Os caminhos e para estudar no exterior

Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo

O profissional das ciências sociais tem diferentes opções de caminhos a seguir na carreira. Atuando em entidades públicas ou privadas, ele é o responsável por organizar projetos e políticas de ação na sociedade. A especialização internacional também pode ser uma escolha: seja para aperfeiçoar o trabalho prático ou para ingressar de vez no ambiente acadêmico, as portas para o intercâmbio durante a graduação ou pós-graduação podem ser abertas em diferentes estágios do curso.

Os cursos da Uninter de Relações Internacionais e Ciência Política receberam os membros do BRaS Center (Centro Brasileiro de Pesquisas e Estudos), que deram dicas sobre bolsas de estudo fora do Brasil e avaliaram a situação atual de financiamento no país. Transmitida pelo Univirtus em 4.nov.20, a aula interativa Caminhos para a internacionalização teve a mediação do coordenador do curso de Ciência Política, Lucas Massimo.

O BRaS é um centro de pesquisa independente e sem fins lucrativos, com sede em Würzburg, na Alemanha. Atuando desde o ano passado, o grupo produz e divulga pesquisas relevantes em ciências sociais com foco no Brasil. Sua missão é a de criar espaços para pesquisadores brasileiros e estrangeiros que pesquisam sobre o país. Com foco nos estudos transdisciplinares, o coletivo abrange todas as áreas das ciências humanas e sociais aplicadas, reunindo outros campos como filosofia, sociologia e antropologia.

A opção por um determinado país ou instituição estrangeira para complementar a experiência acadêmica depende de uma série de fatores. Essas variáveis devem ser bem definidas pelo estudante, pois são entrelaçadas e impactam diretamente o desempenho acadêmico. Cultura e geografia locais, métodos de pesquisa da universidade, coerência entre os estudos do aluno e a grade ofertada pela instituição, moradia, regras de estadia, processo de aplicação: tudo deve ser considerado.

“Você tem que pensar muito bem antes de querer fazer um doutorado ou graduação no exterior. Isso vem com desafios que você tem que estar preparado ou se preparar desde muito antes”, enfatiza Jayane Maia, doutoranda em Ciência Política na Universidade de Hamburgo e participante do comitê acadêmico do BRaS.

O conhecimento do idioma, ainda que mínimo, pode facilitar a admissão no processo de inscrição. Nem todos os países têm como tradição a recepção de estrangeiros somente com a língua inglesa.

Cortes para bolsas de pesquisa

Mesmo com um planejamento extenso, o aluno deve contar com outras alternativas. O Brasil possui diferentes agências de fomento para pesquisa e intercâmbio, de natureza pública ou privada, e que precisam ser sondadas constantemente. Entre as não-governamentais destacadas pela equipe do BRaS estão o programa Santander Universidades (parceiro da Uninter), Erasmus e Lemann. Dos programas estatais, CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e FNDTC (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

A Capes contabilizou, no ano passado, 7.660 brasileiros estudando no exterior com financiamento da fundação. As ciências sociais são a sexta área de ensino mais contemplada (654 bolsas concedidas) entre os nove segmentos de pesquisa destacados no Geocapes. As engenharias lideram a classificação, com 1.617 bolsas ofertadas.

Além dessa diferente distribuição, o fomento para pesquisa tem sido prejudicado pelas políticas públicas de ensino dos últimos governos federais. A própria Capes chegou a registrar 44.412 bolsas de intercâmbio em 2014, número quase seis vezes maior que o atual. O número de financiamentos, que vinha em expansão desde os anos 2000, regrediu de forma expressiva nos últimos tempos.

Anna Bennech, editora associada do BRaS e doutoranda em Ciência Política na Universidade de Würzburg, acredita que a falta de investimentos federais no ensino geral é um sintoma do crescimento de governos de extrema-direita no Brasil e o recente processo de escolarização no país.

“O Brasil foi o último país da América Latina a investir em ensino superior. A nossa trajetória de investimento em ensino e pesquisa é bastante recente”, diz. “Nós tivemos recentemente, na metade dos anos 2000 em diante, um crescimento do investimento no ensino superior e na pesquisa. Tínhamos mais bolsas, verbas para material e laboratório e investimento em intercâmbio.”

Ela lembra que, em 2019, a educação brasileira perdeu R$ 32 bilhões por causa do Teto de Gastos Públicos (Emenda Constitucional 95), aprovada em 2016 durante o governo de Michel Temer (2016 – 2019). O dispositivo permite o corte em orçamentos do governo federal como forma de controlar a dívida pública. Na educação, a restrição não se aplica somente às pesquisas feitas no Brasil ou no exterior, mas passa diretamente por programas básicos de ensino na infância, combate ao analfabetismo e condições de trabalho aos professores.

Entre 2019 e 2020, a Capes perdeu um terço de seus recursos financeiros: de R$ 4,25 bilhões para R$ 2,84 bilhões. A redução ocasionou o corte de mais 8 mil bolsas permanentes de pesquisa. O investimento geral em pesquisa científica somando CNPq, Capes e FNDTC caiu de R$ 13,97 bilhões em 2015 para R$ 5 bilhões neste ano. Em um ano marcado pela crise mundial de Covid-19, a queda orçamentária foi ainda mais notada por pesquisadores, especialistas e, principalmente, pelos brasileiros de modo geral.

“Isso coloca o pesquisador brasileiro numa ‘sinuca de bico’: ou nós ficamos no Brasil, sob risco de não conseguir continuar na área por falta de financiamento e ficamos lutando para conseguir permanecer estudando, ou ocorre a chamada ‘fuga de cérebros’, que é a saída de pesquisadores do país”, conclui Anna.

A situação é preocupante, uma vez que 99% das pesquisas científicas brasileiras são produzidas em universidades públicas. O número foi levantado pela empresa norte-americana Clarivate Analytics, na publicação Pesquisa no Brasil – um relatório para a Capes, de 2018, com dados de 2011 a 2016. O estudo ainda aponta que o país é o 13º que mais produz conteúdo científico no mundo todo: são 250 mil publicações identificadas no portal agregador de dados Web of Science durante o período.

É nesse contexto que o BRaS oferece oportunidades aos acadêmicos de ciências humanas e sociais aplicadas, trazendo notícias sobre o mercado de pesquisa, bolsas e oportunidades de emprego. O centro ainda disponibiliza chamadas para publicação de artigos, textos e resenhas de livros da área, com o intuito de democratizar o acesso à informação e pensar a sociedade de forma crítica.

Para conferir a transmissão do evento na íntegra, acesse o Univirtus e pesquise por “Caminhos para a internacionalização” na aba “Ao Vivo”.

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Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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