperável. A discussão não é anticapitalismo, mas é ‘vamos ser mais inteligentes com esse capitalismo que está aí’, como a gente pode utilizar os recursos de forma mais inteligente”, salienta.
O negacionismo pode ser uma barreira a mais nesse percurso para transformação das ações humanas. O professor Theodoro explica que os estudos sobre mudanças climáticas ainda estão ocorrendo, então não há conclusões. Mas que o aquecimento global é um fato confirmado e acontece em decorrência do estilo de vida das pessoas.
“Eu acho que deve ter mais esclarecimento, mais leitura, mais divulgação de informações, não sendo tendenciosas para atender esse ou aquele lado. Pesquisa e divulgação dos dados que sejam fidedignos, que não sejam manipulados para atender à opinião de determinados grupos”, conclui.
Larissa e Theodoro debateram sobre esses e outros aspectos do tema durante o programa Dialogando com a Geociências sobre Climatologia e clima urbano, no dia 26.nov.2020, com mediação da professora Thaisa Nadal. O bate-papo se deu através da página de Geociências e contou com a presença de estudantes do curso de Ciências Biológicas e Geografia da Uninter.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Klimkin/Pixabay