Industrialização: será que perdemos o bonde da história?

Autor: Roberto Pansonato*

Sou paulistano de nascimento, mas cresci, estudei, me formei, me casei e tive duas maravilhosas filhas no ABC Paulista. Berço da industrialização no Brasil, principalmente representado pelas indústrias automotivas, hoje o ABC já não tem a pujança industrial do passado. Sem querer ser saudosista, mas é perceptível, em certos aspectos, o enfraquecimento econômico da região. Isso fica mais latente quando observado por mim, um ex-morador do local, há quase 17 anos morando em Curitiba (PR) e longe da região do ABC paulista – essa percepção fica ainda mais aguçada.

No início dos anos 2000, ainda morando no ABC, escrevi um pequeno texto na coluna do leitor de um jornal local a respeito da expressiva quantidade de empresas que estavam deixando a região. Algumas, sendo transferidas para outras regiões do estado ou do país, o que de certa forma seria benéfico para a economia local a absorção dessas companhias e outras simplesmente encerrando suas operações. Essa segunda condição também ocorreu e vem ocorrendo em outras localidades do Brasil, além do ABC paulista.

Não sou economista, mas trabalhei por mais de 37 anos em grandes empresas do setor industrial, em diversas posições e cargos, portanto essa experiência e conhecimento acumulado permitem sustentar minhas percepções.

A indústria, por gerar atividades mais complexas, geralmente paga melhores salários, o que gera uma reação em cadeia nos setores de serviço e comércio, que automaticamente passam a oferecer melhor renumeração. A participação da indústria no PIB nacional despencou para o menor valor desde o início da série histórica do IBGE, em 1947, fechando o ano de 2019 em 11%. Quando se compara o valor agregado de um produto agrícola com um produto manufaturado de média complexidade, por exemplo, a diferença para mais é bem considerável, em relação ao produto industrializado.

Países que optaram por uma estratégia baseada em um processo de desenvolvimento industrial, como a Coréia do Sul e a China, por exemplo, estão proporcionando uma melhor qualidade de vida aos seus habitantes.

Muitos podem até questionar: mas alguns países desenvolvidos não estão gradativamente alternando a participação no PIB da indústria para o setor de serviços? Teoricamente sim, mas esses países já passaram por processo de industrialização robusto e de consequente aprendizado tecnológico, que hoje lhes permitem atuar em serviços de alta complexidade. Entendo que o Brasil, ainda está muito longe de ter alcançado esse estágio de desenvolvimento industrial e de uma forma geral, a maioria dos serviços gerados pela nossa economia ainda se baseia em atividades de baixa complexidade.

Não podemos e não devemos copiar americanos, europeus, japoneses, sul-coreanos ou chineses, mas sim, adaptar as melhores práticas desses países a nossa economia. Já provamos ao mundo nossa competência no agronegócio e temos, sim, algumas indústrias nacionais de excelência que competem palmo a palmo com grandes companhias ao redor do mundo.

Tem uma frase atribuída a Peter Drucker, considerado o pai da Administração Moderna, que diz o seguinte: “Não existem países subdesenvolvidos. Existem países subadministrados”. Acredito que chegou o momento de mostrar a todos nós brasileiros e ao mundo, que essa frase não se aplica ao Brasil.

* Roberto Pansonato é tutor do curso de Logística da Uninter.

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Autor: Roberto Pansonato*
Créditos do Fotógrafo: Kelly Lacy/Pexels


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