1º Congresso Nacional de Humanidades discute ações para um mundo mais saudável
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoA questão da sustentabilidade do planeta exige que se desenvolvam relações humanas saudáveis e conectadas com a melhoria do bem comum. Sendo o ser humano a principal ferramenta para transformar o ambiente em que vive, o primeiro passo é construir um diálogo acerca de nossos desejos e angústias.
Pensando nisso, a área de Humanidades da Escola Superior de Educação da Uninter realizou o 1º Congresso Nacional de Humanidades, com o intuito de promover debate entre as áreas de Filosofia, Sociologia, Teologia Bíblica Interconfessional, Teologia Católica e Ciências da Religião. O evento virtual aconteceu através de transmissões ao vivo, na página de Humanidades e no canal da ESE, no dia 20.nov.2020.
O reitor da Uninter, Benhur Gaio, presente na abertura do congresso, lembra que a instituição está em mais de 600 cidades do Brasil e também no exterior e, portanto, tem um papel fundamental no diálogo e planejamento de soluções que atendam às necessidades locais. Segundo ele, os projetos desenvolvidos pelos estudantes nas regiões de mais difícil acesso podem “interferir positivamente”.
“Estes eventos têm trazido luz para muitas áreas que precisam de encaminhamentos significativos. Isso não é somente discurso, tem muito a ver com a prática de ações necessárias para a interferência em realidades locais”, afirma.
Além de Benhur, o vice-reitor, Jorge Bernardi, a diretora da ESE, Dinamara Machado, e o coordenador de área, Cícero Bezerra, abriram a noite de debate. A professora Valéria Pilão e seus colegas Luiz Rossi e Luís Fernando Lopes também participaram do evento. As palestras foram realizadas por Marcos Araújo, mestre em Teologia e Filosofia, e Rudolf von Sinner, coordenador do programa de pós-graduação em Teologia da PUC-PR.
Dinamara ressalta que momentos como esse fomentam discussões e podem ser o pontapé inicial para estudos e pesquisas importantes, principalmente no contexto atual, em que a ciência tem seu valor reconhecido e a divulgação de informações de qualidade se mostra ainda mais necessária.
Durante o evento, foi lançado o livro Educação a Distância e Humanidades, organizado pelos professores Dinamara e Cícero, distribuído gratuitamente de forma digital.
É possível um diálogo entre as ciências filosófica, sociológica e teológica?
Marcos Araújo faz um resgate histórico e lembra que as discussões sobre filosofia e teologia caminham juntas desde o início, já com Aristóteles, que escreveu um tratado sobre a Filosofia Primeira, posteriormente chamada de metafísica, em que abordava o teos. O professor passa por períodos importantes, cita estudos e pensamentos desenvolvidos por vários filósofos e teólogos, como Tomás de Aquino, Agostinho de Hipona, Fílon de Alexandria, Flávio Josefo e Immanuel Kant.
“O diálogo existe, quer queiramos ou não, quer tenhamos para com ele um apreço ou uma aversão. Há sim um diálogo entre esses saberes. Posteriormente, é claro, a sociologia surge e vem com suas propostas inovadoras, enchendo o diálogo de novidades e grandes desafios”, salienta.
De acordo com Araújo, é Tomás de Aquino quem promove a ruptura no diálogo entre a teologia e a filosofia. O filósofo deixa a responsabilidade de determinar o que é verdade para a Igreja e o fiel fica em situação de submissão ao que ela quer que ele creia.
Nesse contexto, três grandes movimentos ganham destaque: a Renascença, o Iluminismo e a Escola de Frankfurt. Quando se vêm pressionados a não produzir investigação, os estudiosos buscam garantir a autonomia da filosofia, já que ela é “esse uso da razão mais do que a aceitação imposta, de ter que crer de uma maneira específica e isso vir de alguém de fora”, diz Marcos.
A professora Valéria Pilão, da área de Humanidades da Uninter, lembra que há uma área específica, a sociologia da religião, que possibilita e promove o diálogo entre as diferentes áreas dentro dessa discussão.
“Quando a gente traz a religião como objeto de estudo, buscando compreender a realidade, isso sempre vai garantindo uma pluralidade de compreensão, uma vez que são perspectivas distintas. Mas há momentos de proximidade, de negação, de diálogo. E com a sociologia vai acontecer a mesma coisa”, garante.
Araújo traz para o debate o pensamento do teólogo Paul Tillich, que afirma ser necessário descobrir quais são as reais inquietações e ansiedades mais profundas, antes de pregar qualquer coisa. Isso para que a mensagem alcance efetivamente as pessoas.
“É a partir daí que eu creio que o diálogo se mostra necessário e precisa continuar. Se você quer realmente ser um proclamador, você tem que sair do púlpito e entrar na realidade das pessoas, ver o que elas estão vivendo para poder falar o que elas precisam ouvir, isso é importante”, ressalta Marcos.
Os profissionais expuseram esses e outros tópicos sobre o assunto na primeira palestra da noite, com o tema Divergências, convergências e necessidade de continuidade.
Teologia pública em um Estado laico
Um Estado laico não é antirreligioso, pelo contrário. Na teoria, ele não está atrelado a nenhuma religião, mas fomenta, ou deveria fomentar, a pluralidade de crenças. Entretanto, o que se observa no dia a dia é um cenário diferente.
O professor Rudolf von Sinner inclui nestas questões que merecem atenção a inclusão de símbolos religiosos, como o crucifixo e a Bíblia, no meio político e jurídico. As Igrejas também ocupam espaço na sociedade através de arquiteturas, com construções que se tornam monumentos, como o Templo de Salomão em São Paulo (SP) e o Cristo Redentor no Rio de Janeiro (RJ).
A administração de muitos municípios atrela-se publicamente a religiões, produzindo um governo excludente a todos aqueles que não seguem a mesma crença. Os governantes fazem declarações de pacto com divindades, sem a intervenção de nenhuma outra autoridade.
Tendo isso em vista, o professor explica que uma teologia pública “quer refletir sobre a presença e papel das igrejas e da própria teologia no espaço público; analisar a pertinência das diversas formas de tal presença; servir como interlocutora na interface com outras áreas de saber: o poder público, a sociedade civil e as próprias igrejas. Procura praticar, como Jesus, a parrhesia (ousadia) e a kenosis (humildade)”.
Von Sinner diz que há três modelos de teologia, divididos em divulgação, universal e factual. Ainda afirma que não existe apenas uma teologia pública, mas um campo desta área com um guarda-chuva de vertentes que, justamente por isso, enfrentam resistências.
De acordo com uma categorização realizada pelo próprio teólogo, existem quatro tendências atualmente: “A reflexão acerca da cidadania acadêmica da teologia, linha especialmente católica; o resgate da tradição liberal e libertadora do cristianismo frente a fundamentalismos e neopuritanismos; a procura de diálogo com autores contemporâneos sobre a presença da religião e da teologia na esfera pública; e a reflexão sobre contribuições cristãs para a cidadania”.
Esses e outros assuntos acerca do tema Teologia pública em um estado laico: uma análise crítica foram discutidos na segunda palestra da noite, realizada por Rudolf von Sinner.
Para encerrar o evento, os profissionais convidados e professores da Uninter debateram sobre o tema Teologia, filosofia e sociologia: diálogos orgânicos, em uma mesa-redonda. A transmissão segue disponível para acesso, através da página de Humanidades e canal da ESE.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Mrexentric/Pixabay